Quem pôde ou conseguiu ficar acordado a assistir à corrida de juniores dos Mundiais de Wollongong certamente não ficou nada arrependido, foi uma prova disputada a todo o gás do início ao fim, onde Portugal tinha ambições legítimas de um excelente resultado com uma selecção composta por António Morgado, Gonçalo Tavares, José Bicho, Daniel Lima e Tiago Nunes. A prova ficou marcada por muitos ataques iniciais e por uma enorme queda colectiva na primeira volta, que obrigou a muitos abandonos e que fez muitas escoriações e equipamentos rasgados aos jovens corredores.
Quando a poeira assentou um pouco, já na segunda volta, estabeleceram-se na frente o austríaco Benjamin Eckerstorfer, os norte-americanos Artem Shmidt e Viggo Moore, o estónio Romet Pajur, o checo Pavel Novak e o britânico Zachary Walker. Como é habitual neste escalão estava muito complicado organizar uma perseguição com estas selecções tão reduzidas e a cerca de 80 kms da meta começou o espectáculo de António Morgado, com o ciclista português que este ano tem vindo a deslumbrar com dezenas de vitórias, a encetar vários ataques.
Só que sozinho era impossível fazer a ponte e chegar à frente e o ciclista luso viu isso na primeira pessoa, numa corrida que se fazia claramente por eliminação, a 50 kms do final apenas 30 ciclistas estavam na luta por esta prova de estrada do Mundial. Nessa altura já Morgado tinha levado companhia de luxo para fazer a perseguição: Jorgen Nordhagen, Emil Herzog, Paul Magnier, Frank Ragilo e Milan Kadlec, sendo que estes 2 últimos não ajudavam em nada porque tinha compatriotas na frente. Na 5ª volta o grupo de Morgado passava a 25 segundos da frente, Gonçalo Tavares seguia num 3º grupo a 45 segundos, Daniel Lima num 4º grupo a 2:40 e Tiago Nunes num 5º grupo a 4:15, enquanto José Bicho já tinha abandonado.
Foi na antepenúltima volta que houve um reagrupamento, juntaram-se os 3 primeiros grupos e voltou à carga o norueguês Jorgen Nordhagen, mesmo já estando sozinho há muito tempo, uma aceleração que deixou Gonçalo Tavares e mais uma dezena de ciclistas em dificuldades. António Morgado voltou a atacar e fracturou completamente o já curto pelotão, ficaram 4 ciclistas com ele e mais 3 viriam a colar, sendo que Emil Herzog era o mais colaborante e a França era a única selecção com 2 elementos na frente nesta altura.
O ciclista português aproveitou alguma hesitação à entrada da última volta para ganhar alguns metros, que se foram transformando em dezenas e centenas de metros, na passagem da meta eram 12 segundos e ainda cresceram para 20 segundos a 10 kms do final, com a França a assumir a perseguição. António Morgado resistiu à última subida, apesar da vantagem ter diminuído ligeiramente e saiu à sua caça o também inevitável alemão Emil Herzog, com Nordhagen e Gruel um pouco mais atrás.
O germânico conseguiu alcançar António Morgado a apenas 3 kms da meta e cedo se viu que havia entendimento entre ambos para segurar quem vinha mais atrás e assim estava assegurada medalha para Portugal, restava saber a cor. Herzog ainda tentou antes da meta, Morgado respondeu com autoridade e deixou o alemão liderar no quilómetro final, lançando o sprint a 250 metros da meta, sprint que parecia destinado ao ouro, mas que infelizmente viu Emil Herzog ultrapassá-lo nos 50 metros finais, para infelicidade e frustração do ciclista português, que em 2023 vai representar a Axeon. Vlad van Mechelen foi 3º e conquistou a medalha de bronze.
Gonçalo Tavares finalizou em 18º a 2:48, Daniel Lima 38º a 11:50 e Tiago Nunes ainda terminou no 58º posto.