As equipas estão a preparar afincadamente a nova temporada e nós não quisemos ficar atrás. Fizemos um estágio em altitude para refletir, ativar as bolas de cristal, queimar os doces de Natal e tentar adivinhar o que vai acontecer em 2024 no ciclismo de estrada. Este artigo conta com as previsões do André Esteves (AE) e do João Crespo (JC), as 2 pessoas que colaboram neste projecto. Preparem-se para muitas previsões falhadas e não se coíbam de discordar e dizer as vossas.

 

Melhor neo-pro do ano

AE – William Junior Lecerf – Longe de ser um nome conhecido, decidi arriscar um pouco com o belga da Soudal QuickStep. Aos 21 anos, e depois de uma excelente temporada nos sub-23, Lecerf sobe ao profissionalismo e numa equipa belga onde a profundidade não abunda poderá ter as suas hipóteses. Trepador muito competente, é, também, um ciclista muito explosivo, prova disso são resultados como 5º no Tour de l’Avenir, 8º no Giro NextGen e vitória na Lombardia sub-23. Acredito que será integrado com um calendário alternativo e isso será fundamental para uma boa adaptação. Considerei Johannes Staune-Mittet mas, devido às diversas provas que já fez com a equipa principal, retirei deste cenário.



JC – Johannes Staune-Mittet – Creio que a saída de Primoz Roglic abre as portas a outros nomes, não obstante a entrada de Cian Uijtdebroeks. O norueguês de 21 anos é uma aposta muito grande da Visma, tem contrato até ao final de 2026 e venceu o “Baby Giro em 2023. A minha expectativa sobre ele incide sobre as provas de 1 semana do World Tour, creio que tem tudo para fazer um calendário semelhante ao de Vingegaard em 2019/2020. Outros nomes a considerar são o “nosso” António Morgado, Archie Ryan, Luke Lampert e Francesco Busatto.

 

Confirmação/revelação do ano

AE – Sam Welsford – Ao contrário do habitual, não irei para um jovem. O australiano tem já 27 anos mas ainda é relativamente novo no World Tour. Depois de dois anos na Team DSM irá estrear-se na BORA-hansgrohe. Um sprinter capaz de ombrear com os melhores, já os derrotou em várias ocasiões, mas que lhe falta a regularidade devido ao seu fraco posicionamento. A aliança com Danny van Poppel, para mim o melhor lançador da atualidade, poderá dar frutos e trazer muitos triunfos e outra regularidade a Welsford.

JC – Soren Waerenskjold – Optei por uma força da natureza. O norueguês de 23 anos e quase 2 metros tem tido uma progressão bastante sustentada depois de no final de 2022 ter sido campeão do Mundo sub-23 de contra-relógio e medalhado na prova de estrada. Em 2023 já brilhou em provas de menor dimensão, mas creio que tem capacidade e potencial para fazer o mesmo em corridas World Tour, quer nas clássicas, quer ao sprint com o seu poderio físico. Está numa equipa que acredita plenamente nele e que precisa dos pontos que ele pode ser, até pode ser apoiado por Magnus Cort. Precisa de fazer uma Grande Volta para ganhar aquela resistência de fundo. Olhei também muito atentamente para Max Poole, Magnus Sheffield e Cian Uijtdebroeks

 

Desilusão do ano

AE – Simon Yates – Posso passar completamente ao lado desta previsão, é sempre um risco enorme num ciclista com tanta qualidade. No entanto, o britânico e regularidade não são palavras que combinem muito bem. 2023 mostrou uma exibição raramente vista de Yates, entre os primeiros nas grandes competições e capaz de manter o nível durante a temporada. 4º no Tour de France e 5º na Lombardia, para não falar das provas de uma semana, são resultados difíceis de repetir. Numa Jayco AlUla onde é líder indiscutível, a pressão será muita e irá falhar nos momentos importantes.



JC – Primoz Roglic – Vou arriscar e vou dizer o esloveno, apesar de gostar muito do esloveno. Acho que é uma transferência onde muita coisa pode correr mal, apesar da Bora-Hansgrohe parecer estar a progredir no campo das Grandes Voltas. Roglic já não vai para novo, aos 34 anos pode começar a perder alguma explosividade e a ser apanhado pelos mais novos nesse departamento, isso poderá significar menos vitórias. É um ciclista que, na minha opinião, não está ao nível de Vingegaard e de Pogacar quando ambos estão a 100% e se isso acontecer no Tour, sair da Visma para “apenas” ir lutar pelo pódio não era o que se esperava. Para além disso é um ciclista que parece ter um íman para quedas e problemas, prevê competir pouco e isso pode custar caro.

 

Ciclista com mais vitórias em 2024

AE – Jasper Philipsen – Torna-se difícil não apontar o sprinter da Alpecin-Deceuninck depois do domínio que teve em 2023. É certo que demorou a engrenar, mas quando arrancou nunca mais ninguém o parou até atingir as 19 vitórias. Neste momento, é o melhor sprinter do Mundo e, com mais um calendário acertado, tem tudo para repetir o feito. É um ciclista que se motiva para os grandes momentos e feitos.

JC – Tadej Pogacar – Volto a apostar no esloveno, que só foi suplantado por Jasper Philipsen em 2023. O belga obteve 19 triunfos contra os 17 de Pogacar muito graças à sua incursão de final de ano à Volta à Turquia. Em 2024 creio que Philipsen será muito mais criterioso nas corridas que vai fazer e não acho que vá ser tão dominador como em 2023 e por outro lado Pogacar vai continuar a competir muito, desta vez vai fazer 2 Grandes Voltas e quem sabe não saia do Giro com 3 ou 4 vitórias em etapa, para além de fazer algumas clássicas e 2 provas de 1 semana em Março, creio que se repetir as 17 vitórias será suficiente para liderar este ranking. O meu Joker para este ranking é … Jonathan Milan.

 

Equipa do ano

AE – UAE Team Emirates – Após terem alcançado o objetivo de ser a melhor equipa do ano no UCI World Ranking, a ambição será repetir esse feito. Com uma enorme profundidade de plantel, a equipa árabe tem mais de duas mãos cheias de ciclistas capazes de conseguir grandes resultados. Nem sempre correm em equipa, mas sim pelos pontos e pelos melhores lugares. Vencer Grandes Voltas é primordial, não o conseguiram em 2023 e será um dos grandes objetivos, tal como juntar mais Monumentos. As vitórias vão surgir naturalmente devido à enorme qualidade do plantel.



JC – UAE Team Emirates – Creio que a corrida voltará a ser entre Visma-Lease a Bike e UAE Team Emirates. Quero acreditar que com a saída de Roglic a Visma fique ligeiramente mais enfraquecida. Ao mesmo tempo espero que a UAE Team Emirates tenha aprendido com alguns erros e que Juan Ayuso e João Almeida tenham dado mais um passo em frente na sua evolução e aprendizagem. Tal como este ano, muito dependerá do que se vai passar nas Grandes Voltas.

 

Vencedores das Grandes Voltas

Giro d’Itália Tour de France Vuelta a Espanha
André Esteves Tadej Pogacar Jonas Vingegaard Jonas Vingegaard
João Crespo Tadej Pogacar Jonas Vingegaard Jonas Vingegaard

 

Vencedores dos Monumentos

Milano-Sanremo Tour de Flandres Paris-Roubaix Liege-Bastogne-Liege Il Lombardia
André Esteves Mads Pedersen Mathieu van der Poel Wout van Aert Remco Evenepoel Tadej Pogacar
João Crespo Caleb Ewan Mathieu van der Poel Jasper Philipsen Tadej Pogacar Primoz Roglic

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