Tudo o que poderemos contar sobre o desenrolar da corrida será irrelevante tendo em conta os últimos 400 metros da mesma. Para contexto, 21 de Março de 2009, 298 quilómetros para percorrer na 100ª edição da Milano-SanRemo e uma constelação de sprinters à partida, sedentos de glória, aproveitando a ausência dos últimos 2 vencedores desta corrida: Fabian Cancellara e Oscar Freire.
Grandes nomes como Boonen, Hushovd ou Petacchi eram favoritos, sabiam bem como ultrapassar as dificuldades desta corrida. A grande incógnita chamava-se Mark Cavendish, a estrear-se neste Monumento, era já considerado o melhor sprinter do Mundo, depois de ganhar 4 etapas no Tour de 2008. Incógnita porque Cavendish nunca foi conhecido por passar bem a montanha.
O britânico chegava com 5 triunfos (2 no Tour of Qatar, 2 na Volta a Califórnia e 1 no Tirreno-Adriatico) e numa HTC High Road focada nele. Neste ano Cavendish somou nada mais, nada menos que 23 tirunfos, 3 deles no Giro e 6 no Tour, um domínio avassalador. O que é certo é que passou a montanha e estava lá para discutir o sprint, mas apenas com George Hincapie como apoio.
Hincapie trabalhou muito, até ao limite, e quando saiu da frente do grupo aproveitou Heinrich Haussler para surpreender, ganhando alguns metros sobre toda a gente. Cavendish foi obrigado a perseguir o alemão (na altura) e recuperou 2 bicicletas de distância nos 150 metros finais para somar o seu único Monumento da carreira, em pleno auge.
Haussler, na Cervelo Test Team, estava supostamente a lançar Thor Hushovd, mas com tanta gasolina ainda no tanque, decidiu tentar a sua sorte e ia alcançando o sonho. Curiosamente, aos 36 anos e agora com a nacionalidade australiana, cruza-se com Mark Cavendish na Bahrain-McLaren. 2009 foi, de longe, o melhor ano da carreira. Ainda foi 2º no Tour des Flandres, 6º no Paris-Roubaix e ganhou no Tour. Depois foi afectado por lesões, ele que confessou nunca se ter esquecido destes escassos centímetros depois de 300 kms de esforço.