Esta semana o Mundo do desporto ficou embasbacado. No meio de um grande evento desportivo, os Campeonatos do Mundo de Esqui em Seefeld, na Áustria, a polícia austríaca montou uma gigantesca operação anti-doping.
Foi na manhã de dia 27 de Fevereiro que tudo irrompeu, com cerca de 1 dezena de pessoas a serem presas, já que na Áustria o consumo de substâncias sopantes é um crime e pode dar prisão. Algumas das pessoas detidas eram mesmo atletas do esqui alpino (os austríacos Max Hauke e Dominik Baldauf, o cazaque Alexey Poltoranin e 2 esquiadores da Estónia). Para além dos atletas, foram também presos vários médicos, numa operação que se estendeu à Alemanha. Um desses esquiadores, Max Hauke, foi mesmo apanhado em flagrante detido, tinha prova à tarde e foi interrompido no meio de uma transfusão sanguínea de manhã. As imagens foram divulgadas e entretanto apagadas pela polícia austríaca.
Esta não era a primeira vez que as equipas de esqui de fundo da Áustria se viam envolvidas em escândalos de doping. Nos Jogos Olímpicos de Turim 2006 houve um raid parecido com este, 9 atletas acusaram positivo, foi descoberto material dopante, como seringas, e alguns foram mesmo banidos para a vida. Também nas Olimpíadas de Sochi, em 2014, o esquiador Johannes Durr acusou positivo a EPO.
A imprensa austríaca refere mesmo que foi a entrevista dada por Johannes Durr em Janeiro deste ano a um canal alemão que despoletou toda esta investigação. O atleta austríaco decidiu colaborar plenamente com as autoridades para desmontar uma complexa rede de dopagem que envolve não só o esqui. Durante essa extensa entrevista foram revelados pormenores e procurou-se entrar na mente de quem consome este tipo de substâncias.
Quando este escândalo e os seus detalhes foram conhecidos houve logo algumas ligações possíveis de se fazer ao ciclismo. Um dos médicos envolvidos e um dos “cabecilhas” do grupo passou pela Milram e pela Gerolsteiner, há cerca de 10 anos, coordenando o departamento médico. A imprensa local revela mais detalhes desta operação hoje, nomeadamente a prisão de Stefan Denifl, que também estará envolvido nesta rede.
O ex-ciclista austríaco, que tinha contrato que a CCC Team para 2019, contrato esse que foi rescindido por mutuo acordo e de forma inusitada nos últimos dias de 2018, confessou o uso de substâncias dopantes, nomeadamente “doping sanguíneo”, baseado em transfusões de sangue. Denifl terá sido colocado em liberdade depois de ter confessado e de se ter comprometido com as autoridades a desmontar esta complexa rede, que terá mais de 40 utilizadores na Áustria e na Alemanha. Os nomes deverão ser públicos e conhecidos, como o uso de doping é crime nestes países, o processo passará pelo tribunal cívil.
Stefan Denifl deixou o ciclismo de uma forma muito estranha, aos 31 anos, rescindiu um contrato excelente que tinha conseguido com a CCC Team para regressar ao World Tour. Na altura não foram especificadas razões, sendo que mais tarde Denifl mencionou numa entrevista que tinha sido decisão dele. Especula-se agora que Denifl sabia o que vinha por aí e decidiu por isso não prejudicar a CCC Team. Recorde-se que o austríaco conseguiu uma das vitórias mais espectaculares e inesperadas dos últimos anos, ganhando uma etapa pela Aqua Blue Sport na Vuelta 2017, na altura um verdadeiro conto de fadas.