Depois de na semana passada a Amaury Sports Organization ter apresentado um traçado do Tour que nós consideramos algo desapontante, hoje foi a vez da RCS Sport mostrar como vai ser a 102ª edição do Giro, numa apresentação que contou com o vencedor da edição transata, Chris Froome. E não ficámos desiludidos, há terreno para todos os gostos. Etapas de montanha curtas e longas, etapas de média montanha curtas e longas.
Começando por uma descrição das etapas. Tudo começa com um contra-relógio de 8.2 kms nas ruas de Bolonha e que acaba com 2100 metros a 9.7%, na subida a San Luca. A 2ª etapa é curiosa, sendo classificado como plana, tem 2 subidas algo duras nos últimos 50 kms que podem abrir portas a ciclistas melhores em sprints com grupos reduzidos. Depois de uma etapa essa sim perfeitamente talhada para sprinters temos uma clássica chegada em planalto, com 4 kms a 5%, na 4ª tirada.
Ao 5º dia temos uma ligação muito curta, com 140 kms, mas em que 14 dos primeiros 25 kms são a subir, o que pode ter dinâmicas muito particulares na corrida. Seguem-se 2 etapas de média montanha. Ambas bem longas e com finais traiçoeiras, são daquelas jornadas quase impossíveis de prever, a 2ª com chegada a L’Aquila.
Entramos então na única fase acessível do Giro, uma etapa plana de 235 kms antecede o 2º contra-relógio, com final em San Marino, numa extensão completa de 34.7 kms e que termina com 12.2 kms a 4.5%.
Este será o habitat perfeito para os sprinters, já que de seguida teremos as chegadas a Modena e a Novi Ligure, onde praticamente não se sobe um metro, já olhando para o que aí vem.
Gostamos muito da etapa 12, 144 kms com uma subida de 9 kms monstruosa a 32 kms da meta e ainda uma pequena colina a 2 kms do final, pode haver muito espectáculo. Depois uma enorme chegada em alto, 188 kms com o Colle del Lys, o Plan del Lupo e para acabar 45 kms quase sempre a subir até ao Lago Serrú. A 14ª jornada é terrível mais uma vez, mais de 4000 metros de acumulado em 131 kms, com 4 subidas monstruosas e um final onde é permitido especular.
Antes de daquela que é para nós a etapa rainha deste Giro 2019, temos um mini Giro di Lombardia, 237 kms com final em como e com passagens pela Madonna del Ghisallo, a Colma di Sormano e Civiglio, isto promete!
Vamos então à etapa rainha, um dia onde tudo pode mudar e onde haverá certamente muito medo à mistura. 226 kms entre Lovere e Ponte di Legno, uma maratona que começa com o Passo Della Presolana e o Croce di Salven, antes do Passo Gavia ( que será o Cima Coppi deste Giro). Quem pense que já terminou está muito enganado, pois ainda há o temível Passo del Mortirolo. A etapa termina num falso plano até Ponde di Legno e convida aos ataques de longe.
A etapa 17, com chegada a Antholz/Anterselva parece-nos algo de transição, é de montanha, mas não excessivamente dura, a esta distância diríamos que a fuga deve vingar. Os sprinters têm uma última chance para festejar na 18ª tirada com final em Santa Maria Di Sala.
Depois temos a combinação final de etapas de montanha, totalmente distintas. A primeira é um “multipuerto”, com o Cima Campo, o Passo Manghen (que tem mais de 20 kms), o Passo Rolle e a chegada no Monte Avena, que é mais curto mas bem inclinado. Já na penúltima jornada temos quase um “Unipuerto”, 151 kms para os trepadores fazerem as últimas diferenças em San Martino di Castrozza. Para finalizar há o 3º contra-relógio desta edição do Giro, 15600 metros em Verona, com uma ascensão de 4500 metros a 5% no meio.
Este percurso agrada-nos muito mais que o do Tour. Temos etapas a sério de alta montanha, e o que impressiona mais é mesmo a variedade. Dentro da média montanha principalmente, temos vários estilos, os finais em ligeira subida, as colinas curtas e duras, as subidas algo longe da meta. Na alta montanha temos etapas com somente 1 subida, etapas longas, etapas mais curtas, montanhas encadeadas, há terreno para todos os gostos com subidas míticas pelo meio.
O único aspecto negativo que temos à partida para apontar são os contra-relógios. Já não bastava serem 3 (se fossem 2 os sprinters poderiam ter mais uma chance, que ficava bem), mas são os 3 com um perfil semelhante. Todos eles têm uma subida a meio ou no final que os tornará quase iguais em termos de resultado final. Estão longe de serem bons para os puros especialistas, os trepadores conseguem defender-se, mas acabaremos por ver nomes como Froome, Dumoulin ou Roglic a dominar este tipo de esforço (caso eles alinhem à partida). Uma boa solução poderia ser transformar a última etapa numa jornada plana, em linha e retirar a subida do 2º contrarrelógio. Ainda assim, nota muito positiva para este traçado nesta análise preliminar.