Não foi uma época muito positiva para a Bora-Hansgrohe, que caiu 4 lugares no ranking. Passou de ganhar o Giro, fazer top 5 no Tour, vencer 2 provas de 1 semana do World Tour e 2 clássicas do World Tour para não fazer top 5 em qualquer Grande Volta, não fazer qualquer pódio em provas de 1 semana e não levou qualquer clássica para casa.

 

Os dados

Vitórias: 23 triunfos, 7 deles no World Tour e até com uma boa eficácia em Grandes Voltas, ganhou nas 3. Tinha ganho 30 corridas em 2022

Pódios: 90 lugares de pódio, neste patamar até superar o registo do ano passado, em que tinha feito 75.

Dias de competição da equipa: 276 dias, algo que se enquadra numa equipa deste género.

Idade média do plantel: 28,5 anos, não é propriamente um plantel muito jovem.

Mais kms: Nils Politt, que está de saída, foi o único a superar os 13 000 kms.

Melhor vitória: Escolho a de Jay Hindley na Volta a França e que colocou o australiano numa posição muito boa para atacar o pódio, foi uma jornada percorrida a grande velocidade e muito ofensiva.

 

O mais

Foi uma boa temporada para a maioria dos sprinters da equipa e quem vem à cabeça é o belga Jordi Meeus, que começou o ano com 4 pódios e depois andou um pouco desaparecido, daí ser uma surpresa a sua chamada para o Tour, em detrimento de Sam Bennett. No entanto, mostrou que a equipa estava certa ao ganhar nos Campos Elíseos, num dia em que poucos esperavam, um momento marcante na carreira.

A época da Danny van Poppel voltou a ser muito boa, mesmo estando muitas vezes no papel de lançador, às vezes até o próprio sprinter tinha dificuldades em acompanhar. Venceu a clássica de Colónia, foi 2º na clássica de Hamburgo e entre a Volta a Alemanha e o Tour of Britain fez 7 pódios.




Vimos um Lennard Kamna diferente em 2023, discreto mas muito eficaz na primeira metade do ano ao ser 4º no Tirreno-Adriatico e 9º no Giro, depois bem mais ofensivo na Vuelta onde averbou mais uma etapa. Cian Uijtdebroeks, o ciclista do momento, foi uma positiva surpresa pelo nível a que se bateu com os melhores apenas com 20 anos, 9º na Volta a Catalunha, 6º no Tour de Romandie, 7º na Volta a Suíça e 8º na Vuelta, tem ainda muito a trabalhar, mas parecia um veterano a correr. 

Ben Zwiehoff fartou-se de andar bem em corridas de menor dimensão, 2º na Volta a República Checa e na Volta a Turquia, 8º no UAE Tour, 7º na Coppi e Bartali e na Volta a Eslovénia. Nico Denz foi a grande estrela no Giro na equipa com 2 vitórias em etapa e Florian Lipowitz também subiu um patamar qualitativo.

 

O menos

Quase todos os grandes nomes. A preparação cuidada de Jai Hindley para o Tour não surpreendeu, o australiano já nos habituou a precisar de algumas corridas para aquecer os motores e o 4º lugar no Dauphine até deixou uma boa impressão. Pensava-se que até poderia lutar pelo pódio após a primeira semana, só que depois quebrou completamente e passar de ganhar o Giro para fazer 7º no Tour e pouco mais durante o ano é manifestamente pouco. Nunca fui um grande fã de Aleksandr Vlasov e considero que o russo nunca vai disputar Grandes Voltas, não é ciclista para isso, mas reconheço que a época de 2022 dele foi brilhante, e que 2023 não foi nada mau, seria injusto dar-lhe um grande destaque aqui quando sozinho fez 2000 pontos UCI.

Sam Bennett saiu da Quick-Step e voltou a uma casa que bem conhecia e a aposta não correu bem para nenhum lado. O irlandês sai da equipa sem conseguir ganhar no World Tour ao longo de 2023, só picou o ponto na Vuelta a San Juan e no Sibiu Tour e ainda pior é a imagem de debilidade com que sai para a Ag2r, depois de por vezes nem sequer conseguir seguir os bons lançamentos de Danny van Poppel. Quer provar que não é produto da máquina Quick-Step, terá de o fazer rapidamente.

Sergio Higuita foi uma das desilusões do ano. Que temporada completamente falhada por parte do pequeno colombiano, só me lembro de o ver a um bom nível na Volta ao País Basco, de resto passou completamente ao lado nas Ardenas, nas provas de 1 semana e na Vuelta nem se fala.

Não posso recriminar muito Nils Politt pela falta de resultados nas clássicas do empedrado, o alemão correu quase sempre muito isolado e o nível aí subiu muito recentemente. Na altura não percebi muito bem a saída de Bob Jungels da Ag2r e não me lembro de o ver ao longo de 2023 não obstante ter feito o Giro e o Tour, foi daquelas decisões de carreira que desportivamente não se compreende muito bem. E por fim, começo a achar que nunca mais vamos ter o Maximilian Schachmann de 2019-2020-2021, um corredor capaz de ganhar provas de 1 semana e fazer pódio em Monumentos, esteve muito longe desse nível.

 

O mercado

Bom, está a ser um mercado… muito especial. É daquelas equipas que não consigo decifrar se ficaram mais fortes ou mais fracas. A contratação de Primoz Roglic é muito especial, de um ciclista que esteve entre os 10 melhores do Mundo nos últimos anos, vai ser líder incontestado e quer juntar o Tour às 3 Vueltas e ao Giro que já conquistou. Não me parece que seja um planeamento a longo prazo, o esloveno já tem 34 anos e perder Cian Uijtdebroeks, um jovem valor com apenas 20 anos não é assim tão vantajoso apesar de Roglic dar muitas garantias a curto prazo. Não gosto da contratação de Daniel Martinez a menos que o colombiano venha com a mentalidade de apenas trabalhar para Roglic/Hindley, porque se for mais um potencial líder parece curto e confusão a mais. Em relação a entradas, Welsford vem fazer as vezes de Bennett, Herzog tem o potencial de ser um talento geracional se continuar assim e Sobrero poderá ser um bom gregário.




Também perdem ciclistas muito importantes, creio que são desfalques importantes para os blocos em vários terrenos. As saídas de Bennett, Archbold e Walls são naturais, há sprinters para os lugares deles, mas não vejo ninguém com a capacidade de fazer o que Nils Politt faz para os líderes no terreno plano. Fabbro e Konrad já mostraram várias vezes que se sacrificam pela equipa também.

 

O que esperar em 2024?

A entrada de Primoz Roglic é certamente marcante e fica aquela dúvida, será que o esloveno terá o mesmo rendimento do que na Jumbo-Visma? Aos 34 anos sabe que o tempo não corre propriamente a ser favor, terá a liderança no Tour com um bloco provavelmente pensado só para ele, acredito que tenha Haller, van Poppel, Martinez, Buchmann, talvez Jungles e Sobrero. Onde ficam Hindley e Vlasov no meio disto tudo? O australiano deve fazer força para ir ao Giro tentar repetir a gracinha de 2022 e o melhor que Vlasov tem a fazer é apostar tudo nas clássicas e nas corridas de 1 semana porque Roglic deve ir à Vuelta. 

E o que é feito dos sprinters? Será que têm o caminho do Tour tapado pela liderança de Roglic? Não aconteceu isso em 2023 com Hindley, só que o esloveno tem outro peso, e caso vá 1 sprinter a escolha será entre Meeus e Welsford, ficando a Vuelta para o que não for, ou eventualmente para ambos. A Bora-Hansgrohe está apostada nas Grandes Voltas, acho que também deveria apostar forte nas clássicas. Um bloco com Roglic, Martinez, Higuita e Vlasov soa muito bem e ficam com uma espécie de seguro caso haja azares nas corridas de 3 semanas. 

No entanto, reafirmo o que disse acima, não gosto muito da construção deste plantel, não estou a ver a equipa alemã a voltar ao top 5 em 2024, muito menos com a instabilidade com que se vai entrar na próxima temporada e mantenho algumas reservas sobre se Roglic consegue manter o nível da Jumbo-Visma.

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