Continuam as movimentações de mercado e após os 2 primeiros dias frenéticos o mesmo acalmou um pouco, ainda assim vamos falar sobre 6 transferências que ocorreram nos últimos dias.
A Cofidis continua a montar o que parece ser uma ProTeam e não uma formação World Tour. É preciso relembrar que a equipa gaulesa está no 17º lugar no ranking 2023-2025, apenas 3 equipas do World Tour estão abaixo dela (Arkea, DSM e Astana), portanto estão completamente na luta pela despromoção. Portanto, seria lógico pensar que talvez contratassem ciclistas que são garantia de alguns pontos e bons resultados, mas isso não está a acontecer, depois de Dylan Teuns (já numa fase descendente da carreira), Sylvain Moniquet e Valentin Ferron (com poucos resultados a nível WT), os últimos anúncios foram de Simon Carr e Damien Touzé, o que demonstra que também não há propriamente uma linha que defina os reforços ou um bloco em concreto a ser reforçado.
Simon Carr assinou um contato válido até 2027 e esteve as últimas 4 temporadas ao serviço da EF. É um trepador que se destaca nas fugas, aliás, ele tem 2 vitórias em 2024, ambas com escapadas vencedoras, no Trofeo Calvia e numa etapa do Tour of the Alps. Na carreira fez 4 Grandes Voltas, só completou 1 e não tem qualquer top 10 em etapa. A Cofidis não tem propriamente um líder para as Grandes Voltas e fala-se na saída de Guillaume Martin, portanto não vai propriamente reforçar esse bloco, deve ser um ciclista ofensivo e só o vão maximizar em termos de pontos (300/400 por época) se optarem por fazer parte do calendário asiático.
Damien Touzé trata-se de um regresso, visto que em 2019 e 2020 o gaulês de 28 anos já tinha integrado esta estrutura. É um ciclista que, no escalão de elites, nunca chegou ao nível que demonstrou em sub-23, com várias vitórias em provas importantes, incluindo a Volta a França do Futuro. Até nem está a fazer uma má época, foi 4º no Tour de la Provence e 8º na Volta a Bélgica, é um corredor bom nas colinas e com boa ponta final, encaixa-se nas contratações tipo destas equipas, há alguma rotatividade entre as formações gaulesas. Na Ag2r nunca conseguiu grande protagonismo e espero um nível semelhante neste regresso à Cofidis, a equipa espera que ele melhore os resultados nas semi-clássicas francesas porque tem perfil para isso.
Por falar em franceses, a Bahrain-Victorious confirmou algo que já se estava a prever, o ingresso do talentoso Lenny Martinez na estrutura e o jovem de 21 anos rubricou um contrato de 3 temporadas, válido até ao final de 2027. Lenny Martinez estava previsto, nos planos a longo prazo da Groupama-FDJ, ser o sucessor de David Gaudu e até de Thibaut Pinot, mas ficou apenas 2 anos na estrutura liderada por Marc Madiot. Havia essa expectativa porque realmente, apesar da tenra idade, já deixou a sua marca, 5 vitórias em clássicas de alguma importância, top 10 na Volta a Catalunha, Strade Bianche e Tour de Romandie, claramente não está contente com a sua gestão de carreira e prova disso foi ter feito o Tour à última hora apesar de não ter efectuado preparação específica para tal. Com esta contratação a Bahrain fica com um tridente de ataque às Grandes Voltas muito perigoso e jovem, Tiberi de 23 anos, Buitrago de 24 anos e Martinez de 21 anos, ajudados pelos experientes Jack Haig, Pello Bilbao e Damiano Caruso.
A INEOS continua o seu mercado enigmático, provando que perdeu muito espaço na luta pelo topo da hierarquia mundial com UAE, Visma e agora até a Red Bull-Bora. A última contratação dos britânicos chama-se Victor Langellotti, um monegasco bem conhecido dos portugueses, visto que ganhou na Volta a Portugal há 2 anos na chegada a Fafe. Langellotti militou na Burgos-BH nos últimos anos e tem melhorado e subido a pulso, de especialista em fugas passou a um sólido trepador e foi 14º na Volta ao País Basco e 10º na Volta a Turquia este ano, sendo que as chegadas mais explosivas é claramente a sua especialidade. É alguém que estando disponível no mercado era lógico ser pretendido por equipas World Tour, só que há uns anos atrás era impensável a INEOS contratar um corredor deste tipo, aos 29 anos. No outro espectro a Visma acabou de recrutar Simon Yates, só para se ter um termo de comparação.
Com um orçamento bem mais reduzido disponível, a Jayco-AIUla apostou em Paul Double e teoricamente este ciclista até se encaixaria melhor na INEOS que Langellotti, um britânico que tem estado muito sólido na alta montanha, tem mostrado uma boa progressão de carreira e até é 1 ano mais novo do que o monegasco. Ao ser 6º na Volta a Eslovénia, 3º na Volta a Turquia, 7º no Giro d’Abruzzo e 11º na Volta à Comunidade Valenciana era apenas uma questão de tempo até uma formação World Tour apostar e dar uma oportunidade a Paul Double e foi a Jayco que o fez, num contrato de 2 anos. É muito provável que Paul Double faça parte de um bloco de apoio a Ben O’Connor na alta montanha nas Grandes Voltas e que, apesar de Plapp, Dunbar e Zana, possa ter uma ou outra chance nas provas de 1 semana.
Ainda na Jayco-AIUla, mantendo o low profile das suas contratações, a equipa australiana anunciou a chegada de Koen Bouwman. Com 30 anos, e depois de uma carreira na estrutura da Visma, o neerlandês irá dar um novo rumo à sua carreira, talvez procurando ter mais oportunidades. Trepador bastante competente, venceu este ano a Settimana Internazionale Coppi e Bartali, no entanto desde que venceu a classificação da montanha e uma etapa no Giro 2022 nunca mais atingiu esse nível. Esperava-se que continuasse a ser uma peça importante no bloco de montanha da Visma mas desde aí apenas esteve presente em mais uma Grande Volta. Com o espaço reduzido, Bouwman decidiu sair e a Jayco aproveitou um ciclista com alguma qualidade, já com muita experiência World Tour e que deverá ter algumas oportunidades, já que o plantel da equipa australiana não é assim tão profundo.