Não é nenhuma surpresa ver a Deceuninck-Quick Step como equipa mais vitoriosa e no topo deste ranking. Foi mais uma temporada incrível para os comandados de Patrick Lefevere, que terminou com Monumentos, quase 1 dezena de vitórias em Grandes Voltas, regressos épicos, triunfos improváveis e não deixou de ter os habituais assuntos quentes.
Os dados
Vitórias: 65 triunfos, 9 deles em Grandes Voltas e um total de 25 no World Tour
Pódios: 148 pódios, incluindo algumas dobradinhas espectaculares
Dias de competição da equipa: 245 dias de competição, algo que está dentro da média numa equipa destas
Idade média do plantel: Uma equipa conhecida pelo equilíbrio e que tinha 28,7 anos de média
Mais kms: Quem diria em Janeiro, mas foi mesmo Mark Cavendish com 11 390 kms, curiosamente ao contrário de outras equipas ninguém fez acima dos 12 000 kms. João Almeida foi 2º neste ranking interno
Melhor vitória: Entre tantas não é fácil escolher, mas escolhemos a de Kasper Asgreen no Tour des Flandres, por ser um Monumento, por ter sido uma prova espectacular e pela imprevisibilidade e surpresa do final, onde bateu ao sprint o mais rápido Mathieu van der Poel.
O mais
Foi uma época marcada por regressos, o regresso de Mark Cavendish à ribalta depois de temporadas muito complicadas e o regresso de Fabio Jakobsen ao mais alto nível depois da terrível queda na Volta a Polónia. 4 vitórias na Volta a Turquia contra concorrência de qualidade fizeram o Míssil da Ilha de Man subir na hierarquia interna e depois de confirmada a ausência de Sam Bennett, Patrick Lefevere decidiu tentar completar o conto de fadas. Guiado por um incrível Michael Morkov, o britânico ganhou 4 etapas e levou para casa a camisola verde, a muito custo. Algo impensável em Janeiro.
Fabio Jakobsen foi regressando à competição paulatinamente apesar de bastante combalido e as primeiras corridas foram apenas para rodar. 2 vitórias no Tour de Wallonie provaram que o holandês estava a bom nível novamente, a equipa levou-o à Vuelta e foram ganhas 3 etapas e a camisola por pontos, muito acima do que se esperava, pois esta era uma época de simplesmente voltar a ser saudável.
João Almeida foi um destaque enorme, 3º no UAE Tour, 6º no Tirreno-Adriatico e 7º na Catalunha, foi ao Giro com Remco Evenepoel e um dia mau na primeira semana empurrou-o para a posição de gregário. Polémicas à parte o português não desistiu e assumiu a liderança quando o belga quebrou e acabou em 6º, próximo de ganhar 1 etapa. Apesar de estar confirmada a sua saída, manteve o profissionalismo e somou a melhor vitória da carreira na Volta a Polónia, corrida que dominou. Ainda venceu a Volta ao Luxemburgo e fez pódio no Milano-Torino e no Giro dell’Emilia, um dos maiores talentos da sua geração e que certamente vai muitas alegrias aos portugueses.
Julian Alaphilippe fez outra grande época, que já começa a ser apanágio do francês. Sagrou-se novamente campeão do Mundo, ganhou 1 etapa no Tour e andou de amarelo, voltou a conquistar a Fleche Wallonne e fez 2º na Liege-Bastogne-Liege. Ainda foi 2º na Bretagne Classic, 3º no Tour of Britain, 2º na Strade Bianche e ganhou 1 etapa no Tirreno-Adriatico. Kasper Asgreen foi brilhantes nas clássicas (conquistou o Tour des Flandres e a E3) e bastante útil nas restantes provas, aproveitando o facto de ser capaz de fazer quase tudo, até na montanha. Mattia Cattaneo foi excelente nas corridas de 1 semana e fez um Tour brilhante, Mauri Vansevenant começou a mostrar bons resultados e Mikkel Honoré somou 2 vitórias, fez vários top 5 no World Tour e começa a ser um dos elementos fundamentais da estrutura.
O menos
Sabemos que pode parecer polémico e compreendemos se discordarem, mas vamos incluir aqui Remco Evenepoel, apesar dos resultados que alcançou terem sido bastante bons depois da lesão gravíssimo que teve. Está aqui pelas atitudes que teve nos momentos cruciais, logo no Giro não foi capaz de reconhecer atempadamente que ainda não estava na condição física necessária para lutar por um pódio e foi somando declarações incendiárias. Nos Europeus perdeu para Colbrelli, que fez o que tinha de ser feito, e criticou-o. Para fechar o ano em beleza ainda fez uns Mundiais ao seu jeito, recusando um briefing colectivo depois da prova. Pode ser um talento excepcional na estrada, se esta atitude se mantiver e continuar a somar inimigos isso vai custar-lhe resultados.
Em termos de performance, não houve muitos ciclistas que tivessem estado abaixo das expectativas. Em termos de montanha, esperávamos mais influência de Dries Devenyns, e principalmente maior evolução do jovem James Knox, numa altura em que as classificações gerais começam a ser um objectivo, tem de estar mais próximo dos seus líderes, pois tem capacidade para isso. Nos sprints, Alvaro Hodeg voltou a desapontar nas oportunidades que lhe forem concedidas e foi completamente ofuscado pelos regressos à ribalta de Mark Cavendish e Fabio Jakobsen e isso acabou com a saída do colombiano que continua com o estatuto de promessa e já tem 25 anos.
O mercado
Depois de tudo o que aconteceu a saída de João Almeida era inevitável e compreensível tendo também em conta a aposta da Quick-Step em Julian Alaphilippe e agora em Remco Evenepoel, fechando o espaço das Grandes Voltas ao ciclista português, que também prefere um ambiente mais estável. Outra saída de um nome sonante é Sam Bennett, também envolvido numa controvérsia com Patrick Lefevere, que o acusou de fingir uma lesão. O irlandês deixou de ter condições para continuar e a equipa apesar de obviamente sentir a falta de um dos melhores sprinters do Mundo tem Fabio Jakobsen e Mark Cavendish para as curvas. Bennett levou com ele Shane Archbold, Alvaro Hodeg sai para a UAE Team Emirates e a 5ª e última saída foi de Ian Garrison, um corredor que não se conseguiu adaptar e que volta a casa.
As entradas reflectem que em estrutura que ganha não se mexe e que a formação belga espera que o talento que já tem evolua e também dê mais um passo em frente. Entram Ethan Vernon, Stan van Tricht e Martin Svrcek, 3 corredores muito jovens e que daqui a uns anos podem estar a vencer corridas, Mauro Schmid encontrou uma casa de luxo depois de ganhar 1 etapa no Giro e sair da Qhubeka, é um ciclista com um perfil que parece encaixar bem. Para o bloco das Grandes Voltas entrou Louis Vervaeke, que provavelmente vai correr com Remco Evenepoel.
O que esperar em 2022?
Mais uma temporada acima das 50 vitórias, em caso de calendário completo, é uma aposta fácil. O bloco das Grandes Voltas não tem um grande líder com provas dadas neste tipo de corridas e Julian Alaphilippe deve voltar a apostar nas clássicas, mas um conjunto com Remco Evenepoel, Fausto Masnada, Ilan van Wilder e Mauri Vansevenant é muito perigoso, especialmente estes 2 últimos nomes que referimos, têm tudo para surpreender. Veremos se em termos de planeamento não vai Masnada ao Giro, Alaphilippe ao Tour e Evenepoel à Vuelta, contando com a ajuda de Serry, Vervaeke, Knox, Cattaneo, Asgreen, Devenyns e Honoré na montanha.
À falta de Bennett, acreditamos que o principal sprinter da equipa seja Jakobsen e deve ser ele a ter escolha preferencial nas corridas, já que mostrou estar praticamente a 100%. Cavendish mantém-se e a sua experiência deverá valer algumas vitórias, enquanto se abriu espaço para Ballerini ser o 3º sprinter. Possivelmente Evenepoel também irá às Ardenas, se calhar para abrir a prova desde cedo e deixar Alaphilippe mais tranquilo face aos rivais.
O que continua assustador é o bloco de clássicas, encabeçado por Kasper Asgreen e que conta com um Florian Senechal que parece sempre à beira da primeira vitória em Monumentos, a espaço o francês mostra um poderio incrível. Zdenek Stybar já não é considerado um grande candidato, sendo importante na estrutura, enquanto Yves Lampaert é sempre uma alternativa válida. A juntar a este bloco temos Davide Ballarini, que é uma alternativa muito credível caso haja um sprint em grupo reduzido. Para além disso muito cuidado com Andrea Bagioli em chegadas em pequeno topo.