Temporada medíocre do conjunto norte-americano, onde as exibições de Ruben Guerreiro foram um dos pontos positivos. Muito falatório em redor dos pontos UCI, uma realidade que já se conhecia desde 2020, e poucas vitórias, ainda que duas tenham sido em Grandes Voltas. Para 2023 há Carapaz, mas não muda muito mais.
Os dados
Vitórias: 9 triunfos ao todo, 7 excluindo os Nacionais e somente 3 no World Tour, com o ponto positivo de 2 deles terem sido em Grandes Voltas.
Pódios: 39 pódios, 10 deles obtidos em Campeonatos Nacionais, algo que acontece com regularidade nesta equipa.
Dias de competição da equipa: 242 dias, algo reduzido para a realidade de uma formação que até estava a lutar pela manutenção.
Idade média do plantel: 28,1 anos, uma estrutura que tinha 10 corredores acima dos 30 anos.
Mais kms: O maratonista foi o rolador Julius van den Berg, com quase 13 000 kms.
Melhor vitória: Fica na retina o triunfo de Magnus Cort na Volta a França, quando o dinamarquês parecia fora da luta pela vitória e depois de uns dias gloriosos na sua terra Natal.
O mais
Muito impressionado com a evolução e com a época de Neilson Powless, finalmente o norte-americano correspondeu às expectativas da equipa e foi crucial para a sua manutenção no World Tour. Abriu o ano a ser 11º no UAE Tour, foi 8º na Liege-Bastogne-Liege, 4º na Volta a Suíça e realizou um excelente Tour, que terminou na 12ª posição, deixando a expectativa que no futuro pode ter como objectivo uma prova de 3 semanas.
Foi também a melhor temporada de sempre para Rúben Guerreiro, que realizou a memorável exibição na clássica do Mont Ventoux para além de ter sido 9º no Dauphine, 6º na Vuelta a Burgos e 3º na Volta a Alemanha. Foi muito consistente e mostrou uma grande evolução na alta montanha, que o pode fazer pensar noutros voos. Magnus Cort não foi incrível durante o global da época, mas foi impressionante nos grandes momentos, foi um dos grandes protagonistas do Tour. Andrea Piccolo foi um dos destaque da segunda metade do ano, foi 10º na Bretagne Classic e 11º no Giro di Lombardia aos 21 anos (para além dos restantes resultados a nível mais baixo) e deixou excelentes indicações para o futuro.
O menos
Foi uma temporada relativamente fraca para os voltistas e só não foi pior porque Hugh Carthy salvou de certa forma o seu Giro com uma última semana completamente inesperada. No final da 14ª etapa o britânico era 20º na geral a 21 minutos do camisola rosa e terminou em 9º a menos de 18 minutos, uma recuperação que contrastou com a Vuelta, onde andou desaparecido em combate durante 3 semanas. Rigoberto Uran fez um Tour muito fraco e, um pouco à imagem de Carthy, aproveitou uma fuga na 17ª etapa da Vuelta para não só triunfar na tirada, mas também subir de 12º para 9º e manter esse posto até final. Descontando esse dia foram exibições muito medianas do veterano colombiano.
Esteban Chaves até tinha deixado bons apontamentos em 2021 só que em 2022 só fica na retina a exibição positiva no Dauphine, onde foi 7º, de resto foi sempre muito discreto e teve uma época desapontante. O mesmo se aplica a Mark Padun, que vinha rotulado de contratação muito promissora e que se tinha a noção que ou iria desaparecer ou iria explodir. Tirando o Gran Camino logo a abrir 2022, o facto é que mal se viu Padun. Depois de ter sido 11º na Vuelta em 2021 esperava-se muito mais de Odd Eiking e o próprio Stefan Bissegger tem de começar a trazer outra consistência e de ter capacidade para ser uma mais-valia nas clássicas.
O mercado
Não obstante o reduzido número de entradas e saídas, a formação norte-americana acabou por ser uma das protagonistas deste mercado graças à contratação de Richard Carapaz, que veio acompanhado por Andrey Amador. O campeão olímpico e vencedor do Giro em 2019 é a grande esperança para voltar a tornar a EF Education realmente competitiva nas Grandes Voltas e optou por sair de uma Ineos-Grenadiers que está a apostar mais no futuro e onde iria potencialmente perder algum espaço. A entrada de Mikkel Honoré é para compensar a saída inesperada de Ruben Guerreiro, que optou por uma estrutura onde teria mais oportunidades de liderança em vez da anarquia norte-americana. Sebastian Langeveld terminou a sua carreira e Stefan de Bod é uma contratação interessante, que tem potencial para andar bem em vários terrenos.
O que esperar em 2023?
A contratação de Carapaz foi um dos grandes movimentos de mercado e finalmente a equipa volta a ter um grande líder para 3 semanas (Carthy, Uran e Chaves davam para o top 10, longe da luta pelo pódio e Powless na alta montanha ainda é curto). A equipa tem com Carapaz um pequeno dilema, para a visibilidade do conjunto certamente uma dupla Giro-Vuelta seria o mais benéfico, só que o equatoriano veio para ser líder no Tour, algo que na Ineos-Grenadiers não tinha garantias. A questão é que Carapaz não me parece ser capaz de ombrear com Pogacar e Vingegaard, talvez nem com um Roglic a 100%. É menos explosivo e pior contra-relogista. Deveremos ver um Uran e um Chaves muito mais em papel de apoio e talvez Powless tenha oportunidade de liderar no Giro.
Para as Ardenas, vejo em Mikkel Honoré um perigo, mas o dinamarquês precisa de corredores como Powless ao seu lado. No empedrado é rezar para que o inconsistente Bettiol volte ao seu melhor e para que Bissegger consiga surpreender. Para 2023 a grande afirmação pode vir por parte do jovem Andrea Piccolo, quem sabe não o vemos a vencer uma clássica do World Tour como San Sebastian ou Bretagne.