Marc Madiot, principal responsável da Groupama-FDJ fez as suas escolhas para o Tour 2023 e agora terá de lidar com as consequências das mesmas. O extravagante gaulês optou por apostar tudo em David Gaudu, tal como aconteceu em 2022, e achou que não havia espaço para Arnaud Demare no leque de 8 ciclistas que vai alinhar na “Grande Boucle“, quer levar o maior apoio possível a Gaudu. A juntar a isto, Madiot escolheu levar Thibaut Pinot para o francês que se vai retirar no final da temporada poder fazer uma despedida condigna do Tour, principalmente depois do que mostrou no Giro.



Isto levou a que, de uma forma compreensível, Arnaud Demare tenha desde já manifestado intenção de sair da equipa onde subiu a profissional em 2012, é claramente o final de um capítulo tanto na carreira do francês como na Groupama-FDJ. Responsáveis como Madiot são precisamente pagos para tomar este tipo de decisões complicados, mas na nossa opinião esta não tem qualquer tipo de lógica, defendemos que havia espaço para Gaudu e Demare.

Arnaud Demare está numa fase da carreira em que não pode propriamente perder tempo, já tem 31 anos e há uma nova geração de sprinters a aparecer, e com o seu palmarés a grande motivação vem precisamente destas grandes competições. Desde o início da temporada que tem o pensamento no Tour, Marc Madiot sempre lhe indicou que iria à maior competição de ciclismo do Mundo e é altamente injusto tirar-lhe o tapete desta forma, quase que de certa forma desperdiçou um ano da carreira de Demare logo nesta fase. Ainda se podia justificar se o sprinters gaulês estivesse a fazer uma péssima época … só que acabou de ganhar na Boucles de la Mayenne e na Brussels Cycling Classic, foi agora 2º na 2ª etapa da Volta a Suíça, está a melhorar em direcção ao grande objectivo do ano … e agora não vai.

Depois há a questão Gaudu, será que o 4º classificado do Tour do ano passado dá assim tantas garantias quanto isso? Fez um Paris-Nice fenomenal (ainda assim bem longe do nível de Pogacar e contra um Vingegaard claramente longe do seu melhor), mostrou-se em perda no País Basco, adoeceu antes das Ardenas e realizou um Dauphiné muito abaixo das expectativas. Realisticamente parece estar na luta … pelo 3º lugar da geral na melhor das hipóteses e mesmo assim precisa de melhorar imenso em relação ao que mostrou este mês. Mesmo tudo correndo bem em termos de preparação, um furo, uma queda, uma doença, pode estragar quase de imediato um Tour e não há uma alternativa para os sprints.



Nesta edição da Volta a França existem imensas oportunidade para os puros sprinters ou até para os homens rápidos que passam bem a média montanha e desde os tempos de Mark Cavendish que não há um sprinter a levar mais de metade deste tipo de etapas. Basta ver a opção de algumas equipas que têm um líder com o perfil de Gaudu, não estão a abdicar do seu sprinter e de um pequeno comboio. Exemplos são a Jayco com Groenewegen/Yates, a DSM com Bardet/Welsford e até a Bora-Hansgrohe com Bennett ou Meeus/Hindley.

Há mais aspectos a ter em conta, o desinvestimento da Groupama-FDJ em Demare tem sido visível e progressivo, primeiro que tudo nos últimos 5 anos só fez o Tour 1 vez, em 2021, numa edição que lhe correu manifestamente mal, depois de ter obtido triunfos nas presenças anteriores (2017 e 2018). Entre 2019 e 2022 alinhou por 3 vezes no Giro e correspondeu sempre, ganhou 8 etapas ao todo. Para além disso, o comboio do sprinter francês tem sido desfeito aos poucos, Guarnieri e Sinkeldam saíram, foram substituídos por corredores da nova guarda. Pelo que já se viu David Gaudu está longe de ser um líder agregador, já disse publicamente 1 vez que não queria compartilhar liderança com Demare e como o recente documentário do Tour de France mostrou tem uma personalidade … curiosa.



Dessa perspectiva é uma continuação desta transição que a Groupama-FDJ tem feito, com o final de carreira de Thibaut Pinot a ser complementando pela saída de Arnaud Demare. O contrato terminava em 2023 e até agora o saldo situa-se em 93 vitórias, 8 no Giro, 2 no Tour, a Milano-SanRemo de 2016 entre as mais notórias. Marc Madiot não estará tremendamente preocupado com esta saída, Romain Gregoire e Lenny Martinez são 2 super talentos que já estão a despontar, Kung e Madouas continuam a ser garantia de bons resultados, falta ainda ver o que conseguem fazer os recém-promovidos da formação Continental (Pithie, Penhoet, Watson).

E agora? O que se segue para Arnaud Demare? Creio que a melhor opção está em França e tendo em conta que na Ag2r Citroen a aposta recai muito em Ben O’Connor e Benoit Cosnefroy, a TotalEnergies pode ser uma escolha muito válida. Não só já tem alguns ciclistas rápidos que podem fazer parte do seu comboio, como não tem um grande líder para a geral e a futura saída de Peter Sagan vai abrir espaço em termos de orçamento e liderança. Mesmo com uma possível entrada de Julian Alaphilippe, os objectivos são compatíveis. Outra hipóteses será a Arkea-Samsic, também sem um grande líder para a geral após a partida de Nairo Quintana, o que também deixou alguma folga financeira, não têm um grande sprinters. A DSM está à procura de um líder para as chegadas rápidas, mas têm o foco mais em Jakobsen e Kooij.



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