Uma equipa sem o poderio do passado mas que evidencia sinais francos de recuperação. 2022 foi melhor do que 2021 e 2023 melhor do que 2022. Mesmo perdendo alguns ciclistas importantes, foram impulsionados por alguns jovens ciclistas a aparecer.

 

Os dados

Vitórias: 17 triunfos com a curiosidade da larga maioria ter surgido nos primeiros 6 meses do ano, Dylan Groenewegen foi quem mais contribuiu com 6.

Pódios: 68 lugares de pódio, mais 9 face a 2022.

Dias de competição da equipa: 252 dias de provas, um aumento relativamente ao ano passado, nota-se que a equipa não quer estar embrenhada na luta pela manutenção nos próximos 2 anos.

Idade média do plantel: Rejuvenesceram um pouco o plantel, a média é agora de 28,9 anos.

Mais kms: Matteo Sobrero foi o maratonista com 12 462 kms

Melhor vitória: Escolho a de Filippo Zana na Volta a Itália, a maior vitória da sua carreira com a camisola de campeão italiano na “sua” Grande Volta e numa jornada de alta montanha.

 

O mais

Simon Yates foi um ciclista que não se deu muito por ele e que discretamente fez um belíssimo ano, o melhor desde 2018 e devo dizer que não estava nada à espera. Com exibições altamente pragmáticas foi 4º no Tour, 5º na Lombardia, 6º em Montreal, 9º no País Basco, 4º no Paris-Nice e 2º no Tour Down Under.




Devo dizer que uma das surpresas do ano para mim foi o desempenho de Eddie Dunbar na Volta a Itália, nunca pensei que o irlandês desse um possível ciclista de 3 semanas pelas suas debilidades. O que é certo é que maximizou o seu rendimento e finalizou em 7º, o que é ainda mais impressionante tendo em conta que uma queda em Valência afectou a sua preparação, depois do Giro claramente acusou o cansaço.

Filippo Zana mostrou que realmente é um grande perigo na montanha, fez um Giro espectacular na caça de etapas e a ajudar Dunbar, foi ganhar a Volta a Eslovénia e ainda teve energia para fazer boas clássicas italianas. Chris Harper foi incansável na ajuda aos seus líderes, um dos melhores gregários da equipa, de longe. Os jovens Felix Engelhardt (campeão europeu de 2022) e o colombiano Jesus David Pena tiveram uma subida de rendimento enorme e a equipa já os deverá ver com outros olhos para 2024.

 

O menos

A maior desilusão foi mesmo Michael Matthews, apesar de ter ganho no Giro e ter feito mais alguns pódios, tem responsabilidade e currículo para fazer muito mais. Nunca se sentiu que fosse um perigo nas corridas de média montanha e foi mesmo a pior época dos últimos 10 anos. Lembramos que a equipa já fez algumas escolhas complicadas em prol do australiano, veremos se aos 33 anos consegue dar a volta tendo em conta que está a perder alguma da explosão que tinha.

Matteo Sobrero foi um corredor que impressionou a espaços, mas com uma inconsistência tremenda, lembrando que foi uma excelente revelação em 2022, mostrou-se um pouco…perdido em 2023. Nota-se que melhorou na montanha, não o suficiente para andar a discutir provas por etapas para ganhar e com isso perdeu no contra-relógio, ficou ali um pouco no limbo. Lucas Hamilton foi um corredor que caiu imenso nos últimos 2 anos, e pensar que se falava nele para disputar top 10 de Grandes Voltas, mesmo a equipa já não lhe confia a liderança em corridas importantes.

Outro italiano que não deslumbrou foi Kevin Colleoni, muito apagado a temporada toda e de resto o bloco das clássicas foi uma miragem, Amund Jansen, Luke Durbridge e Zdenek Stybar nunca foram factores impactantes nas corridas.

 

O mercado

Eu diria que a única grande perda desta janela de transferências para a equipa é Matteo Sobrero, é o corredor com mais potencial dos que saem e que mesmo no presente mais oferecia. Tsgabu Grmay, Alexandre Balmer e Kevin Colleoni nunca pertenceram ao núcleo duro, Lukas Postlberger até fez provas importantes, mas não era um elemento fulcral e Zdenek Stybar já não mostrava pernas para andar com os melhores. Um mercado destes nunca poderá ser considerado negativo, creio eu.




Relativamente aos reforços, creio que Luke Plapp consegue perfeitamente fazer as vezes de Sobrero e Max Walscheid entra para fortalecer o bloco de clássicas/sprinters. Regressa Caleb Ewan, talvez volte a encontrar um rumo de carreira num ambiente mais “caseiro” e creio que a contratação de Mauro Schmid é genial, das melhores deste mercado, o suíço é um talento com “T” grande. Davide de Pretto e Anders Foldager são 2 belíssimos talentos sub-23 para a equipa desenvolver.

 

O que esperar em 2024?

Com um saldo de mercado que considerado positivo creio que a equipa tem tudo para ascender mais alguns lugares no ranking, a entrada no top 10 é muito possível. A questão é que a dependência de Simon Yates e Dylan Groenewegen foi muito grande este ano, será que as entradas de Schmid e Ewan podem colmatar uma possível baixa de rendimento destes 2 líderes? Já para não falar do sub-rendimento de Matthews em 2023. É que acho quase impossível Simon Yates, com a concorrência que existe, fazer uma época melhor.

No bloco das provas por etapas o líder óbvio é Simon Yates com os gregários Harper, Hamilton, Craddock e de Marchi. Depois existe a questão Dunbar (será que foi o único top 10 em Grandes Voltas na carreira?) e ainda mais proeminente, o que será de Filippo Zana? Pensar na geral ou continuar a atacar etapas? Acho que pode perfeitamente partir com a liderança no Giro. Neste leque de corredores ainda se poderá colocar Luke Plapp (muito bom no contra-relógio, muito inconsistente e com lacunas na montanha) e Jesus David Pena (trepador de grande qualidade, com falhas noutros terrenos).

Para as clássicas não prevejo grandes melhorias, pelo menos nas do empedrado, o bloco não foi muito reforçado, enquanto acho que Felix Engelhardt pode fazer uma grande gracinha nas Ardenas, a par de Mauro Schmid. É que o alemão para além de fazer um bom 2023, foi ainda fazer a Vuelta e por vezes quando jovens destes conseguem completar uma Grande Volta, nota-se o salto qualitativo no ano seguinte. Talvez Matthews aqui seja mais usado como carta caso tudo se junte para um sprint.

Para os sprints é que considero este alinhamento talvez top 5 mundial. 2 sprinters que no seu melhor conseguem ombrear com os melhores do Mundo (Groenewegen e Ewan), mesmo com as suas debilidades, e depois um conjunto de lançadores/ciclistas rápidos de excelência, apesar de alguns com algum foco na pista. Falo de Mezgec, Kelland O’Brien, Walscheid, Blake Quick, Hepburn, Amund Jansen, Scotson e Campbell Stewart, aqui acho que ainda há espaço para crescer e melhorar o rendimento.

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