A estrutura australiana tem vindo a cair progressivamente nos rankings, depois de alguns anos a ameaçar a entrada nas 5 melhores equipas do Mundo, nas últimas 2 épocas já tinha dado alguns sinais de deterioração ao aproximar a saída do top 10, mas foi em 2021 que tudo descambou. Um plantel mais débil e com menos opções traduziu-se em menos de 1 dezena de vitórias, contra as 16 de 2020 (ano ciclístico mais curto), e já nem se fala se recuarmos mais no tempo. É que entre 2012, ano de criação da equipa, e 2019, esse número esteve sempre entre as 25 e as 35.




A equipa ressentiu-se da saída de Adam Yates, o regresso de Michael Matthews não correu como esperado e claramente há uma perda competitiva em termos financeiros. Teoricamente o futuro está assegurado até 2024, mas com o orçamento actual vai ser difícil rivalizar com as grandes estruturas.

Os dados

Vitórias: 9, 3 delas por intermédio do incontornável Simon Yates

Pódios: 35 pódios, o número de vitórias que antigamente a equipa tinha por época.

Dias de competição da equipa: 215 dias, não foi das equipas que competiu mais, não tem um calendário europeu assim tão alargado

Idade média do plantel: 29,7 anos, dos mais velhos do World Tour, com mais de 1 dezena de trintões

Mais kms: Chris Juul Jensen, um dos gregários mais carismáticos do Mundo, com mais de 11 000 kms

Melhor vitória: A de Simon Yates na 19ª etapa do Giro, em Alpe di Mera, em que o britânico deixa para trás Egan Bernal e João Almeida, para terminar com 11 segundos sobre o português.

O mais

Tendo em conta a sua irregularidade nas Grandes Voltas, o 3º posto de Simon Yates no Giro foi um excelente resultado, principalmente se tivermos em conta que para além da Vuelta ganha em 2018, este foi apenas o seu 2º pódio em corridas de 3 semanas em 12 Grandes Voltas. A somar a isso, somou um terço dos triunfos da equipa, apesar de ter terminado a época claramente desgastado.




Esteban Chaves esteve a um bom nível, foi o seu melhor ano desde 2016, o que diz muito. Ainda incapaz de estar sempre entre os melhores, ganhou 1 etapa na Catalunha, fez top 10 no País Basco, na Fleche Wallonne e no Tour de Romandie e acabou o Tour em 13º. Nick Schultz teve a sua melhor época até agora, aos 27 anos. Foi importante na ajuda a Yates no Giro, fez 3º na Settimana Coppi e Bartali e ganhou 1 etapa no Sazka Tour.

O menos

Michael Matthews nem teve um ano assim tão mau em termos de números, 2 pódios na Vuelta, 2 no Tour, 2 no Paris-Nice, 4º na Amstel Gold Race, 5º na Gent-Wevelgem e 6º na Milano-SanRemo, mas para um líder absoluto de uma equipa do World Tour é quase impensável não ganhar numa temporada, aos 31 anos. Matthews debate-se com um problema semelhante ao de Sagan, as corridas em que se especializou estão agora a ser também disputadas por 2 extraterrestres como Mathieu van der Poel e Wout van Aert.

Olhando para os pódios que fez nas Grandes Voltas, no Tour perdeu para um ataque de Alaphilippe e para uma fuga de Konrad, na Vuelta em sprints para Philipsen e Cort. Ou seja, mesmo eliminando quase todos os sprinters, Matthews perdeu capacidade de explosão e mesmo que seja o melhor sprinter do grupo a equipa não tem assim tantas armas como há alguns anos para controlar as corridas. Ou se reinventa ou pouco à imagem da transformação mágica de Colbrelli, ou passará muitas dificuldades.




A equipa esperava que as jovens promessas conseguissem dar um passo em frente, até por terem mais espaço na hierarquia interna, mas tal não aconteceu. Kaden Groves era a esperança para os sprints, entre muitas quedas só fez 4 pódios em corridas menores, Robert Stannard tinha as clássicas na sua mente, mas mal se viu ao longo do ano e Lucas Hamilton até fez um Paris-Nice e depois eclipsou-se. Para além disso nomes como Luka Mezgec ou Dion Smith também deram muito menos do que em 2020, parte disso explicando-se com a aposta da equipa em Michael Matthews, pois faziam parte do seu núcleo de apoio

O mercado

A janela de transferências não nos pareceu nada famosa. Do núcleo de apoio a Simon Yates saem Mikel Nieve, Esteban Chaves, Brent Bookwalter e Andrey Zeits, 4 nomes incontornáveis, sendo que Robert Stannard foi para a Alpecin-Fenix e Barnabas Peak também não renovou.

Com alguns pergaminhos entre a elite só entraram Lawson Craddock e Matteo Sobrero, e mesmo o italiano ainda tem alguma inexperiência, não se podendo pedir nada a Jan Maas, Campbell Stewart, Alexandre Balmer e Jesus David Pena. Dá a sensação que nenhum bloco essencial da equipa ficou mais forte, o que é preocupante.

O que esperar de 2022?

A estratégia é semelhante em relação a 2021, só que com menos armas. 2 blocos principais, um em redor de Simon Yates, e outro à volta de Michael Matthews. O do britânico terá Schultz, Sobrero, Kangert, Howson, Craddock e talvez Durbridge, sejamos francos não assusta qualquer das 3 principais estruturas que pensem em Grandes Voltas (Ineos, UAE ou Jumbo-Visma). Em termos de visibilidade talvez fosse melhor para Yates apostar forte em 2 ou 3 provas de 1 semana e depois ir ao Tour conquistar etapas.




Sobre os problemas de Matthews já falámos e acreditamos que vai continuar a falta de vitórias, pelo menos nas principais corridas, apesar de continuar a ser garantia de alguns pódios e muitos top 5.  O bloco das clássicas pode fazer um top 10 ou outro, mais do que isso será complicado e vai ser um ano crucial para Kaden Groves e, principalmente, para Lucas Hamilton, tem 25 anos, vai fazer 26, tem espaço na equipa para brilhar e já tem experiência e 4 Grandes Voltas nas pernas.

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