A UAE Team Emirates provou nesta Volta a França que o bloco existente da equipa para as provas de 3 semanas já é bastante sólido e tem muita qualidade, numa união muito grande em redor da grande estrela que é Tadej Pogacar. Mesmo assim, a aposta é declarada neste tipo de corridas e após a contratação de João Almeida mais um reforço se juntou hoje à formação onde militam alguns portugueses.
A equipa anunciou a contratação de Marc Soler, um dos corredores mais enigmáticos e inconsistentes do pelotão internacional, literalmente capaz do melhor e do pior, um talento em bruto que a Movistar não conseguiu trabalhar e controlar em pleno, todos nós nos recordamos do famoso episódio na Vuelta em que Soler se manifesta publicamente contra ordens da equipa para esperar por Nairo Quintana.
Num país vidrado em ciclismo como é a Espanha, Marc Soler sempre foi visto como um futuro campeão, com muita expectativa, depois de ter ganho a Volta a França do Futuro em 2015. A transição não foi fácil e só em 2017 começaram a aparecer bons resultados em provas World Tour, sendo 3º na Volta a Catalunha e 8º na Volta a Suíça. 2018 foi talvez o melhor ano de Marc Soler pela consistência que apresentou e pela primeira grande conquista, o Paris-Nice.
Graças a isso entrou em 2019 com outro estatuto, que demorou a confirmar, teve uma semi-oportunidade na Vuelta, que terminou em 9º. Depois veio o complicado ano encurtado de 2020, supostamente teria chance de liderar a Movistar no Giro, acabou por trabalhar para os colegas (nem sempre com grande eficácia) no Tour e na Vuelta, vencendo uma etapa na competição espanhola. Nesta época sim, teve essa chance no Giro e até deu boas indicações no Tour de Romandie, foi forçado a abandonar quando estava em 11º da geral. Foi ao Tour tentar ser mais uma ajuda na montanha, foi para casa ao 2º dia devido a lesão.
Na perspectiva do ciclista, esta mudança poderá ser muito proveitosa, principalmente em termos psicológicos. Não terá tanta pressão como na Movistar, não terá as luzes dos holofotes tão em cima dele e isso poderá ser benéfico. Obviamente que deverá ter um papel menos importante em termos de liderança com a presença de Tadej Pogacar e de João Almeida, sabe que os caminhos das Grandes Voltas poderão estar tapados, mas sente-se quase um alívio de Marc Soler com a saída da Movistar, já não teria um relacionamento muito bom com os responsáveis da equipa depois de tudo o que aconteceu.
Ainda deverá ter algumas chances ocasionalmente em provas de 1 semana, um território onde Soler sempre foi forte. Com o estado de espírito certo tem o potencial para ser um excelente gregário, numa equipa que está a apostar forte nisso, tentando criar, em número e qualidade, um bloco tão forte como o da Team Ineos, utilizando a mesma estratégia de atracção deste tipo de corredores.