Tem sido um tema recorrente deste mercado de transferências, aparentemente a super-poderosa Ineos-Grenadiers está a ficar claramente mais debilitada e nos últimos 2 dias perdeu mais 2 ciclistas de montanha, isto depois de já ter ficado sem Tao Hart para a Lidl-Trek e Pavek Sivakov para a UAE Team Emirates.
Ontem foi oficializada a transferência de Daniel Martinez para a Bora-Hansgrohe, o colombiano de 27 anos deixou a formação britânica, onde estava desde 2021. Martinez foi subindo nos rankings a partir de 2018 e o triunfo no Dauphine conjuntamente com a conquista de 1 etapa na Volta a França convenceram os responsáveis da Ineos-Grenadiers que talvez ali estivesse um diamante por pulir. É um corredor que na altura reunia todas as capacidade que a Ineos gostava, para além de ser um bom trepador era um bom contra-relogista e até se defendia bem nos sprints em grupos reduzidos.
O seu percurso foi de altos e baixos, em 2021 fez 5º no Giro, mas mais do que isso foi fundamental para o triunfo do seu colega Egan Bernal na competição, foi o seu braço direito. Pensou-se que com a lesão de Bernal ele assumisse um papel de líder e até correspondeu a isso na primeira metade de 2022, 3º na Volta ao Algarve, 3º no Paris-Nice, ganhou a Volta ao País Basco, 5º na Fleche Wallonne e 4º na Liege-Bastogne-Liege, só que depois desapareceu quase por completo na segunda metade do ano e esta época fez algo semelhante, ganhou a Volta ao Algarve em Fevereiro e depois quase que se sumiu.
Agora é a Bora-Hansgrohe que aposta nas suas capacidades, vamos tentar ver as 3 perspectivas. A Ineos-Grenadiers até apostou minimamente nele, deu-lhe oportunidades, algumas desperdiçadas, acreditou que Martinez poderia ser um grande líder e quando viu que não era também não fez questão de ficar com ele, se calhar porque o colombiano não aceita ser somente gregário com o estatuto que já tem. No ponto de vista de Martinez a Bora poderá não ser a melhor opção, é uma estrutura em crescimento, mas que já tem Hindley, Vlasov e Higuita, para não falar de Kamna e do super talento Uijtdebroeks. Daí eu não perceber muito bem esta contratação, será uma espécie de 8 ou 80 na minha opinião, ou Martinez de repente vai buscar uma consistência que ainda não mostrou e aí é de génio ou então vai continuar a estagnar como Higuita e aí mais valia dar lugar aos mais jovens e construir um bloco com gregários com mais provas dadas nesse departamento.
Um pouco mais surpreendente é a saída de Ben Tulett, ainda para mais para a Jumbo-Visma, o que mostra bem a recente perda de poder da Ineos-Grenadiers na hierarquia do ciclismo mundial. Tullet é o tipo de ciclista que quando entrou na formação britânica eu esperava que por lá ficava muitos e bons anos, era a nova génese do projecto, jovens corredores do Reino Unido. Veio proveniente da Alpecin-Fenix, onde já tinha feito top 10 na Volta a Polónia, até teve um calendário muito interessante em 2022, foi 2º na Settimana Coppi e Bartali, fez o Giro com bons desempenhos no contra-relógio e foi 5º na Volta a Polónia.
Só que este ano parece que foi relegado para um calendário mais fora do World Tour e tem provado que já está acima desse nível, 2º na Volta a Hungria e ganhou a Volta a Noruega. É um trepador leve e explosivo, a Ineos tentou trabalhar o seu contra-relógio também logo desde início e talvez não tenha gostado dessa direcção de desenvolvimento e não obstante a Jumbo-Visma ter tantas opções internas, é neste momento a melhor equipa do Mundo nas Grandes Voltas e é o sítio certo para se estar numa perspectiva de aprendizagem. A Jumbo-Visma precisava de renovar um pouco o seu leque de trepadores, daí as contratações de Jorgenson e Tulett por exemplo, de lembrar que Tulett daqui a uns dias vai fazer apenas 22 anos, ainda tem muito espaço para crescer.
Com estas 4 saídas confirmadas, com a de Carlos Rodriguez quase a confirmar-se para a Movistar, com um Geraint Thomas que não vai para novo e um Egan Bernal que ainda não mostrou voltar ao nível de ganhar Grandes Voltas não está fácil a vida da Ineos-Grenadiers.