A formação gaulesa não conseguiu repetir os sucessos de 2021, onde claramente subiu no ranking numa fase em que já se exigia mais devido ao incremento orçamental e aos patrocinadores que chegaram recentemente. As exibições intermitentes de alguns líderes marcaram uma temporada com alguns altos e baixos



 

Os dados

Vitórias: 11 triunfos, mais de metade em França, 4 deles obtidos por Marc Sarreau e um total de 3 em corridas do World Tour.

Pódios: 38 pódios, o que quer dizer que por 27 vezes falharam a vitória, mas conquistaram um lugar no pódio.

Dias de competição da equipa: Um total de 269 dias de competição.

Idade média do plantel: 28,1 anos, é um plantel relativamente velho a precisar de uma renovação.

Mais kms: Numa época de regresso às grandes vitórias, Bob Jungels totalizou 12 930 kms.

Melhor vitória: É verdade que Cosnefroy ganhou uma clássica do World Tour, mas em termos de importância para os patrocinadores foi a de Bob Jungels na Volta a França.

 

O mais

Apesar de continuar a ser um grande enigma, Benoit Cosnefroy teve uma boa época, conseguindo ou ficando perto de grandes vitórias. Passando em revista a temporada do gaulês, demorou um pouco a carburar, perdeu a Amstel Gold Race por escassos centímetros, fez uma Volta a França muito má e apareceu do nada a ganhar uma clássica do World Tour no G.P. Quebec, antes de ser chamado à última hora aos Mundiais pela forma em que se encontrava. Ben O’Connor não deu tanto nas vistas como em 2021, onde fez um Tour incrível, mas foi muito mais consistente e um fiel da balança. Foi 6º na Volta a Catalunha com 1 vitória em etapa, 5º no Tour de Romandie, 3º no Dauphine, antes do azar lhe bater à porta no Tour. Recuperou fisicamente para ser 8º na Vuelta.



Quando já nem se esperava, Bob Jungels reapareceu magicamente na Volta a Suíça com um 6º posto na classificação final, que antecedeu uma brilhante vitória em etapa na Volta a França. Surpreendeu um pouco a saída do luxemburguês para a Bora-Hansgrohe, logo quando tinha recuperado as sensações numa equipa que sempre acreditou nele, mesmo quando não era competitivo. Marc Sarreau fez uma boa segunda metade de 2022, terminou como o mais vitorioso da equipa, nota-se que é um sprinter que cumpre nas corridas francesas e que é curto para o World Tour e Felix Gall deixou excelente indicações, foi 6º no Tour of the Alps, 12º na Volta ao País Basco e 15º na Volta a Polónia.

 

O menos

Neste departamento claramente destaca-se o duo de líderes nas clássicas do empedrado, Oliver Naesen e Greg van Avermaet, 2 corredores muito conceituados e que não têm correspondido ao seu estatuto. O curioso é que ambos os belgas demonstraram boa forma e deixaram bons sinais na Omloop só que … foi só mesmo aí. De resto, fizeram uma época muito fraca nas restantes provas do World Tour, pontuando-a com bons resultados em corridas 1.1 na Bélgica ou em França. A questão é que na fase da carreira em que estão e tendo em conta o estatuto que têm é manifestamente pouco.

Dorian Godon fez uma 2021 fenomenal e repeti-lo seria quase impossível, mas desceu muito qualitativamente, tanto que sai de 2022 com somente 2 pódios quando se esperava que se afirmasse como puncheur de nível mais elevado. Aurelien Paret Peintre até começou bem o ano, com um 10º no Paris-Nice e depois caiu a pique, não fez mais nada praticamente até Outubro. O promissor Stan Dewulf não aproveitou o facto de Avermaet e Naesen não conseguirem andar com os melhores para dar o salto, aos 24 anos começa a chegar aquela fase da carreira em que tem de se afirmar. Geoffrey Bouchard esteve bem até meados de Abril, posteriormente foi uma sombra dele próprio e exigia-se muito mais de Clement Champoussin, alguém que já ganhou etapas em Grandes Voltas, já fez top 20 na Vuelta, sai de 2022 com 1 pódio.

 

O mercado

Nota-se que em termos de transferências foi um defeso claramente de contenção, talvez com algum receio orçamental pelo aumento de custos que as equipas têm tido, ou então a guardar alguns cartuchos para alguns alvos específicos para 2024. Existe uma clara perda de poder de fogo na montanha graças às saídas de Bob Jungels, Clement Champoussin e Lilian Calmejane, o que deixa Ben O’Connor mais isolado quando a estrada empinar. Gijs van Hoecke deixa o bloco de clássicas à procura de mais oportunidade e acaba por ser outra baixa importante.



Relativamente às entradas, serão 3 jovens puncheurs, Alex Baudin, proveniente da Tudor, Bastien Tronchon, que já deu nas vistas no final de 2022 e Pierre Gautherat, o menos conhecido dos 3. No entanto, é preciso ver que a equipa tem 28 corredores inscritos, havendo ainda 2 vagas disponíveis. Quem sabe não poderá entrar um Franck Bonnamour por exemplo, devido à situação tremida da B&B Hotels.

 

O que esperar em 2023?

Indo por terrenos, não se esperava que de repente, e contra concorrência cada vez mais forte, Greg van Avermaet e Oliver Naesen comecem de repente a conseguir pódios em Monumentos, e como Stan Dewulf tarda em afirmar-se, adivinha-se uma época muito difícil neste departamento. Parece-me que a Ag2r tem de começar a correr de forma diferente e a arriscar mais neste tipo de corridas se quiser obter grandes resultados. A equipa continua sem grandes sprinters, Venturini e Sarreau dão para as corridas francesas e para uns top 10 no World Tour, nada mais do que isso.

Na montanha, Ben O’Connor parte como líder mais do que óbvio e o mais provável é fazer o Tour e possivelmente a Vuelta, depois da equipa levar um alinhamento caça-etapas ao Giro. O problema é que o australiano está mais isolado internamente, vai ser preciso o melhor Paret-Peintre, o melhor Bouchard e um salto qualitativo de Gall e Hanninen, para O’Connor ter um bom suporte nas alturas decisivas, não me parece que isso vá acontecer.



O grande trunfo é claramente Benoit Cosnefroy, alguém capaz de nos seus dias ser um dos melhores puncheurs do Mundo, já mostrou isso. Só que nunca se sabe quando são os seus dias. A equipa precisa de incorporar no seu bloco o próprio Van Avermaet, alguém que tem muita experiência em clássicas e até Naesen, para que Cosnefroy chegue o mais confortável possível às alturas decisivas. Porque adivinha-se que fique sempre em inferioridade numérica face aos blocos de Jumbo-Visma, Ineos e Quick-Step, apenas para dar 3 pequenos exemplos.

Espero uma época mediana da Ag2r, um pouco à imagem de 2022 e espero que façam um grande investimento e ataquem o mercado em força entre 2023 e 2024.

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