A notoriedade da Volta a Suíça, uma corrida World Tour e que este ano contou com a presença e 2 vitórias do português João Almeida, ofuscou um pouco outras 2 provas por etapas importantes que estavam a decorrer na Europa, a Volta a Bélgica e a Volta a Eslovénia. Estas 2 corridas tiveram um pelotão bem interessante e num contexto altamente competitivo onde a luta pelos pontos UCI World Ranking é constante têm a sua importância, nem que seja numa perspectiva de observar jovens talentos.
A Volta a Bélgica foi uma corrida mais linear, o contra-relógio individual inicial acabou por marcar bastante a classificação geral. Soren Waerenksjold bateu Mathias Vacek, da Lidl-Trek, por 2 segundos, e Rune Herregodts por 10 segundos e a partir daí foi uma luta feroz pelas bonificações, tendo em conta que não havia muita dureza no percurso. Nas 3 etapas ao sprint assistiu-se a um grande duelo entre Tim Merlier e Jasper Philipsen, ficou 2-1 para o ciclista da Soudal-Quick Step, que trouxe um pouco à terra o sprinter da Alpecin-Deceuninck, logo na semana em que saiu o documentário da Netflix sobre o último Tour, onde Philipsen foi dominador nesta categoria.
Falando em bonificações, Soren Waerenksjold contou com a ajuda preciosa da sua equipa na etapa 3 para somar 9 segundos e alargar a vantagem na classificação geral para 11 segundos antes da jornada mais dura. Aí Mathias Vacek, um corredor que tem dado muito nas vistas nomeadamente a ajudar Thibau Nys, tentou romper a corrida de longe, arriscou, recuperou os tais 9 segundos de bonificação, mas no final não conseguiu fazer diferenças de tempo. Aproveitou Alex Aranburu para vencer a tirada diante de Pierre Gautherat e Jasper Philipsen, desta forma Aranburu subiu a 3º e Philipsen a 5º na geral, também pelos cortes de tempo produzidos no final da tirada.
A última etapa foi de loucos, partida e chegada a Bruxelas, uma média superior a 48 km/h e nas bonificações do quilómetro de ouro, Waerenksjold somou 3 segundos enquanto Aranburu somou 2 e Vacek 1. O checo estava a 4 do norueguês na geral e na chegada fez 4º, ficando a centímetros do 3º posto, que lhe daria esses mesmos 4 segundos. Waerenksjold, Vacek, Aranburu, Philipsen, Stuyven, foi esta a ordem da geral. Philipsen ganhou nos pontos, Vacek na juventude e a Movistar foi a vencedora da classificação colectiva, aproveitando para fazer 2 centenas de pontos numa corrida que normalmente não corresponde muito às características dos seus corredores.
A Volta a Eslovénia contou com muita animação e surpresas, onde Dylan Groenewegen foi o primeiro líder, ao superar no sprint Alexander Kristoff e Phil Bauhaus. O alemão da Bahrain-Victorious aproveitou um grupo mais reduzido ao 2º dia para bater Alberto Dainese e Luka Mezgec antes de entrarmos na montanha. Giovanni Aleotti mostrou boas pernas e passou a última dificuldade do dia na frente, depois destacou-se na descida e chegou com 11 segundos de avanço para um grupo de 11 onde estavam alguns dos grandes candidatos à vitória final, incluindo Pello Bilbao, mas já sem Michael Storer, que tinha abandonado no dia anterior.
As teimas foram tiradas na chegada em alto da 4ª etapa, em Krvavec. Pello Bilbao mostrou ser o mais forte ao ganhar vantagem nos metros finais, cruzando a linha de meta com 3 segundos para Paul Double e para Giovanni Aleotti, num grupo onde também estavam Domenico Pozzovivo e Giulio Pellizzari, 2 gerações completamente diferentes. Aleotti partia para a última etapa com 12 segundos sobre Bilbao e 25 para o duo da Bardiani. Com 1,5 kms a 10% já dentro dos 10 kms finais, todos esperavam que o ataque de Bilbao surgisse aí, no entanto o espanhol e a Bahrain surpreenderam e lançaram a sua ofensiva antes. Aleotti teve alguma sorte, a Bora-Hansgrohe contou com algumas ajudas inesperadas e neutralizou o ataque ainda antes da última colina, onde Bilbao já não teve capacidade para fazer diferenças.
Aproveitou Ben Healy para acelerar e lançar-se numa aventura a solo, como é apanágio do irlandês, e desta vez foi bem sucedido, chegando com tempo para festejar face a um pelotão que chegou a 6 segundos dele, liderando por Alexander Kristoff e Orluis Aular, um grupo que tinha 20 unidades. Healy aproveitou para subir a 7º na geral, Cras caiu de 5º para 9º, mas mais importante que isso foi a confirmação da maior vitória da carreira de Giovanni Aleotti, diante de Pello Bilbao e Giulio Pellizzari.