A temporada de 2022 prepara-se para ser absolutamente decisiva para algumas equipas, que se preparam para atacar a época que aí vem … de calculadora na mão! Isto porque correm o risco de perder a licença World Tour para 2023, caso tenham um desempenho desportivo bastante fraco.

A questão foi levantada pelo CyclingNews há uns dias, mas hoje vamos aprofundar mais essa temática. Na última reformada implementada pela UCI, o organismo que rege o ciclismo mundial, ficou estabelecido que a atribuição das licenças World Tour seria feita em triénios. No caso, as licenças emitidas no final de 2019 seriam válidas para 2020, 2021 e 2022, sendo que no final de 2022 haveria nova avaliação, ano em que já nos encontramos. Na teoria essa atribuição de licenças funciona sob vários critérios, mas na prática, desde que as equipas queiram e cumpram os requisitos éticos e financeiros, apenas a parte desportiva, do ranking, conta.




Começámos o triénio com 19 equipas World Tour e acabamos com 18, e serão emitidas 18 licenças para o triénio 2023-2025, a não ser que a própria equipa queira que a licença seja por menos tempo. Sim, houve mudança de equipas no World Tour durante este triénio, isso aconteceu porque a Intermarche-Wanty-Gobert adquiriu os direitos de licença da CCC Team, entretanto extinta. Entretanto a UCI também estabeleceu que a melhor ProTeam do ranking UCI por equipas pode ir à corridas World Tour que quiser, um prémio bem apetecível e que a Alpecin-Fenix tem aproveitado na sua plenitude.

Portanto, na prática, o único critério para uma equipa estar no World Tour é o desportivo, desde que cumpram tudo o resto. Irá basear-se na soma de pontos das equipas candidatas no UCI World Ranking dos anos 2020, 2021 e 2022. O que conta é a classificação por equipas, que é calculada pela soma de pontos dos 10 ciclistas de cada equipa com mais pontos nessa época. Como exemplo, a Quick-Step ganhou o ranking UCI por equipas de 2021 com 15681 pontos, graças aos pontos de Alaphilippe, Almeida, Evenepoel, Asgreen, Honore, Senechal, Cavendish, Lampaert, Masnada e Jakobsen, os 735 pontos de Sam Bennett já não entraram para estas contas porque só contam os 10 ciclistas da equipa com mais pontos.



Por falar em contas, fomos fazer as contas e ver que equipas estão verdadeiramente em risco e que temporada mais contribuiu para isso. Este é daqueles rankings em que o topo conta pouco, o que interessa mais é quem está na “linha de água”. Aparentemente há 20 equipas para 18 lugares, mas assinalámos a vermelho a Alpecin-Fenix porque em princípio a melhor Pro Team dos últimos anos quer continuar com este estatuto e “aproveitar-se” do sistema instalado, sendo uma equipa World Tour honorária, que só vai às competições que quer, por incrível que pareça está na 9ª posição neste ranking.

Na luta pela manutenção no World Tour estão então 7 equipas para 6 lugares, aquelas assinaladas a laranja, partindo do princípio que a Alpecin-Fenix quer continuar assim. Entre BikeExchange (13º) e Lotto-Soudal (19º) há 1737 pontos, mas na verdade a luta é mais entre Arkea-Samsic, Cofidis, Wanty e Lotto-Soudal, só com uma época terrível Movistar, BikeExchange e Israel Start-Up Nation entrariam nesta luta fratricida. Destas 4 mais em luta directa as 3 que estão no World Tour querem lá continuar e a Arkea-Samsic ( de Quintana e Barguil) já mostrou intenções de querer subir.




Lotto-Soudal – Vai ser potencialmente uma época do tudo ou nada e sabem disso. Estão em maus lençóis porque dos 10 ciclistas que mais pontos fizeram em 2021 perderam 4 (Degenkolb, van der Sande, Oldani e Thijssen). E só contrataram 1 com capacidade de fazer muitos pontos, Victor Campenaerts. Confiam que Caleb Ewan deixe para trás os azares do ano passado e salve a equipa de uma despromoção e possivelmente do fim da mesma, já que significa a perda de interesse dos patrocinadores na equipa e a Soudal já está de saída para 2023. Precisam da melhor época de sempre do “Pocket Rocket” e do despontar de 2 ou 3 jovens talentos.

Intermarche-Wanty-Gobert – A saída de Danny van Poppel após uma grande época foi compensada com a entrada de Alexander Kristoff, ainda capaz de somar muitos pontos para estes rankings. Também perderam Odd Eiking, mas está época de esperar que Biniyam Ghirmay comece a mostrar todo o seu talento e que Gerben Thijssen se afirme como uma alternativa nos sprints. É daquelas estruturas que, pelos patrocinadores que atraiu recentemente precisa de se manter no World Tour.

Cofidis – Sabem perfeitamente o que está em jogo e por isso mesmo apressaram-se a atacar o mercado quando perderam Laporte e Viviani, 2 das maiores figuras da equipa. Contrataram Bryan Coquard e Davide Cimolai, 2 sprinters que não ganham muito, mas são muito consistentes, passam bem a montanha, e por isso conseguem muitos top 5. Ion Izagirre foi o bónus e um líder para provas de 1 semana, podendo ser essa a salvação da formação gaulesa.



Arkea-Samsic – Seria um grande coelho tirado da cartola, uma espécie de assassino silencioso dentro desta história, e tendo em conta que dos 10 ciclistas que mais pontos fizeram em 2021 apenas perderam Bram Welten, podem mesmo fazer este truque de Houdini. Principalmente porque para o seu lugar entrou Hugo Hofstetter, um ciclista que até vem com mais pontos feitos em 2021 que o holandês (623 contra 735) e que na Israel até estava um pouco tapado. Querem ir ao Giro, mas até podia ser vantajoso a médio prazo falhar esta Grande Volta para somar pontos em corridas menores e desgastar menos certos ciclistas do plantel.

Fizemos uma projecção caso os ciclistas do plantel deste ano destas 4 equipas fizessem os mesmos pontos de 2021 e o resultado foi este:

 

É uma competição de regularidade, onde as corridas World Tour obviamente têm mais peso que as dos calendários Continentais, mas é aí que tudo se pode decidir, especialmente nas clássicas. É que uma vitória numa corrida 1.1 dá quase tantos pontos como um triunfo numa etapa do Tour, e estas últimas estão “bem mais caras” no mercado. O que significa que esta época podemos ver estas equipas que estão na luta a apostar muito mais em provas menores, levando elencos bem mais fortes do que o normal aí, e também poderemos ver alguma marcação cerrada na segunda metade da época, bem como esta formações activamente a lutar por lugares mais secundários.

Em relação à atitude de algumas equipas, John Lelangue, director da Lotto-Soudal, já veio referir que não vão alterar a sua forma de correr por causa dos pontos e que vão continuar a pensar em vitórias, apesar de ser a formação na situação mais delicada, já que também se preparam para perder um dos patrocinadores para a Quick Step. O responsável da Arkea diz que está fora de questão comprarem uma licença e que querem subir pelo mérito desportivo, ou seja, por este ranking. Da parte da Wanty sabem a importância do World Tour, tendo atraído patrocinadores importantes como o Intermarché recentemente depois de garantida a presenças em todas as corridas do Mundo com mais visibilidade.

 

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