O Inferno do Norte fez jus ao nome, ainda mais do que o habitual, e pela primeira vez em quase 2 décadas tivemos um Paris-Roubaix abençoado pela chuva, o que tornou a corrida ainda mais aberta. Os primeiros quilómetros foram de tensão máxima, ainda chegaram a andar escapados Matteo Trentin, Max Kanter e Edward Theuns, só que havia a sensação de que quem entrasse nos primeiros sectores de empedrado na frente tinha uma vantagem enorme e podia evitar grande parte dos problemas.
O ritmo manteve-se muito elevado e a 210 kms da meta houve uma espécie de bordure, um corte no pelotão que isolou cerca de 30 ciclistas (entre eles Ballerini, Philipsen, Kung, Durbridge, van Avermaet, Oss, van der Sande, André Carvalho, Haller, Bissegger, Moscon, Rowe, Walscheid, Affini ou Skujins). 90% das equipas estavam representadas, sendo que Lotto-Soudal, Deceuninck-Quick Step, Jumbo-Visma, Movistar, Bahrain-Victorious, BikeExchange e Ineos Grenadiers tinham mais de 1 elemento. Descontentes com a situação a Arkea-Samsic, Astana e Bora-Hansgrohe decidiram começar a controlar a diferença, quando esta se cifrava em 1 minuto.
Mesmo antes do empedrado Stefan Kung caiu e perdeu o contacto com a frente e assim que entrámos nos paralelos a diferença entre grupos foi subindo, até porque no pelotão não havia propriamente força de perseguição. Com o grupo principal já quase a 3 minutos, a 140 kms do final isolaram-se na frente Vermeesch, Eekhoff, Rowe e Walscheid. Rowe desapareceu subitamente e Walscheid caiu, ficando na frente apenas 2 elementos, com o grupo perseguidor a cerca de 1 minuto.
As quedas iam-se sucedendo, nomeadamente Peter Sagan ficou fora da luta e a cerca de 100 kms da meta também André Carvalho foi ao chão, num momento em que estava no grupo perseguidor. Eekhoff e Vermeesch entraram na Floresta de Arenberg com 40 segundos sobre os perseguidores mais directos (15 elementos) e 1:40 para o grupo principal, onde estavam ainda a maior parte dos principais favoritos, mas sem Senechal, que tinha furado pouco antes. Arenberg foi desastroso para a Quick-Step, que viu Stybar ceder terreno e Lampaert furar, assim como Asgreen.
Mathieu van der Poel atacou e fez diferenças, seguindo apenas com ele Boivin e Colbrelli, Wout van Aert perdeu alguns segundos e mesmo no final do sector Mads Pedersen sofreu uma aparatosa queda. A 80 kms do final Eekhoff e Vermeesch foram apanhados pelo grupo perseguidor, quando Colbrelli aproveitava uma altura de marasmo no grupo principal e saia na companhia de Lecroq, Boivin e Planckaert. Quando a poeira assentou um pouco ficaram na frente Walscheid, Moscon, Philipsen, Bissegger, van Asbroeck e van der Sande e uma dezena de quilómetros mais tarde atacou Mathieu van der Poel, apenas seguido por Yves Lampaert, que fez a ponte para o grupo de Colbrelli.
Moscon, Vermeesch e van Asbroeck isolaram-se na frente e em Orchies o italiano deixou os colegas de fuga para trás, saindo desse sector com cerca de 1 minuto para van der Poel, Boivin e Colbrelli, ainda com Vermeesch e van Asbroeck pelo meio. Com os 5 já juntos na perseguição a Moscon e 35 kms para o final a vantagem do corredor da Ineos-Grenadiers cifrava-se em 1:10, com o grupo de Wout van Aert a 1:55. O enredo adensou-se quando Moscon furou a 30 kms da meta e a diferença caiu para 40 segundos, e no sector seguinte caiu, ficando com os perseguidores à vista.
Na entrada Carrefour de l’Arbre Moscon entrou com 10 segundos sobre van der Poel, Vermeesch e Colbrelli (van Asbroeck tinha cedido e Boivin tinha caído). Nesse sector o trio alcançou e ultrapassou o italiano e foi colaborando para manter a diferença face ao segundo grupo, entrando nos últimos 4 kms com 1 minuto. Apesar de algumas ofensivas tudo se decidiu no velódromo de Roubaix, com van der Poel na frente. Foi Vermeesch a lançar o sprint, tentando surpreender, mas foi Sonny Colbrelli o mais forte, celebrando efusivamente um brilhante triunfo na sua estreia no Inferno do Norte, diante de Gianni Vermeesch e de Mathieu van der Poel.
Foi o culminar de uma temporada histórica para o italiano de 31 anos, juntando o primeiro Monumento da carreira ao título de campeão europeu. Moscon aguentou o 4º lugar e Yves Lampaert fechou o top 5, mas acabar esta prova é por si só, um feito. André Carvalho e Rui Oliveira não completaram a prova.