Aproximamo-nos do topo da tabela, onde começa a ser complicado ver pontos negativos. A formação liderada por Patrick Lefevere somou quase 50 vitórias e ainda assim esteve uns furos abaixo de temporadas anteriores, onde alcançou sempre mais do que 60 (excepto em 2020). Fica na retina a conquista de 1 Monumento e de 1 Grande Volta.



 

Os dados

Vitórias: 47, um número bem abaixo face a 2018, 2019 e 2021, ainda que bem positivo, principalmente tendo em conta que 1 das estrelas da equipa passou muito tempo lesionado e que houve muita qualidade nas vitórias.

Pódios: Um total de 110, o número impressiona e é preciso realçar também a variedade de ciclistas que os conquistam.

Dias de competição da equipa: 261 dias, foi uma equipa que correu com algum critério.

Idade média do plantel: Um total de 29,2 anos, tiveram 8 ciclistas abaixo dos 24 anos e veteranos bem veteranos.

Mais kms: o maratonista foi o classicómano Florian Senechal, não chegando aos 12 000 kms.

Melhor vitória: Tem de ser todo o trabalho realizado para conquistar a Vuelta, algo praticamente inédito nesta estrutura, e para isso contou com o génio de Remco Evenepoel.

 

O mais

Remco Evenepoel foi para mim o melhor ciclista do ano e praticamente levou a Quick-Step ao colo, mesmo com todos os pontos que somou a equipa não conseguiu ficar no top 5, o que diz bem do seu super rendimento e do sub rendimento de outros corredores. Entre tantos sucessos conquistou a Vuelta (com uma limpeza e clarividência surpreendente), a Liege-Bastogne-Liege com um ataque de longe e ainda se sagrou campeão do Mundo quando todos sabiam que ele ia fazer o que fez. Isto tudo depois de há 2 anos se falar que tinha a carreira em risco devido à queda no Giro di Lombardia.

Para o sucesso de Evenepoel foi crucial o compatriota Ilan van Wilder, um corredor também muito promissor e com características semelhantes, bom rolador, bom contra relogista e capaz de se defender bem na montanha. Há outras notas positivas, o aparecimento em alguns sprints de Ethan Vernon, as actuações pontualmente brilhantes de Andrea Bagioli e o suíço Mauro Schmid fez globalmente uma excelente época apesar de ainda se estar a definir como ciclista.



É inevitável mencionar o esperado regresso pleno de Fábio Jakobsen após uma queda que lhe colocou em risco a própria vida. É verdade que não foi uma temporada plena, mas vê-lo novamente a este nível foi um regalo para os olhos.

 

O menos

É um pouco antagónico mencionar tantos ciclistas aqui, é tudo uma questão de padrões e perspectiva, é preciso ver que a Quick-Step habitualmente fica no pódio destas classificações, o que aconteceu este ano? Vários ciclistas em sub-rendimento. Honestamente não se pode pedir muito mais a corredores como Julian Alaphilippe, repleto de problemas físicos, e a Mark Cavendish, que com 37 anos ganhou 5 corridas, inclusivamente 1 etapa no Giro.

A maior desilusão, aliás foi mesmo a minha eleição na Desilusão do ano, foi Florian Senechal. Mas não só, toda a equipas de clássicas da Quick-Step esteve muito furos abaixo do pretendido e isso só não é mais escamoteado por Remco Evenepoel sacou uma Liege-Bastogne-Liege quase do nada. Stybar já não conta para este totobola dos líderes de clássicas, mas é um facto que Florian Senechal, Yves Lampaert e Kasper Asgreen andaram todos bem pior do que em 2021 e não conseguiram segurar os monstros que são Wout van Aert e Mathieu van der Poel e ainda o poderio colectivo da Ineos-Grenadiers por exemplo.

Mikkel Honoré ainda deu um ar da sua graça no final do ano, ainda que muitos furos abaixo do que realizou em 2021, onde andou o ano todo a disputar corridas e há mais trepadores que desapontaram, começando logo por Mattia Cattaneo. É incrível como mal se viu o italiano em 2022, depois de ter sido 12º no Tour em 2021, foi um apagão completo. Louis Vervaeke sacrificou muitas das ambições pessoais em favor de Remco Evenepoel e Fausto Masnada também trabalhou para o prodígio belga na Vuelta, ainda que tenho tido chances de brilhar e não aproveitou quase nenhuma no World Tour. Nota ainda para Mauri Vansevenant, não andou mal, mas já se espera mais dele.



 

O mercado

Foi uma época de muito poucas mexidas, a mais sonante é a troca de sprinters que faz todo o sentido, sai Mark Cavendish aos 37 anos e entra o belga Tim Merlier, belga e 7 anos mais novo. São homens rápidos com características muito semelhantes, são ambos puros sprinters e não passam bem a montanha. Entra também Casper Pedersen, que é uma possível ajuda aos comboios, o dinamarquês tem potencial para suceder a Michael Morkov e ser um lançador de elite. A contratação de Jan Hirt é cirúrgica, o checo é incrível na alta montanha das Grandes Voltas e deverá estar ao lado de Remco Evenepoel nos momentos mais complicados. Em relação a saídas, a de Mikkel Honoré foi inesperada, só que o dinamarquês estava a ver que não teria oportunidades nas clássicas das Ardenas.

 

O que esperar em 2023?

Espero uma Quick-Step a voltar ao pódio das melhores equipas do ano. No entanto, vai ser muito complicado para Remco Evenepoel replicar o que alcançou, não em termos de pontos, mas em termos de grandes vitórias. Será mais marcado nas clássicas e no Giro os adversários vão certamente tentar explorar as debilidades do belga, lembrando que a alta montanha italiana é bem diferente da espanhola…

Para reconquistar espaço internacional, os comandados de Patrick Lefevere precisam de um Alaphilippe bem afinado, capaz de fazer parelha com Evenepoel nas clássicas e de abrilhantar o Tour na companhia de Jakobsen, que tem tudo para melhorar face a 2022.



No empedrado, é complicado fazer pior do que este ano, notou-se principalmente a falta do melhor Asgreen, que me parece ser o único capaz de ombrear com os aliens. Não me admiraria de ver Merlier a ganhar mais de 10 corridas em 2023, o belga tem potencial para isso com um comboio mais poderoso. Mauro Schmid será com diabo à solta e deveremos contar com um Remi Cavagna mais próximo do seu nível habitual.

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