Este defeso do mercado de transferências no ciclismo de estrada masculino foi, globalmente falando, particularmente calmo e até pouco impactante. Dos 30 primeiros no UCI Ranking apenas 3 mudaram de ares, falamos de Ben O’Connor, da Decathlon-Ag2r para a Jayco, Marc Hirschi, da UAE Team Emirates para a Tudor e de Jhonatan Narvaez, da Ineos-Grenadiers para a UAE Team Emirates. Diria mesmo que as movimentações mais sonantes foram de ciclistas que não tiveram grandes épocas, falo de Julian Alaphilippe, da Soudal-Quick Step para a Tudor e de Simon Yates da Jayco para a Visma-Lease a Bike, para além da mudança habitual dos jovens mais promissores para o World Tour.
No entanto, no lado feminino foi o completo oposto, uma dança das cadeiras quase inédita nos últimos anos. Como o World Tour feminino tem menos equipas e o calendário é mais curto, os plantéis também têm menos corredoras é mais fácil fazermos esta análise quase equipa a equipa, mesmo sabendo que muitas plantéis ainda não estão completos. A Roland foi a pior equipa do ranking UCI e até agora não se conhecem reforços, a Uno-x aposta em Linda Zanetti e Ingvild Gaskjenn (5ª nos Europeus e 3ª na Amstel Gold Race) para tentar a manutenção.
A AG Insurance-Soudal aposta em Urska Zigart, uma pura trepadora e em 2 sprinters, Gladys Verhulst e Alexandra Manly, uma boa compensação por ter perdido Ally Wollaston. A Human Powered Health mudou praticamente metade das ciclistas, com as saídas de Zanetti, Christie ou Cordon-Ragot a formação norte-americana elegeu Thalita de Jong (21ª no Ranking UCI), ela que foi uma das grandes surpresas da temporada, e Kathrin Schweinberger, uma boa finalizadora que terminou o ano no 36º lugar do Ranking, isto é um acréscimo de qualidade muito grande para esta estrutura. A Movistar tem um dos projectos mais consolidados, dos principais nomes só perdeu Emma Norsgaard e foi buscar Marlen Reusser. A suíça de 33 anos, 3 vezes campeã europeia de contra-relógio, estava muito tapado na SD-Worx e claramente a Movistar confia nela para lhe dar um contrato de 3 anos. A formação espanhola confiou também na melhor ciclista brasileira da actualidade, Ana Vitória Magalhães e no talento de Cat Ferguson, a campeã mundial de estrada e contra-relógio júnior este ano.
A Fenix-Deceuninck ainda não tem nenhuma saída confirmada e apenas 1 corredora que foi promovida da equipa de desenvolvimento. A LIV-Jayco é das formações que aparentemente ficou a perder com as saídas de Manly, Zigart e Gaskjenn, a equipa acredita em Monica Colonel (jovem de 25 anos que fez uma belíssima primeira temporada como profissional), Amber van der Hulst e Josie Talbot. A Ceratizit-WNT mudou por completo o elenco e fez uma aposta integral na juventude, neste momento tem 8 ciclistas confirmadas para 2025, todas abaixo dos 25 anos, é um virar de página também com as saídas de Lach, Fidanza ou Schweinberger.
Na FDJ-Suez há mudanças importantes com as partidas de Uttrup Ludwig, Grace Brown ou Gladys Verhulst, só que os reforços não se ficam atrás com a super regular Elise Chabbey, a trepadora gaulesa Juliette Labous e ainda a sprinter Ally Wollaston. Resta saber se ainda será confirmado o tal rumor de que também Demi Vollering estaria quase a mudar-se para a equipa francesa, isso seria um completo game changer. Na Visma-Lease a Bike as saídas de Riejanne Markus e Anna Henderson prometem deixar mossa. A francesa Pauline Ferrand Prevot é o reforço mais sonante aos 32 anos, campeã do Mundo de estrada em 2014 e de Gravel em 2022 numa aposta mais alternativa que também recai na jovem Marion Bunel, de 20 anos, que ganhou a Volta a França do Futuro. Martina Fidanza tem um perfil semelhante a Anna Henderson. Wolff e Chladonova são 2 perfis para evoluir.
A UAE Team ADQ deixa sair Bujak, Consonni e Harvey para ir buscar um trio da Lidl-Trek que já se conhece muito bem, Elisa Longo Borghini, Brodie Chapman e Elynor Backstedt. Atenção ainda ao reforço Sofie van Rooijen, fez um ano incrível nas chegadas ao sprint e integrada numa estrutura que não era do World Tour foi 25ª do ranking. A Team DSM mantém-se muito discreta mesmo com a saída de Labous, nenhuma das 2 contratações é propriamente uma corredora conhecida, são 2 jovens. A Canyon/Sram, estrutura para onde vai a portuguesa Maria Martins anunciou recentemente mais 1 transferência, a rapidíssima italiana Chiara Consonni e não obstante ter perdido Elise Chabbey, recrutou Cecilie Uttrup Ludwig, uma especialista em colinas e clássicas das Ardenas.
A SD Worx sofreu imensas alterações, para além de Majerus (que se retira), saem também Fisher-Black, Reusser e provavelmente Vollering. Regressa a mítica Anna van der Breggen aos 34 anos e já com 2 títulos mundiais no bolso, para além das entradas de Marta Lach e Mikaela Harvey isto para além de algumas jovens que têm uma excelente oportunidade. Lotte Kopecky e Lorena Wiebes continuam, portanto continua a ser senão uma das, a melhor equipa do Mundo. Quem quer conquistar esse direito é a Lidl-Trek isto mesmo perdendo Elisa Longo Borghini. Para a montanha, a equipa aposta em Riejanne Markus (2ª na Vuelta) e Niamh Fisher-Black (7ª na Vuelta e 10ª no Giro) e para as clássicas e sprints em Emma Norsgaard e Anna Henderson, creio que com isto a formação norte-americana ficou mais completa e com mais opções.
Com isto tudo, e comparando com os seus pares masculinos, foi um defeso muito mais movimentando no que toca às grandes figuras da modalidade, 9 das 30 primeiras do ranking mudaram de ares e existe uma grande curiosidade para ver se existe uma nova hierarquia mundial com esta dança das cadeiras.