A Tudor Pro Cycling Team, formação do escalão ProConti que tem como um dos principais responsáveis Fabian Cancellara, está a ter uma temporada de estreia neste escalão muito bem sucedida. A estrutura suíça conseguiu montar um plantel bem interessante e já conta com 8 triunfos, quase metade deles através do sprinter holandês Arvid de Kleijn. Tem dado provas de ser competitiva ao mais alto nível e tem marcado presença em diversas corridas do World Tour, sempre lutando ao máximo com as armas que tem.

O anúncio feito hoje nas redes sociais mostra que em 2024 as armas para lutar com as restantes estruturas serão de outro calibre e de outra qualidade, mostrando que é das ProTeams com maior poder e orçamento neste dinheiro e ao mesmo tempo com um projecto mais aliciante. Ao todo foram 7 os reforços oficializados, sendo que 6 deles são provenientes do World Tour e 3 deles até já ganharam etapas em Grandes Voltas.




O nome mais conhecido é, sem dúvida, Matteo Trentin, o veterano italiano de 34 anos deixa a UAE Team Emirates onde tinha funções essencialmente de gregário para liderar e capitanear um projecto em ascensão até 2026, numa nova fase da carreira. É preciso relembrar que Trentin é dos poucos ciclistas no activo com triunfos nas 3 Grandes Voltas (1 no Giro, 3 no Tour e 4 na Vuelta) e que ainda é um corredor perfeitamente capaz de bons resultados ao mais alto nível, ainda recentemente fez top 10 em 2 etapas do Tour e pódios em 2 etapas do Dauphiné. Como passa bem a montanha e tem uma boa ponta final, para além de ser extremamente regular, é uma bela garantia de pontos para a estrutura suíça caso queria ambicionar a subida de divisão através desse mecanismo. Para além das provas por etapas é alguém capaz de estar nas fases decisivas das clássicas do empedrado e dos Monumentos, ainda este ano foi 10º no Tour des Flandres.

Não é nada comum ver um ciclista subir ao World Tour, subir nos rankings e impor-se cada vez mais nos sprints, inclusivamente ganhar etapas no Giro 2022 e Giro 2023 e aos 25 anos dar o que na teoria é um passo atrás na carreira e ir para uma ProTeam. Foi este o caminho do poderoso Alberto Dainese, que estava a ver os caminhos a fechar na DSM, a equipa confia em Sam Welsford e prepara-se para possivelmente recrutar Fabio Jakobsen. Diria que Dainese foi um pouco injustiçado na DSM, foi alguém que mostrou progressão ao longo do tempo, já tinha feito uma Vuelta interessante em 2021 e em 2022 cumpriu o objectivo ao ganhar no Giro, sendo que depois foi ao Tour e fez um pódio. Este ano voltou a ir ao Giro e voltou a não falhar, saiu de lá vencedor de uma etapa e como se viu no Tour, o australiano Welsford ainda está uns bons furos atrás do transalpino em termos de fiabilidade. É um ciclista com um potencial tremendo, mas que precisa de trabalhar na regularidade e no posicionamento, é um corredor de grandes vitórias, nos últimos anos tem 2 triunfos, ambos no Giro, não é alguém que some muitos pontos ao longo do ano, mas quando tudo corre bem consegue sacar um grande sucesso.




A Team DSM que deixa fugir mais um talento para a Tudor na figura do alemão Marius Mayrhofer, parceiro de sprints de Alberto Dainese no Giro. Confesso que ao longo da corrida italiana nunca percebi muito bem a escolha da DSM em sprintar com Mayrhofer em vez de Dainese ocasionalmente (conseguiu 4 top 10, nenhum pódio), para mim o germânico é um sprinter bom, mas tem potencialmente devido ao seu peso e potência para ser um excelente lançador e foi mesmo essa a combinação que trouxe mais sucesso, veremos que papel terá na equipa suíça. O jovem de 22 anos teve uma transição complicada entre o escalão junior (onde obteve excelentes resultados) e os sub-23, só em 2023 apareceu entre os melhores com um bom Tour Down Under e um fulgurante vitória na Cadel Evans Great Ocean Road Race.

E porque não há 2 sem 3, também Florian Stork segue o mesmo caminho de Dainese e Mayrhofer e junta-se à Tudor num contrato válido por 3 temporadas. O alemão de 26 anos é mais um corredor que passou pela equipa de desenvolvimento da Sunweb e que posteriormente subiu ao World Tour já com a DSM como patrocinadora. Nos escalões jovens nunca se conseguiu destacar propriamente e a transição para os elites também não correu da melhor maneira. É alguém com altura para ser contra-relogista, mas com peso de trepador e talvez por isso a equipa suíça acredite no seu potencial. Claramente esta é uma segunda oportunidade e se não se destacar aqui dificilmente regressa ao World Tour.

Um grande reforço para as provas por etapas é o australiano Michael Storer, alguém capaz de disputar a classificação geral de uma corrida do calendário europeu e etapas em Grandes Voltas, será mesmo o melhor trepador da equipa. É um talento que a DSM deixou escapar quando finalmente estava a lograr tirar o melhor dele, teve um final de 2021 incrível com a conquista do Tour de l’Ain, 2 etapas na Vuelta e ainda a classificação da montanha na última Grande Volta do ano, estava imparável na alta montanha. Ingressou na Groupama-FDJ onde a espaços mostrou o que era capaz de fazer, especialmente em corridas fora do World Tour como o Tour of the Alps ou a clássica do Mont Ventoux. Na Tudor terá todo o espaço do Mundo e algum apoio na montanha, em provas que não tenham contra-relógio será sempre um candidato aos primeiros lugares.




Porque os sprinters não chegam à linha sem rede de apoio, a Tudor foi buscar o também alemão Alexander Krieger, experiente lançador de 31 anos proveniente da Alpecin-Deceuninck. Ao longo da sua estadia na Alpecin ajudou diversos finalizadores, Merlier no Giro 2021, Philipsen na Vuelta 2021 e Groves no Giro 2023, incrível como esteve tantas épocas no escalão Continental. É previsível que tenha as mesmas funções na Tudor, ajudar Dainese, De Kleijn e Mayrhofer, se a equipa fizer Grandes Voltas deverá lá estar.

O último reforço é o menos conhecido deles todos, outro alemão, na figura de Hannes Wilksch, que este ano está na estrutura sub-23 da Tudor, mas que também ele veio da estrutura da DSM. É  um trepador, um enorme talento que há poucos meses foi 3º no Giro Next Gen apenas atrás de Mittet e Rafferty. Até agora tem mostrado ser alguém muito regular, muito completo e que aparece sempre nas maiores competições no seu escalão, já em 2022 tinha sido 7º no Baby Giro e 7º na Volta a França do Futuro, é um projecto de ciclista a longo prazo, mas que mesmo assim poderá já aparecer a espaços em 2024.

A Tudor Pro Cycling Team terá o elenco para 2024 praticamente fechado, já estão sob contrato 27 ciclistas para a próxima temporada. Primeiramente isto revela um planeamento atempado e eficaz, com ideias claras do que querem fazer. Num olhar inicial é um plantel bem mais forte e completo, que dá garantias de subir o nível de resultados. Têm Storer para a montanha com a ajuda de Reichenbach e jovens como Voisard ou Wilksch a aparecer, têm Dainese e De Kleijn para os sprints, Krieger e Mayrhofer como lançadores e mesmo Zijlaard ou o jovem Changizi podem entrar no comboio. Trentin e Kamp, ajudados por Bohli e Suter serão as maiores cartas nas clássicas, nunca esquecendo o irreverente Simon Pellaud.

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