Dias e semanas no ciclismo é uma eternidade, as ideias mudam muito rapidamente e o contexto em que estas se decidem também. Em 2020 Remco Evenepoel tinha o Giro como um dos grandes objectivos, só que a estrada trocou-lhe as voltas e em vez disso o belga assistiu em casa a uma prova exímia de João Almeida por causa de uma violenta e grave queda sofrida no Giro di Lombardia.
O ciclista português, na sua primeira temporada no World Tour, agarrou a oportunidade com unhas e dentes e andou 2 semanas com a camisola rosa, terminando num incrível 4º posto da classificação geral. O prodígio belga enfrentou uma dura recuperação pela frente, com imprevistos novamente pelo caminho e só voltou a pegar na bicicleta no início deste mês.
O plano inicial da Quick-Step era levar Evenepoel e Masnada ao Giro, Alaphilippe e Bennett ao Tour e João Almeida como líder na Vuelta, mas Patrick Lefevere já tem outras ideias por causa do atraso na recuperação de Evenepoel. Em declarações ao meio de comunicação belga “rtbf”, o jovem belga disse que se tudo continuar a correr desta forma irá ao Giro, mas sem qualquer tipo de ambição, sem objectivos, e que o Giro irá servir essencialmente de preparação para o Verão, onde aí sim, terá verdadeira ambição de vencer grandes corridas. Para além disso, deverá ir ao Giro sem correr qualquer outra prova antes.
Ora, tendo isto em conta, Patrick Lefevere, o máximo responsável da equipa belga, sabe muito bem que Evenepoel não será favorito a nada. E também numa entrevista concedida ao “rtbf” deixa a porta mais que aberta a que João Almeida seja novamente líder na prova italiana. “No papel é um percurso bom para o Remco, mas com tudo o que aconteceu desde a queda temos de ser cuidadosos, o Giro será a primeira prova, portanto veremos. Fizemos uma adaptação à nossa estratégia por assim dizer, o Remco não irá como líder, penso que iremos nomear o João Almeida como líder. É preciso não esquecer que, praticamente como neo-pro, vestiu a camisola rosa durante 15 dias, antes de terminar em 4º na geral. Iremos apostar nele.”
O percurso do Giro foi relevado esta semana, com muita montanha, mas também com 38 kms de contra-relógio individual, que são bastante favoráveis a João Almeida. Tendo em conta o que o ciclista português fez em 2020, tem tudo para partir com ambições legítimas, com a noção que terá de enfrentar concorrência de peso, como Egan Bernal, Emanuel Buchmann, Mikel Landa, Vincenzo Nibali, Romain Bardet, Aleksandr Vlasov, ou Hugh Carthy. A Quick-Step tem condições de apresentar um bloco muito forte junto de João Almeida, com Fausto Masnada, Mattia Cattaneo, James Knox, Andrea Bagioli, Pieter Serry e, possivelmente, Remco Evenepoel.