26 de Setembro de 2002. À partida da 18ª etapa da Vuelta, com chegada ao Alto de la Covatilla, 2:16 separavam os 5 primeiros da classificação geral (Roberto Heras, Aitor Gonzalez, Oscar Sevilla, Joseba Beloki e Iban Mayo). Esta era a última etapa de alta montanha, pela frente havia ainda um contra-relógio de 41 quilómetros no último dia, que teoricamente favorecia Aitor Gonzalez.
Um ano em que a Milaneza-MSS estava a correr a Vuelta e tinha Claus Moller, Fabian Jeker e Rui Sousa no top 15. O que aconteceria neste dia ninguém estava à espera. É necessário dar contexto a mais um aspecto, Gonzalez e Sevilla eram da mesma equipa, a Kelme, o líder escolhido pela equipa era Sevilla, mas Aitor Gonzalez já tinha desrespeitado ordens de equipa, escapando-se com Roberto Heras no Angliru, quando Sevilla estava de amarelo!
A US Postal, de Roberto Heras, trabalhou o dia todo para o espanhol e ficou sem elementos de trabalho no início da subida final. Para surpresa de todos assumiu a frente da corrida a Acqua & Sapone, por intermédio de Miguel Angel Perdiguero, Ruben Lobato e Santos Gonzalez. A equipa italiana não tinha ninguém sequer no top 20 da geral, estava apostada em ganhar a etapa? Perdiguero, Lobato e Santos Gonzalez tinham uma amizade bastante conhecida e duradoura com Aitor Gonzalez, será que estariam a trabalhar para o seu amigo? Nada fazia sentido!
Mal chegaram as rampas duras Perdiguero começou literalmente a sprintar, parecia que estava a lançar Roberto Heras num sprint de 200 metros e momentos depois saiu o ataque do camisola amarela. Perdiguero abriu para o lado e nunca mais se viu na transmissão, sendo obviamente questionado sobre o seu trabalho no final da etapa. Com todo o descaramento possível disse que se sentiu com pernas para ganhar a etapa, daí todo o trabalho dele e dos seus companheiros.
Na verdade, nenhum deles tinha hipóteses de ganhar a etapa, Santi Blanco seguia na frente da corrida com alguns minutos de avanço. Perdiguero voltou a ser questionado dias depois sobre o sucedido. “Creio que fiz um favor ao Aitor, sabia que ele estava muito forte e que não ia perder a Vuelta em La Covatilla”, mencionou apesar da alta montanha ser o terreno predilecto de Roberto Heras.
Heras abriu espaço para Aitor Gonzalez, mas o ciclista da Kelme conseguiu a muito custo voltar a colar, só que o segundo ataque de Heras foi definitivo. Sevilla ficou com o seu colega de equipa momentaneamente (apesar da traição de Gonzalez no Angliru) e depois chegou a deixá-lo para trás. A 1 km da meta voltou a esperar por ele, falou-se em ameaças do director-desportivo.
Santi Blanco ganhou a etapa (o único resistente da fuga) e Roberto Heras ganhou 37 segundos a Aitor Gonzalez, margem que viria a ser manifestamente insuficiente, já que o ciclista da Kelme venceu o contra-relógio final, colocou 3:22 sobre Heras e conquistou a Vuelta 2002 com mais de 2 minutos de avanço sobre o corredor da US Postal Service.
Ainda assim, este dia fica na história pela “traição” dos 3 supostos amigos de Aitor Gonzalez, que foram chamados de mercenários. Fora de competição os 4 eram conhecidos por “banda de la toalla”, depois deste episódio ficaram denominados de “Banda de la Covatilla”.
Pode rever a última hora desta polémica corrida aqui:
Declarações de Miguel Angel Perdiguero retiradas de www.vice.com