Ao mesmo tempo do Paris-Nice, o World Tour continua por terras transalpinas com a “Corrida dos Dois Mares”, que será mais um grande teste para os melhores do Mundo em direcção a outros grandes objectivos.
Percurso
Etapa 1
O Tirreno-Adriatico começa com um clássico, partida e chegada em Lido di Camaiore. A jornada não é totalmente plana, tem 3 passagens por uma subida de 2,7 kms a 7,4%, mas estão todas a mais de 95 kms da meta. Costuma ser palco de um contra-relógio colectivo, no ano passado foi excepção, com triunfo de Pascal Ackermann.
Etapa 2
Os puncheurs têm aqui uma excelente oportunidade, com 2300 metros de acumulado e uns 100 kms finais bastante complicados e ondulados. Há algumas colinas bem duras, que podem ser palco de ataques, mas tudo pode ser decidido na parte final em Chiudino. São 7500 metros a 3,6% em que os 1500 metros finais são os mais difíceis, com 6,2% de inclinação média.
Etapa 3
Uma jornada aparentemente para sprinters, mas terá de ser mais do que um puro sprinter para vencer. O desnível acumulado é praticamente de 3000 metros ao longo de 220 kms, portanto e a subida mais dura está a ser de 80 kms para a meta, com 4,4 kms a 7,5%. A partir daí o terreno favorece novamente os homens rápidos, mas com algumas colinas. A última parte é novamente mais ondulada, com 1700 metros a 3,1% e 500 metros a 5,3% dentro dos 5 kms finais.
Etapa 4
Entrada da alta montanha na prova, com 2 subidas bem longas compactadas em 150 kms. Primeiro o Passo Capannelle, com 13,8 kms a 4,5% e para finalizar o Prati di Tivo, com 14,7 kms a 7%, uma ascensão bastante regular para puros trepadores.
Etapa 5
Uma tirada típica do Tirreno-Adriatico, sobe e desce constante na 2ª metade com um circuito duríssimo, em edições anteriores já tivemos bastante espectáculo em etapas deste género. O circuito é em Castelfidardo e tem 1,5 kms a 10,1% (onde a maioria das movimentações deve acontecer), 0,6 kms a 8,1%, 1 km a 4,8% e 3 kms a 3,6% a coincidir com a linha de meta. Ao todo são 4 voltas a este circuito.
Etapa 6
Os sprinters têm uma motivação para continuarem em prova, com uma etapa ao seu jeito praticamente a finalizar. Ainda assim pode haver motivos para animação, o circuito final, com 4 voltas, tem uma subida com 2 kms a 4,1%, incluindo 600 metros a mais de 6%. A última passagem por esta dificuldades está a 8 kms da meta.
Etapa 7
Para finalizar não é surpresa nenhuma, um contra-relógio individual de 10,1 kms em San Benedetto del Tronto, um traçado de ida e volta com 10,1 kms totalmente planos.
Tácticas
No papel há 3 etapas absolutamente decisivas, a 4ª, 5ª e 7ª, sendo que apenas na 5ª deverá ser muito importante ter um bloco forte e bastante astúcia táctica. Tendo em conta o bloco que a Ineos tem, é claramente o mais forte para a montanha, e considerado que Bernal está em grande forma é de esperar que a formação britânica controle tudo no Prati di Tivo. Na nossa opinião a estratégia deve ser ligeiramente diferente e devem ser resguardados mais 2 ciclistas (talvez Sivakov e Martinez) de modo a terem mais possibilidades em aberto na 5ª jornada, podendo até usar esses ciclistas para marcar ofensivas. Por outro lado a Ineos também sabe que tem de afastar Alaphilippe da luta e para isso é necessário um ritmo muito elevado na chegada em alto e a Bahrain-Victorious de Mikel Landa pode ser uma aliada muito interessante.
Favoritos
O que Egan Bernal, um trepador, fez na Strade Bianche foi deveras impressionante. O colombiano foi o único a conseguir acompanhar minimamente Alaphilippe e van der Poel no último sector de sterrato e este percurso até é bom para ele, com a chegada em alto e o contra-relógio onde se defende muito bem. Será o regresso às vitórias de Bernal?
Tadej Pogacar pretende continuar aqui a senda vitoriosa em provas por etapas. Na Strade Bianche também esteve muito bem e vem em excelente condição física do UAE Tour. Pogacar tende a ser mais explosivo do que Bernal, o que será bom para a 5ª etapa, mas deixar o esloveno para trás na chegada em alto será algo muito complicado. Irá precisar que Formolo e Majka estejam perto do seu melhor nível.
Outsiders
No Chalet Reynard, a Ineos não conseguiu abrir grande espaço para Julian Alaphilippe, os 14 kms a 7% do Prato di Tivo estão mesmo no limite do campeão mundial, a etapa tendo menos de 150 kms é bom para ele. Depois Alaphilippe é um perigo à solta na etapa 5, e também há mais 1 ou 2 chegadas onde é bem possível que bonifique. Será um jogo de gestão de segundos, caso Alaphilippe venha com ideias da geral.
Jakob Fuglsang arrancou a época de um modo mais suave do que em anos anteriores, ainda assim já mostrou estar bem, falhando por pouco o movimento vencedor no passado fim-de-semana. Esta é uma corrida onde Fuglsang já foi muito feliz e o traçado assenta-lhe que nem uma luva, especialmente aquela 5ª tirada.
No papel este é um excelente percurso para o vencedor do ano passado Simon Yates. Um ciclista bastante explosivo e sempre um perigo em provas de 1 semana, mas que não vem com grande equipa para o ajudar e vem com pouco ritmo competitivo. Terá de confiar em Andrey Zeits e Robert Stannard.
Possíveis surpresas
Quase de certeza que Mikel Landa irá andar entre os melhores, mostrou nas clássicas italianas que as pernas já estão lá. No entanto, é pouco explosivo para a 5ª etapa e não vemos nenhum cenário em que Landa possa vencer, o top 5 é bem possível. Na Bahrain também é preciso destacar Pello Bilbao, um ciclista mais explosivo, muito consistente, mas mais débil do que Landa nas chegadas em alto, fez uma excelente Strade Bianche. João Almeida será a alternativa a Julian Alaphilippe caso o francês quebre na alta montanha, o ciclista português deve ser protegido nesse dia e a Quick-Step também gostará de ter 2 ciclistas entre os primeiros para a 5ª etapa. Sergio Higuita é um nome a ter em conta, o colombiano defende-se bem no contra-relógio e já tem excelentes resultados em provas de 1 semana (3º no Paris-Nice, 2º na Volta a California). O 11º lugar do UAE Tour é enganador, ficou nas bordures do 1º dia e acabou a trabalhar para Neilson Powless. Como já referimos a equipa da Ineos Grenadiers é ridiculamente forte, entre Geraint Thomas e Daniel Martinez têm uma excelente alternativa caso aconteça alguma coisa a Egan Bernal. A Israel Start-Up Nation vem com 2 ciclistas perfeitamente capazes de top 10 em Michael Woods e Dan Martin, o problema é que são muito maus no contra-relógio, e o mesmo se aplica a Nairo Quintana, todos já mostraram ter boas pernas este ano. Patrick Konrad irá liderar a Bora-Hansgrohe, tendo o top 10 como objectivo, será muito complicado alcançar mais do que isso. Wout van Aert é uma caixinha de surpresas e nunca se sabe aquilo que o belga pode fazer. Todo o percurso é ideal para si, com excepção da chegada em alto onde, no Tour do ano passado já demonstrou que consegue subir muito bem, algo que não acreditamos nesta fase do ano. Por fim, olho em 3 ciclistas bastante conceituados, mas que ainda parecem estar longe da sua melhor forma: Vincenzo Nibali, Romain Bardet e Thibaut Pinot.
Super-Jokers
Os nossos Super-Jokers são: Davide Formolo e Simon Carr