Está de regresso o World Tour! Pela primeira vez desde 2020, o pelotão internacional viaja até à Austrália para a abertura oficial da temporada. Com um percurso diferente do habitual, o leque de candidatos é maior.

Percurso

Prólogo

Uma das inovações no traçado deste ano, não há memória de tal coisa em anos recentes. São 5500 metros nas ruas de Adelaide com uma orografia simples, mas repletos de curvas, beneficia ciclistas explosivos.




1ª etapa

Tanunda recebe o início e o final da jornada, que conta com 5 passagens pelo Menglers Hill, 4 delas pela mesma vertente, a última delas fica já dentro dos 15 quilómetros finais. O desnível não é imenso, 1700 metros, e a subida de Menglers Hill é acessível. São 4500 metros a 3,7% de inclinação média, em que apenas os 500 metros finais têm cerca de 7%.

 

2ª etapa

Tradicional chegada a Victor Harbor, com um percurso que pode causar surpresas. Ainda assim, só com uma corrida super atacada não deverá haver sprint ainda com alguma gente. Parawa Hill (3 kms a 6,9%) ainda está bem longe da meta, as diferenças terão de ser feitas em Nettle Hill, que está a 22 kms do final. São 2 kms a 7,7%, em que os últimos 500 metros serão acima dos 11%, o problema é a distância até ao risco de meta e é possível que se organizem perseguições.

 

3ª etapa

Etapa rainha com o tradicional Corkscrew, ou subida a Montacute, mas antes disso há um factor muito importante. Os primeiros 10 quilómetros são sempre a subir nos arredores de Adelaide e há a possibilidade que se formem grupos perigosos já que a jornada é muito curta. No Corkscrew podem-se fazer muitas diferenças, são 2400 metros a 8,9% com um miolo duríssimo de 500 metros a 15%, quebrar aí significa ainda sofrer por mais 1 quilómetro até à descida para Campbelltown. Indo ao histórico desta subida, curiosamente em 2019 até deu sprint em grupo reduzido com triunfo para Daryl Impey, uma surpresa ajudada por vento frontal na subida. Em 2016 outro sprint, desta vez em grupo de 10 com triunfo para Simon Gerrans. Por fim, em 2014 Cadel Evans destacou-se na subida para ganhar diante de um grupo de…12 unidades.




4ª etapa

O final em Willunga desta vez é…para os sprinters! Um quilómetro final em ligeira subida, com os metros finais mais empinados que à distância parece mesmo a praia de Caleb Ewan.

 

5ª etapa

Tudo para se decidir no Mount Lofty. A tirada começa com 9 kms a cerca de 4%, antes de entrar no circuito final, a ser ultrapassado por 4 vezes. A subida ao Mount Lofty é feita por patamares e fez 8 kms a 3,1%, a parte mais dura está entre os 5,5 e os 7 kms, com 1500 metros a cerca de 7%. Atenção que são mais de 2000 metros de desnível em apenas 114 kms num pelotão sem ritmo competitivo, pode fazer mossa.

 

Tácticas

O novo traçado do Tour Down Under vem trazer mais imprevisibilidade à corrida, que tradicionalmente era uma batalha entre Richie Porte e alguém que conseguisse bonificar muito bem. Não obstante a superioridade de Porte em Willunga, o australiano perdeu mesmo 2 edições para Daryl Impey, em 2018 e 2019, e este ano não há a chegada a Willunga para fazer diferenças. Como já vimos em cima, a menos que haja alguém muito superior aos restantes, na etapa do Montacute, pode muito bem chegar um grupo de 10/12 à meta. É preciso ver também que nesta fase da época tradicionalmente é vantajoso para os australianos e sul-africanos, ciclista do Hemisfério Sul e para corredores que não são líderes nas Grandes Voltas ou que não tenham grandes objectivos nas mesmas.

Com o prólogo e tantas chegadas em grupos reduzidos que podem acontecer a vantagem é claramente para Ethan Hayter e Michael Matthews, que vão tentar sobreviver às 3ª e 5ª etapas. Há gente que certamente tem de tentar no Montacute, falamos de puros trepadores como O’Connor, Storer, Hindley ou Vine, que podem chegar a essa etapa facilmente com 20/30 segundos de atraso para o líder. Analisando os blocos claramente as equipas que mais apostam nesta corrida são a Ineos e a Jayco.



Creio que a táctica da Jayco é óbvia, tentar colocar Michael Matthews o mais à frente possível e depois cobrir as costas do australiano com Simon Yates. Ao britânico, que não creio está a 100%, basta seguir os ataques e marcar os puros trepadores no Montacute e depois não colaborar com a desculpa que tem Matthews atrás. Deve fazer melhor no prólogo que os outros trepadores. O problema será se Hayter deixar Matthews para trás nessa subida, aí a Ineos tem um bloco fortíssimo e pode ir deixando o ciclista da Jayco cada vez mais distante. A Ineos tem de jogar com as muitas cartas que tem, tendo a noção de que Thomas só deverá vir para trabalhar. Se Hayter chegar na liderança à última etapa muito bem, toca a defender a camisola, se isso não acontecer, é o bloco com mais potencial para colocar todos em apuros no Mount Lofty, com os perigosos Plapp, Sheffield e Thomas, se não estiver muito atrasado. Por isso mesmo, vai ser importante jogar com pinças todos os momentos desta Tour Down Under para a formação britânica, que tem a noção de que Matthews melhorou na montanha recentemente, mas perdeu ponta final.

Uma possível grande aliada da Ineos para colocar a Jayco em apuros poderá ser a UAE Team Emirates. Vine sagrou-se campeão nacional e no final disse que não estava em grande forma e que estava focado noutros objectivos, mas ainda tem Hirschi, Bennett e Covi, que ao melhor nível podem ser uma ameaça muito grande, têm é de correr em equipa.

 

Favoritos

Luke Plapp – Conseguiu defender o título nacional há alguns dias e está em grande forma. É o grande beneficiário da Ineos-Grenadiers ter 3 ou 4 cartas para jogar, porque grande parte das atenções dos rivais estará em Ethan Hayter e a formação britânica já mostrou que em igualdade de forças consegue usar essas armas. Preparou muito bem estes dias e conhece estas subidas como poucos, foi aqui que deu nas vistas pela primeira vez e tem a vantagem de não ter de andar a lutar por bonificações, vai chegar mais fresco ao dia decisivo.



Michael Matthews – Desta vez tem um calendário diferente, habitualmente era Impey que tinha o Tour Down Under como objectivo, e a mudança de percurso é incrível para o australiano. Porque é muito bom em prólogos, porque potencialmente tem alguns sprints reduzidos e porque não há Willunga. É preciso recordar que Matthews defende-se muito, muito, muito bem em subidas com esta extensão, capaz de fazer top 10 na Amstel ou na Fleche e ainda no ano passado ganhou uma etapa do Tour numa fuga em … Mendé.

 

Outsiders

Ethan Hayter – Não podia pedir melhor percurso que este. Será dos melhores no prólogo e dos melhores finalizadores em grupos reduzidos, até eventualmente tem melhor ponta final do que Matthews, também é melhor nas subidas longas do que o australiano, que será melhor que ele nas chegadas empinadas. Resta saber se Hayter está a 100% em termos físicos e o clima australiano não é para todos.

Pello Bilbao – Dos mais consistentes do Mundo em provas de 1 semana, chega a ser surreal o que o basco consegue fazer, ao andar bem o ano todo. Bilbao é capaz de conseguir ir buscar algumas bonificações e nos finais em pequenos topos também é perigoso. Não é daqueles que pode deixar todos para trás numa subida, mas no meio de tanto luta Ineos vs Jayco pode aproveitar e ficar no pódio.



Marc Hirschi – Esta é uma menção um pouco maluca, e está dependente de vermos o Marc Hirschi de 2020. O suíço deu laivos de qualidade no ano passado, o que me convenceu a colocá-lo aqui foram 2 motivos, o potencial que já sabemos que tem pelos resultados que obteve aos 22 anos (tem agora 24) e a ponta final de 2022 que fez, com boas clássicas italianas, talvez isso o tenha motivado de uma forma acrescida para o defeso e para 2023.

 

Possíveis surpresas

Simon Yates – Será que a Jayco trouxe apenas Yates numa tentativa de proteger Matthews? Bom, para isso já tinham Hamilton e Harper, não ao mesmo nível claro, mas são bons gregários. Creio que se Yates está aqui é porque está em boa forma e dá garantias, porque não pensar num contra-ataque do britânico em Corkscrew para colocar todos em cheque? Sem uma grande ponta final, é a única forma de Yates vencer.

Maximilian Schachmann – Um pouco como Hirschi, alguém que não tem estado bem, mas que ao seu melhor nível anda a discutir corridas de 1 semana até com mais montanha do que o Tour Down Under. Também com uma boa ponta final.

Jay Hindley, Ben O’Connor – Têm objectivos maiores mais à frente na temporada, vêm aqui ganhar algum ritmo, porque estão a jogar em casa e o top 10 será o mais realista.

Michael Storer – Fenomenal na DSM, apagado na Groupama-FDJ. Agora adaptado a uma nova realidade pode aproveitar esta corrida para ganhar outra confiança e outro estatuto, é uma enorme promessa e nos seus dias é dos melhores trepadores do pelotão.

Jay Vine – Não deixa de ser uma caixinha de surpresas e pelo que fez no contra-relógio dos Nacionais precisa de ser mencionado. É alguém cujo pleno potencial ainda se desconhece, diz que não está em grande forma e que tem outros objectivos, só que também nunca se pensava que ele fosse ganhar 2 etapas na Vuelta.



Rohan Dennis – Não foi aos Nacionais, portanto a condição física é uma enorme incógnita. Ganhou aqui em 2015 e 4º em 2020, mas na altura tinha outro estatuto na equipa onde estava. A Jumbo-Visma é uma estrutura enorme onde todos parecem atingir a sua melhor versão.

Magnus Sheffield – Escolhi-o como a minha revelação do ano, portanto é uma escolha ligeiramente influenciada. Teoricamente será a 3ª escolha na Ineos, algo que nesta corrida pode ser benéfico. Anda muito bem sozinho e é um especialista em fugas, não tem medo de atacar e pode ficar numa boa posição após o prólogo.

Mikkel Honoré – A saída de Ruben Guerreiro para a Movistar teve o condão de mexer mais no mercado e o escolhido para o lugar do português foi Mikkel Honoré, que tomou a decisão corajosa de sair da Quick-Step para uma posição de liderança numa estrutura menos poderosa. Este é um bom traçado para o dinamarquês, mas não o vejo a fazer mais do que um possível top 5.

Mauro Schmid – 2022 foi muito bom para o suíço, que mostrou a sua versatilidade ao longo de vários meses. Curiosamente a saída de Honoré abre-lhe portas em corridas deste género. É um ciclista corajoso e a melhor carta que a formação belga tem para jogar.

Daryl Impey – Antigo vencedor desta corrida, parece já não ter as pernas para repetir esse feito, no entanto a experiência pode falar mais alto numa altura em que já não será tão marcado.

 

Super-Jokers

Os nossos Super-Jokers são: Robert Stannard e Chris Hamilton.

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