Hora para aquela que foi, para nós e no ranking da UCI, a pior equipa World Tour este ano. A Astana teve uma época muito, muito má, ao ponto de não conseguir qualquer vitória no World Tour, sendo que mesmo no total só somou uma mão cheia de sucessos em provas menores. Rumores de salários em atraso, clara falta de motivação e a maioria do plantel em sub-rendimento, algo tem de mudar drasticamente numa estrutura que não parece ter muito futuro a longo prazo.

 

Os dados

Vitórias: 5, neste departamento uma temporada digna de uma ProTeam de meio da tabela.

Pódios: Um total de 30 pódios, foi uma formação que bateu muitas vezes na trave, fruto também de pressão acrescida pela falta de confiança. 6 dos pódios foram no World Tour.

Dias de competição da equipa: A equipa participou em 68 corridas, totalizando 253 dias de competição

Idade média do plantel: 28,2 anos, um plantel manifestamente envelhecido.

Mais kms: Na sua última época como ciclista profissional Vincenzo Nibali totalizou 12 246 kms, mostrando que velhos são os trapos.

Melhor vitória: Não havendo muitas por onde escolher, vou não pela categoria da prova, mas pela espectacularidade da exibição, opto pelo triunfo de Alexey Lutsenko na Classica Jaen Paraiso, onde o cazaque protagonizou um longo solo.



O mais

Para mim a maior surpresa foi ver o rendimento de Vincenzo Nibali numa fase tão adiantada da carreira, quando o Giro começou nunca pensei que o “Tubarão de Messina” tivesse nas pernas um 4º lugar na geral, fez uma corrida sempre muito calma e ponderada, nunca perdendo tempo em momentos desnecessários. Como estava perto da liderança não pôde dar tanto espectáculo como gostaria.

Não foi uma época incrível por parte de Miguel Angel Lopez, foi um ano à…Miguel Angel Lopez. Abriu muito bem em Espanha, desapareceu e abandonou o Giro de uma forma estranha e precoce e reapareceu na Vuelta a Burgos para depois fazer 4º na Vuelta. Continua a ser um corredor pouco confiável, inconsistente e muito enigmático, de certa maneira sente-se que está na equipa certa.

Samuele Battistella continuou a sua evolução, foi muito afectado por problemas físicos e quedas, quando esteve em forma e saudável foi uma ameaça em muitas corridas, esteve muito perto de ganhar na Vuelta. Gleb Syritsa e Yevgeniy Fedorov deixaram boas impressões e são apostas para o futuro.

 

O menos

De longe, mas de muito longe, Gianni Moscon. O grande líder da equipa para as clássicas, alguém que já fez pódios em Monumentos e em 2021 foi 4º no Paris-Roubaix, em 2022 os únicos top 10 que fez foi no…Tour de Langkawi. Acho que não é preciso explicar mais nada sobre a época do italiano. Como grande líder e como melhor ciclista cazaque da actualidade, Alexey Lutsenko tem responsabilidade de fazer mais, foi um discreto 8º no Tour e ganhou uma clássica logo a abrir o ano, de resto foi uma sombra de si mesmo e na Vuelta nem para andar em fugas tinha pernas.




Valerio Conti piorou bastante as suas prestações, Alexandr Riabushenko continua a não mostrar o que prometia e a falta de evolução de Javier Romo foi algo desapontante. Os trepadores David de la Cruz e Joe Dombrowski estiveram vários furos abaixo do que tinham feito em temporadas anteriores, não só em termos individuais, mas também na ajuda aos colegas em momentos decisivos.

 

O mercado

Foi um defeso relativamente calmo, a equipa já sabia com antecedência que iria perder o contributo de Vincenzo Nibali e optou por não recrutar qualquer líder para substituir o italiano. As saídas de Stefan de Bod e Valerio Conti poderão ter algum impacto, principalmente o sul-africano que andava bem em todos os terrenos. Deixam a equipa igualmente Vadim Pronskiy, Sebastian Henao e Michele Gazzoli.

Nas contratações não há assim um grande destaque a fazer, Luis Leon Sanchez regressa a uma casa que bem conhece para trazer ainda mais experiência, Martin Laas será uma opção para os sprints a par de Gleb Syritsa, o gigante russo impressionou nos últimos meses da época como estagiário. Igor Chzhan e Gianmarco Garofoli são as restantes entradas confirmadas.

 

O que esperar em 2023?

Não auguro nada de incrível por parte da Astana, a menos que subitamente Moscon volte ao seu melhor nível e Lopez encontre uma consistência até agora perdida pelas estradas. Sem grandes segundas opções, poderá voltar a ser uma temporada em que ficam entre as 3 ou 5 piores equipas do World Tour. O salvador da pátria cazaque até poderá ser um italiano, caso Samuele Battistella consiga contornar os azares e problemas físicos que o têm apoquentado. Já se viu que Yevgeniy Fedorov é um diamante a lapidar, certamente que terá algum espaço para evoluir. Veremos se neste contexto de luta trianual pelo World Tour a Astana não fica já em xeque no primeiro ano.

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