Vencedores do UCI World Ranking, foram batidos de forma categórica pela Jumbo-Visma nas Grandes Voltas e querem dar a volta a isso em 2024. Será que a mudança de calendário de Tadej Pogacar vai resultar? Será a equipa World Tour com mais portugueses no plantel, João Almeida, António Morgado, Ivo Oliveira e Rui Oliveira.

 

Os dados

Vitórias: 57 triunfos, 28 deles no World Tour, ambos os números são um recorde para a UAE e algo muito complicado de bater.

Pódios: 149 pódios, também um registo impressionante.

Dias de competição da equipa: 278 dias, o que é bastante, foi uma equipa um pouco obstinada pelo UCI World Ranking

Idade média do plantel: 28,6 anos, algo que baixou bastante para 2024, que que evidenciava bem os extremos da equipa em 2023

Mais kms: Um nome um pouco inesperado, Domen Novak fez 13 115 kms em 2023

Melhor vitória: Num duelo incrível e a levar o público à loucura, Tadej Pogacar ganhou o Tour des Flandres, algo ainda mais incrível se pensarmos que o esloveno já ganhou o Tour por 2 vezes.

 

O mais

Começam a faltar adjectivos para o que Tadej Pogacar consegue fazer. O esloveno conseguiu ser brilhante mais uma vez, mesmo perdendo novamente o Tour para Vingegaard, são dois corredores completamente distintos. Leva para casa 2 Monumentos, Tour des Flandres e Giro di Lombardia, 2 clássicas das Ardenas, Amstel e Fleche, tendo depois caído e abandonado na Liege, já para não falar da medalha nos Mundiais, do Paris-Nice, enfim, é o corredor mais completo do Mundo neste momento.

Adam Yates surpreendeu-me, não estava à espera que se conseguisse impor desta forma e sim, o britânico foi imponente, 3º no UAE Tour, 1º no Tour de Romandie, 2º no Dauphine, 3º no Tour e vencedor do G.P. Montreal. Mostrou que ao contrário do que pensava talvez tenha feito a decisão certa ao mudar-se para a UAE Team Emirates.




Em termos de pontos UCI, Marc Hirschi foi o 12º melhor ciclista do ano, na realidade exibiu-se a bom nível nas corridas mais secundárias, mas no World Tour não fez qualquer pódio. Os números enganam e ainda está bem longe das pernas de 2020, no entanto, foi crucial para o triunfo colectivo. João Almeida voltou a realizar uma belíssima temporada, ganhou 1 etapa na Volta a Itália e finalizou em 3º, o seu melhor resultado de sempre numa Grande Volta, depois na Vuelta teve um dia mau e lutou que nem um leão para terminar em 9º ainda dando uma ajuda a Juan Ayuso. Gostava que em 2024 tivesse um planeamento diferente e também desse uma oportunidade a sério às Ardenas, algo que parece que irá acontecer.

Felix Grossschartner foi o corredor que mais me surpreendeu na categoria dos gregários pela sua capacidade física, presença constante e regularidade, alguém que nem tinha muita experiência nestas funções, foi de facto uma boa aposta e certamente ganhou um lugar no principal bloco para 2024. A esse nível também Brandon McNulty e Mikkel Bjerg voltaram a mostrar que se pode contar com eles.

Juan Sebastian Molano exibiu-se a muito bom nível, substituindo mesmo Pascal Ackermann, e o colombiano contou a preciosa ajuda dos gémeos Oliveira ao longo do ano. Ganhou no UAE Tour, na Volta a Burgos, na Vuelta e em Guangxi, entre outros.

 

O menos

Jay Vine não mostrou sinais de melhoria naquilo que falhava mais, consistência. Um ciclista que é capaz de ganhar o Tour Down Under e depois fazer um Giro quase anónimo, já para não falar do final de época em que não acabou a Vuelta e depois não levou de vencida a Volta a Turquia, onde era claramente o maior candidato. Dá a ideia que vai ser sempre aquele corredor que é considerado candidato a tudo, mas todos temos medo de o meter em qualquer equipa de “fantasy”.

George Bennett foi contratado à formação rival para estar junto dos líderes nas principais corridas, no entanto o neozelandês nunca mostrou essa capacidade nas provas de preparação e devido a isso ficou de fora das principais corridas, algo que acaba por ser normal acontecer. Alguém que ainda recentemente fez top 10 em Grandes Voltas tem obrigação de fazer melhor.

Alessandro Covi foi uma miragem do que fez em 2021 e 2022. Creio que é daqueles ciclistas que a UAE não pode ter para chegar ao nível da Jumbo, para além de ser inconsistente não tem muita experiência em grandes provas e ter uma mentalidade ofensiva que para os grandes líderes não é assim tão útil. Pascal Ackermann sai de 2023 com um triunfo no Giro, mas apenas somou mais essa e outra vitória, manifestamente curto para a sua capacidade e potencial. Sai naturalmente para uma equipa onde será mais apoiado.




O alemão Felix Gross não só não concluiu mais de metade das corridas, mas também ficou ligado a um episódio menos feliz já no final da época em que foi filmado a treinar agarrado a um camião, está de saída.

 

O mercado

Foi uma janela de transferências cirúrgica, 6 entradas e 7 saídas, globalmente decidiram apostar ainda mais na juventude. Entram 4 dos maiores talentos sub-23 que andavam por aí: o português António Morgado, o mexicano Isaac del Toro, o espanhol Igor Arrieta e o italiano Filippo Baroncini, este último já com alguma experiência da Lidl-Trek. Nils Politt será um reforço para o terreno plano e para as clássicas do empedrado, um pouco em substituição de Matteo Trentin, enquanto Pavel Sivakov vem fazer o lugar ocupado por Davide Formolo anteriormente na estrutura.

Deixam a equipa os mencionados Formolo e Trentin, foram contratados substitutos porque tinham um papel importante. Pascal Ackermann, sem grande rendimento e sem grandes oportunidades, sai de forma um pouco natural, bem como o compatriota Felix Gross, que não se desenvolveu como esperado. Jan Polanc retira-se, George Bennett segue o mesmo caminho de Ackermann e Ryan Gibbons segue para a Lidl-Trek.

 

O que esperar em 2024?

Primeiro que tudo espero uma equipa mais ambiciosa no que toca às grandes corridas e não com o pensamento de ganhar o UCI World Ranking para poder afirmar que é a melhor equipa do ano. Creio que será quase unânime afirmar que, apesar de ter ganho esse ranking este ano, ficou atrás da Jumbo-Visma em termos de rendimento pelo que se passou principalmente nas Grandes Voltas.

Repetir o mesmo planeamento esperando resultados diferentes seria quase esperar um milagre, portanto creio que a equipa faz bem em alterar o “status quo” e até tentar antecipar-se à Jumbo, forçando-os a fazer uma escolha sabendo que agora não têm Roglic. Hoje foi dia de imprensa no estágio da equipa e ficou a saber-se que Pogacar vai mesmo fazer Giro-Tour, que Ayuso se estreia na Volta a França e que o esloveno não vai a qualquer clássica do empedrado, também com o pensamento nos Mundiais e nos Jogos Olímpicos. Isto abre outras perspectivas para as clássicas a corredores como Wellens ou Politt, especialmente o alemão.




Pogacar já tinha falado nesta dobradinha como opção para 2023, mencionando os riscos da mesma, de não chegar a 100% ao Tour e de eventualmente demorar depois muito tempo para recuperar. A alguma distância e faltando mais confirmações, diria que Pogacar faz Giro-Tour e que Ayuso faz Tour-Vuelta. João Almeida disse publicamente que fazer o Giro todos os anos é um pouco saturante e que era favorável a uma mudança, a equipa acedeu aos seus desejos e irá focar-se no Tour, talvez também pensando na Vuelta. Dos líderes só resta Adam Yates, que até pode focar um pouco mais nas Ardenas com Pogacar fora da Amstel e da Fleche.

Tem de haver uma ponderação muito grande também na parte dos gregários para a montanha, não há assim tantos que sejam muito fiáveis. Conto Sivakov, Soler, McNulty, Majka e Grosschartner, que dêem mesmo garantias. Corredores como Vine, Fisher-Black, Del Toro ou António Morgado ainda são incertezas. António Morgado, Ivo Oliveira e Rui Oliveira vão sempre ter as suas oportunidades, em especial nas clássicas, o primeiro nas Ardenas, os gémeos Oliveira nas corridas do empedrado, que farão com Politt e Wellens. 

Globalmente espero um maior equilíbrio de forças, ter Roglic era um factor muito importante para a Jumbo-Visma, o esloveno era um perigo em todos os terrenos e mesmo que a equipa neerlandesa conte com Uijtdebroeks não é a mesma coisa, não tem a mesma explosão, a mesma capacidade no sprint, nos contra-relógios e nas clássicas, a menos que saque um grande coelho da cartola, temos tudo para ter uma época menos hegemónica.

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