Um conjunto bom, liderado por um ciclista do outro Mundo, que realizou das melhores temporadas de sempre no ciclismo. O fenómeno Tadej Pogacar, aos 23 anos, somou quase metade das vitórias e dos pontos conquistados por este super-projecto, que ambiciona ser a melhor equipa do Mundo e está a dar passos para isso.
Os dados
Vitórias: Um total de 32 triunfos, ganharam em todas as Grandes Voltas e em termos de % de triunfos no World Tour foi das equipas que teve mais, 15 em 32
Pódios: Um número impressionante de 98 pódios
Dias de competição da equipa: 246 dias, não é das equipas com o calendário mais extenso
Mais kms: O maratonista foi Matteo Trentin, com 12 364 kms
Idade média do plantel: 28,2 anos, será bem mais jovem em 2022 com a saída de alguns trintões
Melhor vitória: Houve muitas, vem à cabeça a de Majka na Vuelta, ou a de Pogacar no Tirreno, mas elegemos o primeiro triunfo de Pogacar no Tour, onde aniquilou a competição e praticamente arrumou a prova. Atacou de longe até seguir sozinho e mais ninguém lhe colocou a vista em cima.
O mais
Obviamente Tadej Pogacar merece um destaque mais do que especial depois da época surreal que fez. Venceu o UAE Tour, o Tirreno-Adriatico, fez 3º na Volta ao País Basco, ganhou a Liege-Bastogne-Liege, dominou o Tour quase de início ao fim e a sua vitória nunca esteve verdadeiramente ameaçada, foi medalhado de bronze nos Jogos Olímpicos e ainda levou para casa o Giro di Lombardia, foi literalmente uma temporada a ganhar de Fevereiro a Outubro. O mais assustador é que o esloveno apenas tem 23 anos e para o ano quer ganhar o 3º Tour consecutivo, quer vencer mais Monumentos e vai pela primeira vez na carreira fazer 2 Grandes Voltas no mesmo ano. Parece imparável.
A Matteo Trentin faltaram essencialmente as vitórias, fez pódio na Brabantse Pijl e na Gent-Wevelgem e ainda 2 pódios na Vuelta, foi uma época a bater na trave, mas onde esteve quase sempre na disputa pelas corridas, foi muito mais perigoso nas clássicas do que Alexander Kristoff. Se Pogacar tivesse sido mais acompanhado em termos de resultados provavelmente até teriam entrado no pódio, é ainda de notar a excelente época que Alessandro Covi fez, um corredor que deu claramente um salto exibicional grande ao ficar muito perto de ganhar 2 etapas no Giro, fazer 5º na Clássica San Sebastian e mais 5 pódios no último mês competitivo. Nota ainda para bons trabalhos de Majka ou Formolo ou Rui Costa para Pogacar.
O menos
Para uma equipa que ficou em 4º lugar no ranking mesmo assim houve alguns corredores em sub-rendimento, principalmente porque foi o “Pogacar show” durante 2021. Neste campo claramente os sprinters não estiveram nada bem, Fernando Gaviria só picou o ponto 1 vez, passou praticamente ao lado do Giro e pareceu sempre sem confiança para estar no sítio certo à hora certa, até porque por vezes mostrou uma capacidade física surpreendente. Alexander Kristoff falhou rotundamente nas clássicas e a partir daí fez um calendário com poucas corridas World Tour, tendo alcançado bons resultados no circuito Continental europeu, algo perfeitamente normal tendo em conta o ciclista que é, manifestamente insuficiente para a reputação que tem.
Os portugueses também esperavam mais de Rui Costa, numa perspectiva de ex-campeão do Mundo e vencedor de etapas em Grandes Voltas. O ciclista luso começou mal a temporada, foi melhorando até ao 7º posto na Volta a Suíça e isso valeu-lhe a convocatória para o Tour, onde desempenhou um papel de gregário para Tadej Pogacar, esperava-se mais maioritariamente nas Ardenas. Por falar em Ardenas, Marc Hirschi foi uma sombra do que mostrou em 2020, faltou claramente aquela explosão que o caracteriza tão bem. Ainda foi 6º na Liege-Bastogne-Liege, passou um Tour com muitas dificuldades físicas e no final da época deu alguns sinais de regressar ao seu nível. Entre os jovens em evolução a estagnação de Alexandr Riabushenko foi uma desilusão, o bielorusso alcançou excelentes resultados em 2018 e 2019, que não foi capaz de replicar.
O mercado
Foi uma janela de transferências cirúrgica de quem quer subir ainda mais apesar de já estar no topo ou perto dele e de ter conquistado os últimos 2 Tour’s. O grande reforço é João Almeida, a própria imprensa internacional reconhece que esta foi uma das transferências deste defeso. O ciclista português vai ter liberdade para os seus objectivos que incluem o Giro novamente e vai contar com uma forte equipa com ele. As saídas de David de la Cruz e de Joe Dombrowski foram mais do que compensadas com George Bennett e Marc Soler, um corredor mais consistente e outro mais intermitente, respectivamente.
Alexander Kristoff é uma baixa de peso para as clássicas, mas Pascal Ackermann é uma aquisição excelente para os sprints, enquanto Alvaro Hodeg até pode entrar para uma perspectiva de lançador. O mítico Marco Marcato retirou-se e também saíram alguns ciclistas sem grande peso na estrutura, como Alexandr Riabushenko e Cristian Munoz, enquanto Valerio Conti queria mais oportunidades e Sven Erik Bystrom acompanha o seu compatriota. Felix Gross entra numa perspectiva de futuro, enquanto podemos considerar que Alexys Brunel compensa de certo forma o lugar de Bystrom.
O que esperar em 2022?
Em termos hierárquicos a equipa subiu em 2021 e quer voltar a ascender em 2022, possivelmente para o pódio. O objectivo passou por reforçar as segundas linhas, e é nessa perspectiva que a contratação de João Almeida entra, a UAE Team Emirates não tinha uma alternativa que considerava segura para as Grandes Voltas e o português dá isso mesmo para além dos seus desempenhos nas corridas de 1 semana. O calendário de Pogacar e de João Almeida deve ser mais reduzido e cirúrgico do que em 2021, como o Giro a ficar para o corredor das Caldas e Pogacar a ir ao Tour e à Vuelta tentar a dobradinha, sendo que a Vuelta deve ser a estreia em Grandes Voltas do muito promissor Juan Ayuso, do qual esperamos ver já algumas vitórias ao mais alto nível.
Pogacar vai também fazer 4 dos 5 Monumentos, nos quais deve ser acompanhado por um Marc Hirschi do qual ainda se espera o mesmo nível de 2020. Em termos de sprinters sai Kristoff, mas Ackermann neste momento dá muito mais garantias em termos de finais em pelotão compacto, ao passo que Kristoff era melhor nas clássicas. Trentin terá liderança total nas clássicas, Hodeg deverá entrar para lançador e Soler e Bennett são potencialmente excelentes gregários para a montanha.