Neste mercado nota-se uma mudança de filosofia na Israel-Premier Tech. Estão de saída vários ciclistas veteranos, entre mudanças de equipa e fins de carreira, e a equipa está claramente a tentar fazer uma renovação um pouco focada nos sprints e na capacidade de somar pontos, de modo a subir novamente ao World Tour daqui a alguns anos.

Contrataram Pascal Ackermann, Ethan Vernon e alguns corredores de apoio, e, nas últimas semanas, anunciaram mais ciclistas rápidos. Hugo Hofstetter está de volta à formação de Sylvan Adams, onde esteve em 2020 e 2021. Tendo somado mais de 1000 pontos UCI ao longo desses 2 anos, foi dos que mais remou contra a maré nessas complicadas temporadas. Saiu para a Arkea-Samsic onde os resultados não foram os desejados e onde perdeu mais espaço com a contratação de Arnaud Demare. Com o presente plantel, será talvez a 3ª escolha para os sprints, continuará a ter algumas oportunidades porque a Israel-Premier tech tem um calendário muito alargado, mas estará longe das principais corridas. Pelas suas características, também não estou a vê-lo a assumir o papel de lançador, é um ciclista pequeno, combativo, que gosta das semi-clássicas belgas.



Por outro lado, creio que Jake Stewart poderá potencialmente fazer esse papel, até quem sabe iniciar uma parceria de muito sucesso com o seu promissor compatriota Ethan Vernon. Stewart tem muita experiência internacional, é um corredor que terminou a sua formação na Groupama-FDJ e que posteriormente subiu ao World Tour com os franceses. Sempre teve os caminhos um pouco tapados, mas ainda deu bem nas vistas em 2022. Somou a sua primeira vitória como profissional, fez alguns top 10 na Vuelta, no entanto em 2023 não mostrou a mesma evolução e o mesmo nível de resultados. Nota-se que é um ciclista que ainda está longe dos melhores nos sprints puros, prefere uma chegada mais dura com um grupo mais restrito. A questão é que Vernon e Ackermann também gostam desse tipo de etapas, creio que foi contratado mais como lançador do que como sprinter.

No outro espectro, para a montanha, foi recrutado George Bennett, ciclista que passou pela Jumbo-Visma e pela UAE Team Emirates, 2 das melhores equipas do Mundo. O neozelandês de 33 anos fez parte de um leque de reforços da equipa de Tadej Pogacar que supostamente iam estar com o esloveno na alta montanha, mas em 2 anos só fez o Tour em 2022 e não terminou a corrida. Foi perdendo protagonismo como gregário para Brandon McNulty, Marc Soler ou até Jay Vine. Agora o caminho é outro, será chefe-de-fila, líder na Israel-Premier Tech e é preciso não esquecer que ainda em 2021 fez 11º no Giro. Será um ciclista que, com um calendário ajustado ao seu perfil, fará 600/700 pontos UCI. Ainda tem mais do que capacidade para lutar pelas corridas com montanha do calendário europeu, como fez este ano na Vuelta a Burgos ou na Volta a Áustria, com o benefício de ser mais protegido do que este ano.



O projecto da Q36.5 parece ser para ficar, supostamente a equipa tem patrocinador garantido até, pelo menos, 2026 e a temporada de estreia foi de grande sucesso. A construção do plantel foi boa, uma boa mistura de experiência e juventude que lhes valeu 6 vitórias e actualmente o 23º posto no ranking UCI. Em princípio não deve haver grandes saídas e já tinham garantido Giacomo Nizzolo e Frederik Frison, 2 nomes sonantes para os sprints e clássicas, respectivamente. Entretanto, anunciaram mais 3 reforços e todos ciclistas interessantes.

Numa formação muito internacional, Rory Townsend vai acrescentar mais uma nacionalidade ao cardápio. O antigo campeão irlandês de estrada assinou por 2 anos, proveniente da Bolton, uma formação australiana. Aos 28 anos, deu claramente um salto qualitativo, venceu uma clássica 1.1 em França, foi 4º na Volta à Grécia e mostrou-se ao andar em fuga nos Mundiais e nos Europeus, visto que ainda não era um ciclista muito conhecido. Em 2024, deve mandar a sua matriz combativa e de trabalho para os colegas, será importante a perseguir fugas também.

Xabier Mikel Azparren é uma aposta de futuro, o espanhol de 24 anos sai da sua zona de conforto na Euskaltel para dar um passo em frente a nível internacional. Campeão nacional de contra-relógio em juniores e sub-23, usou essa especialidade para ser 2º na Volta ao Alentejo em 2022. Ao longo dos últimos meses tem evidenciado algumas pequenas melhorias na montanha, afastando-se um pouco da sua vertente original. Pode aprender com alguns especialistas experientes como Ludvigsson e Rosskopf, que estarão na estrutura em 2024.



Dos 3 reforços que falamos hoje este é o único que vem do World Tour, trata-se do alemão Jannik Steimle. Agora com 27 anos, Steimle começou a carreira profissional na Áustria, e, após uma grande época em 2019, a Quick-Step deu uma oportunidade no World Tour ao germânico. Ganhou logo a Volta à Eslováquia em 2020, no entanto nunca foi uma peça fundamental em qualquer bloco da equipa belga, talvez porque é um corredor extremamente completo. Não passa nada mal a média montanha, tem uma boa ponta final, anda bem no contra-relógio e tem motor para as clássicas. Creio que potencialmente terá bastante liberdade e quem sabe dar bastante nas vistas, um bloco com Steimle, Frison e Devriendt parece-me sólido para atacar muitos top 10’s e pódios em semi-clássicas belgas.

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