As equipas estão a preparar afincadamente a nova temporada e nós não quisemos ficar atrás, fizemos um estágio em altitude para reflectir, activar as bolas de cristal, queimar os doces de Natal e tentar adivinhar o que vai acontecer em 2023 no ciclismo de estrada. Este artigo conta com as previsões do André Antunes (AA), do André Esteves (AE) e do João Crespo (JC), as 3 pessoas que colaboram neste projecto, preparem-se para muitas previsões falhadas e não se coíbam de discordar e dizer as vossas.
Melhor Neo-pro do ano
AA – Romain Gregoire – O jovem francês de 19 anos vai ingressar nos quadros da equipa principal da Groupama-FDJ. Na época passada, venceu etapas no Giro, no Tour de l’Avenir e ainda a Liège-Bastogne-Liège na categoria de sub-23. Em 2021, o corredor sagrou-se campeão europeu de estrada na categoria de juniores. É um corredor versátil, mas tem de melhorar muito no que toca a subidas.
AE – Thibau Nys – O apelido não é estranho para quem segue o ciclocrosse, Thibau é filho do Canibal Sven Nys! Ainda com 20 anos, Nys chega à Trek-Segafredo e caracteriza-se por ser um ciclista bastante rápido e que passa bem as dificuldades. Pouca estrada tem feito, o foco no ciclocrosse tem sido grande (é o atual líder da Taça do Mundo sub-23) mas já foi campeão europeu sub-23 em 2021 e 6º nos Mundiais do mesmo ano e, em 2022, venceu a geral da Fleche du Sud e uma etapa. Deverá ter uma integração gradual, após fevereiro o descanso será fundamental, mas não nos admirávamos de entrar já em grande.
JC – Madis Mihkels – Fiquei muito impressionado com este sprinter da Estónia que está a tentar seguir as pisadas de Kirsipuu. É um ciclista muito rápido e bastante competente a passar as colinas como se viu nos Mundiais sub-23, onde finalizou no 4º posto. A Intermarche foi incrível em 2022 a maximizar os seus recursos e é verdade que Mihkels terá Thijssen e Girmay diante dele, mas confio nas suas capacidades e que vai aparecer em grande em algum momento. Também considerei Romain Gregoire e Leo Hayter, mas estes já estavam em equipas Continentais bem mais conhecidas em 2022.
Confirmação/revelação do ano
AA – Olav Kooij – Foi um ano excelente para Olav Kooij, tendo sido mesmo o elemento mais vencedor da equipa Jumbo-Visma, o que não é tarefa fácil! Estou à espera que em 2023 confirme o seu estatuto e que faça ainda melhor. É um jovem muito promissor, tem capacidade para discutir grande parte dos sprints e de equiparar-se com os melhores velocistas do mundo.
AE – Cian Uijtdebroeks – Não é uma questão de será que vai acontecer mas quando irá acontecer! O belga é um talento dos pés à cabeça, dominou o escalão júnior em 2021 e, no ano que agora acabou, adaptou-se aos elites, foi 3º no Sibiu Tour e 8º na Volta a Noruega e, no grande objetivo do ano, dominou e venceu o Tour de l’Avenir, triunfando em duas etapas de alta montanha. Somente com 19 anos, a BORA-hansgrohe sabe que tem Uijtdebroeks um ciclista para os próximos anos, um homem de provas por etapas!
JC – Magnus Sheffield – Isto é um grande tiro no escuro, mas gostei mesmo muito de ver o norte-americano, agora com 20 anos, a estrear-se pela Ineos-Grenadiers. A formação britânica está a apostar cada vez mais nos jovens talentos e Sheffield consegue fazer quase tudo, apenas não é muito explosivo. Ganhou contra-relógios, ganhou isolado provas em linha, mostrou que até sobe relativamente bem. As minhas alternativas nesta categoria seriam Arensman (ver abaixo) e Gerben Thijssen.
Desilusão do ano
AA – Caleb Ewan – O “Pocket Rocket” não teve o melhor ano em 2022 e a sua equipa acabou mesmo por cair de divisão. Vai participar nas provas importantes do calendário WorldTour, isso é quase certo, mas algo me diz que não vai ser o seu ano. Espero que me surpreenda!
AE – Arnaud Demare – Após um ano positivo, o ciclista francês tem tido temporadas menos boas. 2019 e 2021 foram razoáveis, com 2020 e 2022 a serem muito bons. A pressão está do seu lado, é uma das grandes figuras da Groupama-FDJ. Irá regressar ao Tour, terá um calendário diferente e, um ponto fundamental é a ausência de Roman Sinkeldam e Jacopo Guarnieri, os seus fiéis lançadores. Ganhar confiança num novo comboio demora tempo, pode afetar muito Demare.
Ciclista com mais vitórias em 2022
AA – Remco Evenepoel – O belga não está para brincadeiras e vai querer carimbar mais um grande ano. Agora, como campeão do mundo, vai ter uma motivação extra e mostrar que não acusa o peso e responsabilidade da camisola.
AE – Wout van Aert – Todos sabemos da polivalência de Wout van Aert, tanto ganha ao sprint, como em solitário, num contra-relógio ou até mesmo uma etapa de montanha. A grande questão é: será que o belga consegue transformar muitos dos seus pódios em vitórias? Num bloco da Jumbo-Visma cada vez mais forte, Van Aert tem mais pressão e, também, mais confiança. A temporada de ciclocrosse está a mostrar um corredor muito forte, veremos se passa isso para a estrada.
JC – Tadej Pogacar – Acho que vai estar mais motivado do que nunca e 2022 certamente serviu de aprendizagem nas clássicas e nas Grandes Voltas. Pode vencer em pequenos topos, em chegadas em alto, em grupos reduzidos e anda bem o ano todo, acho que isso lhe pode dar 15/16 vitórias.
Equipa do ano
AA – Jumbo-Visma – Reforçam a equipa todos os anos com contratações de qualidade. A equipa parte mais forte para 2023, na teoria, mas vai ter de comprovar na estrada. O bloco das clássicas está bem fortalecido e as entradas de Wilco Kelderman e Attila Valter são importantes para ajudar os líderes na montanha e nas clássicas acidentadas.
AE – UAE Team Emirates – A intenção clara de se tornarem a melhor equipa do Mundo levou a um maior reforço da mesma, e em várias vertentes. Tadej Pogacar é um faz tudo, tanto pode vencer clássicas do asfalto como do empedrado, bem como lutar pelas provas por etapas e Grandes Voltas, a sua qualidade é inegável. João Almeida, Juan Ayuso e Adam Yates são alternativas para as provas por etapas, sendo nunca esquecer os outros que podem aparecer. Tim Wellens e Matteo Trentin podem fazer uma dupla importante nas clássicas e é mesmo no sprint, com Juan Molano e Pascal Ackermann, que a equipa árabe pode ter mais dificuldade em dominar, mas será sempre capaz de conquistar muitas vitórias.
JC – UAE Team Emirates – Têm 3 excelentes opções para as 3 Grandes Voltas, podem perfeitamente ganhar 1 ou 2 e fazer pódio nas 3, têm mais do que opções para as provas de 1 semana, a entrada de Adam Yates reforça ainda mais isso. Pogacar é, ao mesmo tempo, a principal e quase única opção para as clássicas e já provou que consegue ganhar aí no ano passado e tem Wellens e Trentin para o ajudar na Flandres.
Vencedores das Grandes Voltas
Giro | Tour | Vuelta | |
André Antunes | Remco Evenepoel | Jonas Vingegaard | Tadej Pogacar |
André Esteves | Primoz Roglic | Tadej Pogacar | Enric Mas |
João Crespo | Thymen Arensman | Tadej Pogacar | Juan Ayuso |
Vencedores dos Monumentos
Milano-Sanremo | Tour des Flandres | Paris-Roubaix | Liege-Bastogne-Liege | Giro di Lombardia | |
André Antunes | Wout van Aert | Mathieu van der Poel | Matej Mohoric | Tadej Pogacar | Tadej Pogacar |
André Esteves | Jasper Philipsen | Wout van Aert | Stefan Kung | Julian Alaphilippe | Tadej Pogacar |
João Crespo | Mads Pedersen | Tadej Pogacar | Jasper Stuyven | Wout van Aert | Enric Mas |