A prova de estrada destes campeonatos australianos tinha uma conjuntura semelhante à das anteriores, uma Mitchelon-Scott muito forte, e com superioridade face aos restantes blocos, em número ou qualidade. A pressão estava do lado da Mitchelton-Scott, até porque nos últimos 5 anos só tinham conquistado 1 título, através de Alex Edmondson em 2018, nas outras edições algo tinha corrido mal.
A estratégia este ano foi colocar corredores nas várias fugas que foi havendo, primeiro Lucas Hamilton, depois Nick Schultz. Seria este segundo movimento que iria marcar em parte a corrida, com Nick Schultz, Marcus Culey e Jason Lea a entrarem nas 5 voltas finais, de um total de 16, na frente. Tinham 1:15 sobre o pelotão liderado pela Bridgelane.
Na volta seguinte a Mitchelton partiu a corrida, Cameron Meyer e Callum Scotson atacaram e levaram com eles Nathan Haas, Jay McCarthy, Chris Harper, Michael Freiberg e Luke Durbridge. Meyer e Durbridge eram as apostas da equipa e atacavam à vez, levando os restantes a perseguir de imediato.
Na penúltima volta havia 9 na frente, com 3 elementos da Mitchelton e foi Lucas Hamilton a obrigar os adversários a desgastar-se. Hamilton foi apanhado à entrada da última volta e foi aí que surgiu o movimento decisivo da corrida. Cameron Meyer, um excelente contra-relogista, arrancou e nunca mais lhe puseram a vista em cima, até porque não houve colaboração entre Haas e McCarthy, Durbridge e Hamilton recusavam-se a perseguir o colega, Culey e Harper sentiam dificuldades.
A vantagem de Cameron Meyer foi crescendo e na meta era de 56 segundos sobre o seu colega Lucas Hamilton, uma ajuda preciosa durante toda a prova. A grande surpresa foi Marcus Culey, um ciclista relativamente desconhecido e que ficou com a medalha de bronze, a representar a Team Sapura Cycling, ele que ganhou recentemente o Tour of Selangor, na Malásia.
Este foi um triunfo de emoção e raiva para Cameron Meyer, um título que ele ambicionava há mais de 1 década e que finalmente conseguiu em 2020. “Foram uns longos 12 anos. Apaixonei-me por este evento e estive tão perto tantas vezes.” De referir que Cameron Meyer foi 2º em 2016 e 3º em 2019, perdendo para improváveis vencedores, e que viu o seu irmão, Travis Meyer, vencer em 2010. “É um peso de 12 anos que sai dos meus ombros. No ano passado estava muito emocionado porque pensei que o título iria ser meu, portanto agora não consigo esperar para vestir a camisola”, mencionou Meyer em lágrimas no final da prova. De realçar que Meyer é o terceiro ciclista na história do ciclismo australiano a juntar o título de estrada ao de contra-relógio, juntando-se a Jonathan Hall e Luke Durbridge.
A vertente feminina também viu uma exibição perfeita da Mitchelton-Scott. Ao ataque desde cedo, a movimentação decisiva fez-se logo à 3ª volta, quando ao duo da equipa australiano Amanda Spratt e Gracie Elvin se juntou Justine Barrow. O trio de ciclistas trabalhou muito durante toda a corrida, com destaque para Elvin, deixando tudo na estrada em prol da sua líder. Na penúltima passagem pelo Mount Buninyong, Elvin ficou, naturalmente, para trás e o título decidiu-se entre Spratt e Barrow. Foi já dentro dos 500 metros finais que tudo ficou resolvido. Amanda Spratt surpreendeu a ciclista de 40 anos, atacou sem resposta imediata, fugindo para o 3º título nacional da carreira, após 2012 e 2016. Barrow ficou com a prata e Elvin com o bronze.