Com a temporada em pleno andamento é hora de vermos como estão as complicadas contas para o acesso ao World Tour em 2023. Este ranking do triénio 2020-2022 está a ter uma influência muito grande nas corridas, particularmente no calendário das principais figuras das equipas envolvidas na batalha pela manutenção. Estrategicamente é mais proveitoso levar o melhor alinhamento às clássicas e colocar 2 elementos no top 10 do que lutar por etapas e apostar num ciclista no top 5. De recordar que fizemos um artigo sobre esta temática nos primeiros meses do ano, onde explicamos alguns dos aspectos envolvidos e como o sistema funciona. Podem ler esse artigo aqui



Neste momento, com a actualização feita esta Segunda-Feira os rankings estão da seguinte forma:

Se a época acabasse hoje ficariam fora do World Tour em 2023 (caso todas as equipas no top 18 quisessem a licença e reunissem as condições financeiras para tal) Israel-Premier Tech e Lotto-Soudal. A primeira equipa acima da “linha de água” é a Cofidis, ainda com alguma margem e na lista de equipas que “têm de estar atentas” estão Bike Exchange, Movistar, EF Education-EasyPost e Intermarche-Wanty-Gobert. A Arkea-Samsic está a realizar uma temporada tão boa que apenas UAE Team Emirates e Jumbo-Visma têm mais pontos em 2022, o que os colocou praticamente no World Tour em 2023, muito graças a uma estratégia perfeita para conseguir maximizar os pontos. Vamos então ver ao detalhe como estão as 3 equipas mais envolvidas na luta e posteriormente abordar as 4 formações na “zona de perigo”.

 

Lotto-Soudal

Até estão a fazer uma época razoável (13º lugar do ranking anual), mas precisam de um pequeno milagre para se salvarem. O principal líder da equipa, Caleb Ewan, tem 272 pontos contra…660 de Arnaud de Lie, um jovem de 20 anos que já ganhou 3 clássicas este ano. O australiano é considerado um dos melhores sprinters do Mundo há alguns anos, mas nunca foi muito consistente, algo que é crucial para este ranking. Dá garantias de vitórias nos dias sim, mas de poucos ou zero pontos nos dias não e não é isso que a formação belga precisa.



Tim Wellens esteve em grande plano em Janeiro e Fevereiro, mas depois desapareceu e Victor Campenaerts apostou forte nas clássicas. Apesar de parecer várias vezes em grande condição física, fez algumas escolhas tácticas questionáveis e com mais frieza e sorte poderia ter somado muito mais pontos. As escolhas de calendário também não foram as mais felizes, provavelmente Caleb Ewan sairá da Turquia com menos pontos do que se ganhasse uma clássica 1.1, até parece que os responsáveis da Lotto-Soudal não leram os regulamentos destes rankings.

Em relação ao futuro, esta Volta a Turquia será muito importante e os pontos somados esta semana irão retirar ou colocar ainda mais pressão na Lotto-Soudal. Não só Ewan precisa de fazer pódio em todas as chegadas ao sprint como Harm Vanhoucke precisa de ficar entre os primeiros na geral, algo que ficou mais facilitado com o atraso de Nairo Quintana. Arnaud de Lie está a descansar um pouco e quando voltar precisa de manter a forma.

 

Israel-Premier Tech

Estão no 20º lugar no ranking do triénio e no 19º posto no ranking de 2022. Está a ser uma época para esquecer e estaria a ser ainda pior não tivessem contratado Simon Clarke, que é o 2º ciclista da equipa com mais pontos (360), apenas menos 10 que Giacomo Nizzolo (por causa de 3 top 5 em clássicas), e mesmo assim as coisas não estão a correr de feição ao sprinter italiano.

O que tem falhado? Nem vamos falar de Chris Froome, porque sobre ele não havia qualquer expectativa, mas Michael Woods tem tido problemas de saúde que o têm impedido de discutir algumas corridas que até iam de encontro às suas características. Em 4 provas por etapas que começou apenas acabou 2 delas e noutra fez somente 13º. O explosivo canadiano tem a Fleche Wallonne e a Liege-Bastogne-Liege como grandes objectivos, o problema é que a preparação bastante conturbada e não parece chegar a esta fase a 100%. Jakob Fuglsang tem estado muito longe do nível a que nos habituou na Astana, faz uma ou outra exibição de qualidade, bastante aquém do que a equipa precisa. Entre lesões, quedas e COVID-19, Sep Vanmarcke tem sido … Sep Vanmarcke, nem 25 pontos somou este ano, ele que tem sido um dos abonos de família.



Este mês será muito difícil face às rivais visto que Woods e Fuglsang não parecem capazes de acompanhar o grupo de elite nas Ardenas e mesmo que tenha pernas para isso Woods tem problemas de posicionamento neste tipo de provas.  A equipa precisa de atacar as clássicas  do Europe Tour e precisa de resultados de ciclistas experientes e normalmente confiáveis como Daryl Impey, Mads Wurtz ou Tom van Asbroeck.

 

Cofidis

Espectaculares até ao momento, estão no 9º posto do ranking anual e só assim estão acima de linha de água. Curiosamente o corredor com mais pontos somados até estava semana não era um dos teóricos líderes mas sim… o alemão Max Walscheid, que teve um período excepcional nas clássicas, tão importantes para este ranking. No entanto, os 370 pontos conquistados por Ion Izagirre na Volta ao País Basco valem ouro e o espanhol soma agora 620.

Coquard parecia em tão boa forma, mas não conseguiu materializar isso em resultados e pontos, é apenas o 5º dentro da equipa, inclusivamente atrás de Simone Consonni, que tem sido bastante regular ao longo do ano. Guillaume Martin continua o seu caminho de afirmação e também tem mais de 500 pontos enquanto os triunfos em solo francês de Benjamin Thomas, Anthony Perez e Axel Zingle foram cruciais para este total de pontos.  Daqui para a frente alguns resultados vão começar a “ir para o lixo”, porque apenas os 10 ciclistas mais pontuados entram para o ranking colectivo e o 10º que é Victor Lafay já tem mais de 100 pontos. Por exemplo, o 6º lugar obtido por Kenneth van Bilsen na Scheldeprijs valeu 70 pontos e de momento não entra para estas contas, na prática é quase como se não tivesse existado para esta luta a não ser o facto de ter tirado pontos a possíveis rivais.



As clássicas das Ardenas não são um período fácil porque a Cofidis não tem grandes especialistas, mas veremos o que Guillaume Martin e Ion Izagirre conseguem. O grande foco a nível interno estará nas clássicas francesas de 15 e 16 de Abril que distribuem muitos pontos.

 

Team BikeExchange-Jayco

A formação australiana parece estar em negação e o 17º posto no ranking de 2022 encaminha-os para uma zona potencialmente perigosa. E não fosse o incrível Paris-Nice de Simon Yates e a regularidade ao mais alto nível de Michael Matthews nas clássicas e estariam em problemas ainda maiores. Dylan Groenewegen é parecido a Caleb Ewan no sentido de obter algumas vitórias, mas mostrar muita inconsistência nos sprints e Kaden Groves está a fazer uma temporada fenomenal, o problema é que no actual sistema de pontuação isso vale apenas 133 pontos, não obstante 2 vitórias e mais 7 pódios. Só que foram todos obtidos em provas por etapas, se tivessem sido em clássicas o jovem australiano provavelmente teria 5 ou 6 vezes mais pontos. Se Yates e Matthews continuarem sem grandes problemas de saúde deverão estar a salvo.

 

Movistar

A Movistar é apenas 16ª em 2022. Enric Mas estava a caminho de muitos pontos tanto no Tirreno-Adriatico como na Volta ao País Basco, mas em ambas as corridas caiu e hipotecou essas hipóteses. Alejandro Valverde começou muito bem a época e é graças a ele que os comandados de Eusebio Unzue não estão ainda piores no ranking. O “Bala” tem 735 pontos, praticamente um terço do total da equipa, o 2º melhor é Ivan Garcia Cortina, com 284 pontos. Dentro do possível as clássicas nem foram más para a Movistar, com Garcia Cortina e Aranburu a somarem entre eles quase 500 pontos, para além do 4º posto de Max Kanter na Milano-Torino. Poderiam facilmente ter mais 300 ou 400 pontos não fossem as 2 quedas de Enric Mas.



 

EF Education-EasyPost

A pior equipa World Tour de 2022, inclusivamente têm menos pontos que a Astana. Entre Michael Valgren e Alberto Bettiol, 2 especialistas em clássicas e ambos com grandes vitórias neste tipo de corridas, fizeram 250 pontos, o que é manifestamente pouco para uma equipa que aposta também em Março e Abril. Em jeito de comparação a Movistar fez praticamente o dobro. É verdade que houve alguns problemas de saúde, mas isso todas as equipas tiveram, é urgente que os líderes para as provas por etapas (Hugh Carthy, Rigoberto Uran e Esteban Chaves) comecem a apresentar resultados de valia. Veremos também se a equipa não opta por enviar Ruben Guerreiro ou Magnus Cort a algumas clássicas do Europe Tour à procura de pontos. Em 2022 Arnaud de Lie, da Lotto-Soudal, tem sozinho quase tantos pontos como a EF Education Nippo toda (660 contra 864).

 

Intermarche-Wanty-Gobert

Começaram a época da luta pela manutenção e está a ser espectacular acompanhar a subida nos rankings, estão bem encaminhados para continuarem no World Tour em 2023. Toda a equipa está a ser eficaz e a andar bem, prova disso é que os 90 pontos de Georg Zimmermann nem sequer dão para estar no top 10 interno. Os abonos de família foram claramente Alexander Kristoff e Biniam Ghirmay nas clássicas, que juntos fizeram mais de 1700 pontos, ou seja o mesmo de Astana e EF juntas! Teoricamente vão ter mais dificuldades nas provas por etapas, mas vão continuar realistas e a apresentar bons alinhamentos nas clássicas europeias. Kristoff vai continuar a fazer muitos pontos com a sua consistência e parece-nos que com quase 2000 pontos para a Lotto-Soudal estarão a salvo.




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