No ciclismo sabemos que geralmente onde há fumo, há fogo. E parece ser esse o caso da saída de Primoz Roglic da Jumbo-Visma. O esloveno tem sido apontado a várias equipas nos últimos dias, não obstante ter contrato para 2024. Vamos recapitular um pouco o que deu origem a esta situação e aquelas que são, na nossa opinião, as opções mais viáveis para o vencedor do último Giro.
Não sabemos se houve descontentamento prévio, mas o que despoletou isto tudo foi a recente Vuelta. Primeiro pelo facto de ter sido prometida a liderança da equipa a Roglic. Depois a equipa optar por também levar Vingegaard, e, por fim, Sepp Kuss ganhou uma vantagem importante numa fuga e ficou com a camisola vermelha. Após alguma polémica, a Jumbo-Visma optou por parar com eventuais ataques internos e tentar manter a ordem na geral (Kuss, Vingegaard, Roglic).
Primoz Roglic foi o mais vocal a dizer que não compreendia muito bem a situação, mas que iria cumprir com as directrizes da formação neercandesa. Dias depois, o Wielerflits lançou uma espécie de rumor-bomba. Estaria a caminho uma possível fusão entre Jumbo-Visma e Soudal-Quick Step, formando assim uma mega estrutura e mitigando a possível perda de patrocinadores de ambas. Começou logo a questionar-se: como é que se conseguiria conjugar os interesses de Vingegaard, Evenepoel e Roglic? (com Kuss, van Aert, Kooij, entre outros à espreita). Este rumor, entretanto, foi desmentido por Patrick Lefevere, responsável máximo da Quick-Step e realmente não nos parece uma possibilidade para 2024 por causa do número de ciclistas, mas pode ser uma realidade para 2025.
Desta forma, também se adensaram os rumores sobre uma saída de Primoz Roglic, claramente não haveria espaço para os 3. É preciso ver que o esloveno não vai para novo, aos 33 anos já conquistou a Vuelta por 3 vezes e este ano ganhou o Giro. Não tem tempo para oportunidades desperdiçadas e quer ter ainda uma chance de lutar pelo Tour, corrida que não acabou em 2021 e 2022 e que esteve tão perto de ganhar em 2020. Certamente que nesta reflexão interna ele se debateu com esta questão: quem não parte como líder para uma corrida está mais longe de a ganhar, mas quem está fora de uma estrutura como a Jumbo-Visma também está mais longe de ganhar corridas, tal é o domínio que existe às vezes. Daí muitas vezes os ciclistas sacrificarem lideranças quase incontestáveis para ingressarem na formação neerlandesa. Veja-se o caso de Matteo Jorgenson que saiu da Movistar onde chefiava a equipa espanhola em várias provas importantes.
As diversas fontes e informações dos meios de comunicação internacionais apontam para o mesmo, a saída de Primoz Roglic parece certa, resta saber para onde. Certamente na cabeça do esloveno estará algum sentimento de ingratidão, em parte foi ele que ajudou nesta ascensão inicial da Jumbo-Visma a nível internacional. Nós não temos informações privilegiadas nem nada de novo, vamos tentar desenhar o quadro mais plausível dentro disto tudo.
A primeira equipa apontada como destino de Primoz Roglic foi a Lidl-Trek. Este rumor já foi desmentido pela própria equipa, que teve um grande aumento orçamental para 2024 e que o usou na contratação de Tao Hart e de um bom bloco de montanha. Até já foi falada a UAE Team Emirates, mas no caso de Roglic seria até uma possível perda de protagonismo, também estará fora das cogitações. Dentro das principais estruturas a nível internacional o Cyclingnews contactou a Jayco AlUla e a Bahrain-Victorious que negaram um acordo. A BORA-hansgrohe foi associada ontem mas dificilmente terá capacidade financeira neste momento para o esloveno. A Israel-Premier Tech, na teoria, teria a parte financeira, mas não o projecto desportivo, pois esta não é uma fase da carreira em que Roglic iria para uma ProTeam.
Desta forma, creio que neste momento há 3 portas abertas para Primoz Roglic e a primeira será a da Movistar. Hoje, o Nieuwsblad indica que é uma de 2 possibilidades, que o agente indicou às equipas interessadas que está no mercado e que a Jumbo-Visma concorda com a saída dele, mas que terá de haver lugar a indemnização. A equipa espanhola faria sentido em alguns pontos. Tem história, tem orçamento depois da contratação falhada de Carlos Rodriguez e ainda tem vagas no plantel (ainda esta semana a imprensa espanhola avançou que só terão 27 ciclistas com contrato para 2024). Seria líder incontestado a par de Enric Mas, o grande ponto negativo é a falta de um bloco de montanha para as Grandes Voltas e Roglic parece precisar disso, para o ajudar nos dias maus e para preparar terreno pensando no ataque a bonificações.
O diário belga Nieuwsblad fala hoje também novamente na Lidl-Trek. Será que o incremento orçamental ainda chega para Roglic? A formação norte-americana tem apostado em força nas Grandes Voltas, em que posição ficam Mattias Skjelmose e Tao Hart depois de receberem a confiança da equipa e posteriormente verem Roglic a entrar? A vantagem para o esloveno é que é uma estrutura em crescimento, um pouco como era a Jumbo-Visma quando ele começou a ganhar e com Mollema, Verona, Lopez, Ciccone e Konrad até tem um bloco bem interessante.
Por fim, a INEOS Grenadiers. Esta tem sido a equipa que mais se falou nos últimos tempos como destino de Roglic. Orçamento não falta, a formação britânica tem um dos maiores do World Tour e sabe-se, também, que procuram desesperadamente um líder para as Grandes Voltas. Já tentaram Remco Evenepoel sem sucesso, e esta semana sabe-se que perguntaram por … Tadej Pogacar. Jim Ratcliffe está decidido em colocar a INEOS novamente no topo e nada melhor do que fazê-lo com Roglic, um ciclista que dá garantias. Geraint Thomas já não caminha para novo, Egan Bernal nunca mais deverá atingir o nível de quando venceu Grandes Voltas, Tom Pidcock ainda é um projeto em construção, sobra apenas Carlos Rodriguez. O espanhol é a maior certeza da equipa, ainda muito jovem pode ser dada a liderança no Giro e/ou na Vuelta, com Roglic a ficar com o Tour. Para o esloveno de 33 anos significa manter-se no topo, numa equipa que está habituada a lutar e vencer Grandes Voltas e que continua a ter um bom bloco na montanha.