Uma das entrevistas mais interessantes deste defeso foi concedida por Tim Wellens ao “Het Nieuwsblad“. O experiente belga foi uma transferência surpresa, recrutado pela UAE Team Emirates após 1 década na Lotto-Soudal, assinou por 2 temporadas numa tentativa de recuperar o nível e as sensações que lhe permitiram somar 34 vitórias na carreira até agora. Reconhece que 2019 foi a sua melhor temporada, que o nível dele se manteve enquanto o dos outros se elevou e que mudou de equipa para conquistar grandes corridas. Quer estar em grande forma em Março e Abril, não só em Fevereiro e Setembro como em anos anteriores.
Falando abertamente sobre vários assuntos, Wellens está longe de criticar uma casa que o acolheu tanto tempo e onde foi quase sempre um protagonista, mas “é normal que a UAE Team Emirates seja uma equipa melhor, tem melhores ciclistas, tem o dobro do orçamento”, relembrando que o orçamento da formação chefiada por Tadej Pogacar chega aos 40 milhões de euros anuais, segundo a Gazzetta Dello Sport. Sobre o fenómeno esloveno, vencedor do Tour 2020 e 2021, revela que “já nos cruzámos algumas vezes nos treinos, eu dou-me muito bem com o Michael Matthews, que também é muito amigo dele, mas pessoalmente ainda não tínhamos uma grande ligação.”
Relativamente ao que se vai passar na estrada e ao seu calendário, “vamos fazer muitas corridas juntos, inclusivamente o Tour des Flandres. Vou fazer algumas corridas desse género, mas não todas, a ideia é fazer também as Ardenas e ajudar o Tadej por lá.” Wellens deixou uma posição de liderança para ser gregário numa das principais equipas do Mundo e isso não o incomoda, ” Se estou a correr com o Tadej uma Strade Bianche ou um Paris-Nice claro que me vou sacrificar pelo melhor corredor do Mundo, mas há muitas corridas em que ele não está e gostaria de ter as minhas chances.”.
Wellens revela que não ter a pressão de liderar por um lado é bom e que concorda com Tiesj Benoot quando o compatriota diz que é mais provável ganhar uma corrida correndo na mesma equipa que Wout van Aert do que contra dele. É isso que o corredor de 31 anos procura “Se eu estiver num final com o Tadej tenho mais liberdade para atacar porque todos estão a olhar para ele, no entanto preciso de ter pernas e de provar antes que consigo ganhar.”
Os pormenores mais técnicos são também os mais interessantes e deliciosos. “Em 2019 ganhei 2 contra-relógios porque tínhamos o melhor material graças ao Kevin de Weert. Isso mudou com o seu sucessor Maxime Monfort, na Vuelta terminámos em 3º … a contar do fim. Eu já não conseguia fazer top-10 sequer. A UAE quer vencer o Tour, então há muita atenção a esse material aqui. Como há problemas de produção na China o primeiro material a chegar vai para o Tadej, para o João (Almeida) e para o Juan (Ayuso). Aqui não estou entre as prioridades da equipa, mas sabia disso quando assinei. Em termos de treino estou completamente fora da minha zona de conforto, sinto falta do meu ex-treinador.”
“Agora sou treinado pelo Didac Navarro e a sua forma de trabalhar é completamente diferente. Aqui treino muito mais e a forma de trabalhar é completamente diferente, eles querem sempre que nós estejamos na zona 2 (entre os 65% e os 75%) da frequência cardíaca máxima. Tenho de ir sempre a um ritmo alto no treino sem nunca sofrer em demasia, é esse o objectivo. Basicamente, o treino funciona como um contra-relógio. Não posso treinar mais com outros ciclistas como o Jasper Stuyven porque acham que estou a ir muito rápido e ele até duvida sobre a eficácia deste método.” Questionado sobre se ele mesmo tem dúvidas, responde que “também não sei se é bom, se eu perder capacidade de sprint temos de analisar melhor. Já perguntei ao Tadej, como é que treinas assim e és tão rápido num sprint? Vou dar uma oportunidade, aqui andam todos bem, não só o Tadej.”