Não é muito habitual na formação espanhola, mas foram os sprinters a salvar a honra do convento, num ano em que os trepadores estiveram bem escondidos. Globalmente um elenco bem jovem e que conseguiu superar o grande desafio do defeso, manter as principais figuras da equipa.

Os dados

Vitórias: 15 triunfos em 2023, com alguns dados curiosos, Portugal foi o terreno predilecto para caçar, com 7 vitórias. Orluis Aular e Iuri Leitão os melhores caçadores, com 6 e 5 sucessos, respectivamente, e mais de 90% das vitórias foram ao sprint.

Pódios: 36 pódios ao todo, até foram bastante eficazes quando tiveram a oportunidade de ganhar.

Dias de competição da equipa: 166 dias de provas, é uma equipa que tem um plantel muito vasto e que por isso também compete muito, inclusivamente foi à Malásia no final do ano.

Idade média do plantel: Com Eduard Prades a puxar muito esta média para cima, ainda assim cifrou-se nos 26,2 anos.

Mais kms: 4 ciclistas acima da barreira dos 10 000 kms de competição, Jon Barrenetxea superou Eduard Prades, com mais de 11 000 kms

Melhor vitória: Em termos de pontos a Volta a Grécia e a Cro Race estão equiparadas, é verdade que Orluis Aular bateu concorrência de peso na Croácia, como Kristoff, Sheffield ou Hayter, mas o triunfo de Iuri Leitão na Grécia aqueceu mais o coração dos portugueses.




O mais

Orluis Aular já tinha mostrado em épocas anteriores do que era capaz, mas nunca a este nível e o pelotão nacional conhece-o bem e reforçou esse conhecimento este ano. Foi claramente o mais forte na sequência Clássica da Arrábida/Volta ao Alentejo, foi fazendo alguns resultados de destaque ao longo do ano em provas importantes até que explodiu na Vuelta, com 2 top 10 e 1 pódio e viria a levar para casa a Cro Race. De lembrar que a Caja Rural foi buscá-lo a uma equipa japonesa em 2020 e a partir daí tem evidenciado sinais de evolução, sendo um perigo em grupos reduzidos e em chegadas com alguma inclinação.

Iuri Leitão foi uma revelação na estrada a este nível e é preciso recordar que o ciclista português ainda está a conjugar esta vertente com a pista. Ele até começou a temporada bem discreto, mas a partir de Maio, quando ganhou a Volta a Grécia, foi sempre a acelerar, venceu no G.P. Beiras, disputou os sprints no Tour Poitou Charentes e na Volta a Eslováquia contra boa concorrência e voltou a picar o ponto na Cro Race. 2024 será um ano muito importante na carreira de Iuri Leitão, ano de Jogos Olímpicos, um grande objectivo pessoal.

Jon Barrenetxea deixou boas indicações, tão boas que vai dar o salto para a Movistar em 2024, Daniel Babor mostrou na Volta a Portugal e depois no Tour de Langkawi que também consegue dar vitórias à Caja Rural.

O menos

Aqui é preciso destacar o bloco mais experientes de trepadores que a formação ibérica tem, especialmente os sul-americanos. Jefferson Cepeda só fez 2 top 10 ao longo do ano, Jhojan Garcia e Yesid Pira mal se viram e mesmo Michal Schlegel voltou a desapontar tal como em 2022, depois de ter feito um excelente 2021 ao serviço da Elkov-Kasper.

Depois há 2 corredores que tinham responsabilidade de fazer muito mais, Joel Nicolau piorou e muito os resultados face à temporada passada e logo quando tinha a porta mais aberta para se mostrar, só para se ter uma noção, em 2023 fez 32 pontos UCI contra mais de 120 em 2022. Na mesma onda temos Fernando Barceló, uma contratação de 2022 que levantou muita expectativa, ainda apareceu a espaços no ano passado, mas nesta temporada esteve bem abaixo a partir de Março. Creio que não se pode pedir muito mais a um Eduard Prades que não estará longe de terminar a carreira.

O mercado

Julen Amezqueta foi para um novo projecto espanhol, Eduard Prades ainda não tem destino conhecido, Sergio Martin terminou a carreira, Garcia e Pira não renovaram e Barrenetxea saiu para a Movistar. No entanto, creio que o maior triunfo deste mercado foi mesmo não terem perdido muitos ciclistas para as equipas World Tour e manter quase a espinha dorsal intacta.




Em termos de reforços é muito simples, 4 corredores provenientes da equipa de formação, o que vem reforçar o que dissemos sobre a Caja Rural no ano passado, fazer esta transição não é fácil e tem as suas dores de crescimento. Destes jovens o que levanta mais expectativa é Jaume Guardeno, vencedor da classificação da juventude da última Volta a Portugal, tendo terminado inclusivamente no top 20 da geral.

A equipa anunciou hoje o australiano Sebastian Berwick, que é uma excelente contratação tendo em conta as ambições da Caja Rural. 13º no Tour Down Under, vencedor do Tour Alsace e 2º no Tour of Hainan, tem margem de evolução e ainda este ano fez quase 400 pontos para o ranking UCI. Claramente os responsáveis sentiram que a parte da montanha era uma lacuna.

O que esperar em 2024?

Não vai ser nada fácil superar o que fizeram em termos de números este ano, mais do que duplicaram as vitórias e aumentaram em cerca de 50% os pódios face a 2022, também por isso estão 1 posição acima no ranking. Neste momento a galinha dos ovos de ouro da equipa está nos sprints e devido a todas as circunstâncias do UCI World Ranking para os convites nos anos seguintes, têm de apostar em acumular pontos, para isso é necessário diversificar o calendário e apostar nas clássicas, que têm uma rentabilidade enorme nesse departamento.

Orluis Aular estará mais focado em corridas como a Cro Race, provas por etapas que tenham bonificações e média montanha, enquanto Babor e Iuri Leitão têm mais aptidões para os sprints puros. O checo pode aproveitar os meses em que o português estará mais focado na pista.s Epero um final de temporada poderoso, tal como em 2023 para Iuri Leitão.

Na montanha, a equipa espera e ambiciona que Barceló e Nicolau voltem ao nível de 2021 e 2022, com particular curiosidade para o que poderá fazer Jaume Guardeno e Jokin Murguialday, igualmente antigo vencedor da classificação da juventude na Volta a Portugal. Sebastian Berwick é alguém que na Europa ainda não mostrou muito, mas é uma segurança nas corridas asiáticas, que dão muitos pontos para o Ranking UCI

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